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Maurílio Biagi Filho

Empresário

Op-AA-43

A bioenergia é o caminho

O futuro só será sustentável quando o uso da energia renovável, ainda que mais cara que a fóssil, for amplamente difundido. O jornal Valor Econômico publicou um breve cenário traçado pelo geólogo Jeremy Leggett, um dos maiores especialistas da Inglaterra em energias renováveis, para o futuro das energias fósseis. Segundo ele, é game over: “Se os governos estiverem falando sério em conter o aquecimento da temperatura em 2°C, o risco de se investir em novos projetos de petróleo, carvão e gás é muito grande.

Com o preço de energias alternativas em queda e os investimentos nessas fontes em alta, projetos em combustíveis fósseis se tornam menos atraentes e mais ameaçados. Explorar petróleo em novas fronteiras geológicas, como o Ártico ou o pré-sal, são obras ambientalmente temerárias e com forte probabilidade de se perder dinheiro”. Temos vivido numa montanha russa no Brasil, alternando expectativas positivas e frustrações insuportáveis. A evolução do panorama energético reflete bem essa realidade.

Nossa autoestima oscila de 0 a 100, mas nada me convence de que não podemos ser autossuficientes e campeões mundiais em energias renováveis. Cheguei a uma conclusão, no final dos anos 1990, após fazer uma continha simples, baseada na área cultivada de cana-de-açúcar e no rendimento dos nossos canaviais: “O Brasil possui uma Itaipu adormecida em seus canaviais”.

Essa metáfora rodou o mundo, foi repetida por muitos, parafraseada e aumentada por outros. Houve um momento em que parecia ter sido assimilada. No meio do caminho, porém, o potencial energético do setor canavieiro foi esquecido diante da euforia do pré-sal, e os biocombustíveis, sustentáveis e renováveis, foram deixados de lado. Hoje dá até para entender...

Ao menos, o fundo do poço é um bom ponto de partida, pois delimita perfeitamente o campo de observação e serve de base para novo impulso. Olha-se para cima, e lá está a luz que sinaliza o caminho certo. Com o barril do petróleo nos preços atuais, o pré-sal fica prejudicado. Nosso potencial hidrelétrico é compatível com o eólico, que, por sua vez, é compatível com a energia solar, que não é mais apenas uma promessa e que, por sua vez, também é compatível com a energia de biomassa.

Por outro lado, ainda há um desperdício enorme do potencial de energia renovável, barata e segura. Ainda assim, no ano passado, apenas em São Paulo, a energia do bagaço foi quase 20% da eletricidade total produzida. Isso não representa nem meia Itaipu, mas já é alguma coisa. Vale lembrar que, em 2013, a energia de biomassa no Brasil atingiu uma produção equivalente à geração total que a Usina Belo Monte produzirá a partir de 2019, quando estiver a plena capacidade, e nas águas...

Mesmo passando por uma profunda crise existencial, o setor agroenergético é um caminho seguro para gerar emprego, renda e arrecadação em larga escala, sem depender de tecnologia estrangeira. Pelo contrário, podemos exportar equipamentos e serviços nesse campo. Sem falar que – como já disse uma vez e muitos discordaram – a retomada do setor irá ocorrer por meio do açúcar, que, no passado, dava viabilidade econômica ao etanol e, por incrível que pareça, tem sido o elo mais fraco da cadeia nos últimos anos.

Então, por que insistimos em deixar a bioenergia de lado? Especialistas do mundo inteiro consideram o etanol de cana o mais bem-sucedido programa de combustíveis renováveis, mas as autoridades brasileiras parecem não acreditar nisso. Nesse momento de incerteza, é hora de chamar a atenção do gigante adormecido para seu próprio potencial renovável, rentável e sustentável. Num país rico em terras, clima, gente e experiências tecnológicas de sucesso no campo energético, o que falta?

Vontade. A vontade de fazer a coisa certa com autonomia, bom senso e visão de futuro. É fundamental manter o foco, com competência política e técnica, sob uma liderança única e clara. Proponho, despretensiosamente, que o setor se baseie em um conjunto de ações simples, sem peso individual, mas cujo somatório certamente trará resultados relevantes. Não quero entrar em detalhes sobre essas medidas – duas já aprovadas – para não despertar discussões antecipadas.

Está mais do que na hora de unir forças e abrir um espaço institucional junto ao governo para a discussão de um programa energético racional de longo prazo. O setor precisa organizar-se em torno de uma instituição nacional – como outros setores fazem com sucesso – que traga o consenso das diversas entidades existentes, com penetração política e um plano global audacioso, focado em geração de energia em larga escala, baseado em premissas factíveis, exequíveis e que possam ser aceitas pelo governo.
Faço este artigo para propor algo simples e honesto, fruto da crença no futuro deste administrador de empresas que segue frequentando a escola brasileira de crises e não perdeu a esperança.