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Ana Paula Contador Packer

Chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente

OpAA82

A sustentabilidade como alavanca para a Agricultura do Futuro
O mundo está em constante transformação, marcado por desafios de insegurança alimentar, energética e hídrica, agravados pelas mudanças climáticas, pela perda de biodiversidade e pela poluição dos ecossistemas. Nesse contexto, a sustentabilidade emerge como um dos pilares essenciais da Agricultura do Futuro e, dentro dessa complexa realidade, se torna vítima e vilã ao mesmo tempo. Então, surge a Agricultura 6.0 – conectada e sustentável, baseada em quatro eixos estratégicos: proteção, manejo, restauração e alta produtividade.
 
A trajetória da agricultura brasileira revela transformações importantes ao longo das décadas. Entre 1960 e 1970, o foco principal era a expansão das áreas produtivas, com grandes avanços na conversão de solos ácidos e pobres em solos férteis. 

Nas décadas seguintes, a tropicalização de cultivares e espécies animais consolidaram a agricultura tropical. Atualmente, vivemos a transição da convencional para o modelo mais sustentável, holístico e multifacetado. Por isso, a Agricultura 6.0 desponta em vários setores, como no bioenergético, onde assume uma posição de liderança.

O Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, lançado em 2007, é um exemplo dessa visão de futuro, com o objetivo de eliminar as queimadas na colheita da cana-de-açúcar, mecanizar o processo e adotar práticas sustentáveis. O protocolo antecipou metas, originalmente previstas para 2021, por meio do incentivo à colheita mecanizada e pela eliminação das queimadas em áreas planas e declivosas.

Além disso, promoveu a conservação ambiental, com foco na preservação de áreas de proteção, restauração de matas ciliares e redução do uso de água. As usinas aderiram voluntariamente ao protocolo, o que resultou na redução das emissões de gases de efeito estufa e no avanço das práticas sustentáveis. A renovação em 2017 estabeleceu novas metas voltadas para a eficiência hídrica e conservação da biodiversidade para ilustrar como a colaboração entre governo e indústria pode promover a sustentabilidade agrícola e fazer do setor bioenergético um dos mais avançados em termos de proteção ambiental.
 
Lidar com os constantes desafios da agricultura exige uma abordagem sistêmica que administre as complexidades de maneira sustentável, responsável e ética. No setor bioenergético, a busca por soluções integradas consolidou as transformações necessárias, materializando os compromissos da Agricultura 6.0, especialmente, com sua contribuição significativa para a produção de energia renovável e biocombustível, como o etanol. A sustentabilidade está no centro das operações desse setor, com diversas iniciativas voltadas à mitigação dos impactos ambientais e à promoção de práticas agrícolas mais responsáveis.

Na transição da agricultura tradicional para um modelo sustentável, descarbonizante, de base biológica e regenerativa, práticas como sistemas integrados, aumento da diversidade de culturas e o plantio direto têm-se destacado por preservar ecossistemas e promover a biodiversidade. O foco crescente na bioeconomia e na economia circular fortalece uma produção mais sustentável e regenerativa. Essas práticas integram a agricultura de baixo carbono, cujo objetivo é mitigar e se adaptar às mudanças climáticas. Nesse contexto, a agricultura brasileira desempenha um papel crucial, se posicionando como um ator importante no cenário global da sustentabilidade.

O Plano ABC+ (Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) e o RenovaBio são duas políticas públicas fundamentais, baseadas em pesquisas, que incentivam a redução de emissões no setor agrícola e de biocombustíveis no Brasil, o que fortalece o compromisso do país com o desenvolvimento sustentável e a diminuição dos gases de efeito estufa. Essas políticas, alicerçadas em evidências científicas robustas, orientam a adoção de práticas mais eficientes, inovadoras e de baixo carbono, a fim de garantir resultados consistentes em termos de sustentabilidade e mitigação climática.

O Plano ABC+ faz parte da estratégia brasileira de agricultura de baixa emissão de carbono, sendo uma evolução do Plano ABC (2010-2020), focado em promover práticas agrícolas sustentáveis que contribuem tanto para a mitigação das mudanças climáticas quanto para a adaptação ao novo cenário climático. Entre as principais ações estão a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), a recuperação de pastagens degradadas, o plantio direto e a fixação biológica de nitrogênio, que não apenas evitam a emissão de gases de efeito estufa, mas também aumentam a resiliência da agricultura frente às mudanças climáticas. 

O Plano tem como meta evitar milhões de toneladas de CO?eq nos próximos anos, com o objetivo de promover uma transição para uma agricultura mais sustentável e descarbonizante.

O RenovaBio, criado em 2017, é voltado à descarbonização do setor de combustíveis no Brasil, pois incentiva o uso de biocombustíveis como etanol e biodiesel. 

Este Programa estabelece metas de redução de emissões para distribuidores de combustíveis, que podem ser cumpridas por meio da aquisição de Créditos de Descarbonização (CBIOs), gerados com base na eficiência energética e na pegada de carbono de cada produtor. Esta política pública tem desempenhado um papel crucial no setor de transportes, já que promove o uso de energias renováveis e substitui os combustíveis fósseis.

Ambos, Plano ABC+ e RenovaBio, são essenciais na estratégia nacional para o cumprimento dos compromissos, assumidos no Acordo de Paris, em relação à economia de baixo carbono e ao avanço para a sustentabilidade nos setores agrícola e energético.  Em complemento a essas iniciativas, temos ainda a Política Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o Programa de Regularização Ambiental (PRA) e o Código Florestal que fortalecem a agenda ambiental do país e impulsionam as práticas de produção mais responsáveis e regenerativas.

Em um cenário global de desafios ambientais, a agricultura brasileira passa por uma transformação profunda e lidera a transição para práticas mais sustentáveis e inovadoras. Portanto, a Agricultura 6.0 surge como uma resposta ao integrar tecnologia, eficiência e sustentabilidade para equilibrar a alta produtividade com a conservação dos ecossistemas.

Nesse contexto, a pesquisa brasileira gera resultados significativos para a sociedade, embasados em ciência, inovação e apoio às políticas públicas. Com isso, o Brasil se consolida como líder global na construção de uma agricultura regenerativa e de baixo impacto, o que reforça sua capacidade de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, como também  promove uma economia de baixo carbono no cenário mundial.