Presidente Executiva da Bracelpa
Op-AA-22
Uma grande reviravolta no consumo e no consumidor. A maior negociação climática da atualidade tratará a fundo dessa temática ao traçar o futuro do século XXI e fazer o primeiro esboço de como será o planeta nas próximas gerações. Menor avidez por consumo e maior preocupação com qualidade e procedência dos produtos, opção por menores espaços, porém mais qualificados e utilitários, além de outras mudanças em padrões de comportamento, deverão moldar um novo ser humano e, também, guiar novas políticas e mercados daqui por diante.
O Brasil é um dos principais focos de atenção do mundo na 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP-15, negociação multilateral que tratará de políticas climáticas globais e definirá, para cada país, os limites para a emissão de gases causadores do efeito estufa - GEEs.
O fórum é uma grande oportunidade para o Brasil reforçar seu modelo econômico de baixo carbono, e, nesse contexto, o tripé florestas plantadas, agricultura e bionergia oferece importantes soluções para a mitigação do aquecimento global. Esse argumento tem sido reforçado constantemente pela Associação Brasileira de Celulose e Papel - Bracelpa, em todos os fóruns recentes, nacionais e internacionais, dos quais participa.
Também tem sido abordado pelas 15 entidades setoriais que compõem a Aliança Brasileira pelo Clima - Agricultura - Bionergia - Florestas Plantadas, cuja finalidade é propor ações concretas para as negociações da COP-15, com base na agenda do governo brasileiro. No debate climático, a principal questão para o setor de celulose e papel é mostrar ao mundo a colaboração das florestas na redução dos efeitos do aquecimento global.
Com dois milhões de hectares de florestas plantadas, as mais produtivas e sustentáveis do mundo, esses biomas absorvem e estocam cerca de 64 milhões de toneladas de carbono por ano, ou seja, compensam emissões de GEEs na atmosfera. O número é ainda maior se considerarmos toda a base de florestas plantadas do país, que soma 6,6 milhões de hectares.
Trata-se de uma contribuição impressionante ao clima que as atuais políticas climáticas não valorizam. Porém a COP-15 abrirá oportunidades para o setor mudar esse conceito. Esse é o ponto em que a negociação ganha um viés econômico de impactos globais. Se for favorável às florestas plantadas, os créditos de carbono florestal poderão ser comercializados a empresas para compensar o excesso de emissão de GEEs.
Atualmente, o principal mercado de carbono do mundo, a União Europeia, não considera a absorção de CO2 das florestas como válidos para compensar emissões. O desenvolvimento sustentável com vistas à criação de uma indústria de baixo carbono é algo que o setor de celulose e papel busca há décadas. Dados de 30 anos atrás já confirmam o interesse do setor em melhorar seus processos com a substituição do uso de combustíveis fósseis por renováveis.
A reestruturação da matriz energética reduziu dramaticamente o uso de combustíveis fósseis, que passou de 49%, em 1970, para apenas 6% de sua base, em 2008. Isso quer dizer que, hoje, 94% das fontes energéticas empregadas pelo setor provêm de energia limpa e renovável. Vale acrescentar que os novos projetos, ainda em estudo, devem melhorar o aproveitamento de biomassa em processos como cogeração de energia, aumento da capacidade de queima do licor negro nas caldeiras de recuperação, tratamento de efluentes - evitando a emissão de metano - e projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo - MDL, para resíduos compostáveis e para reaproveitamento de calor.
Outras iniciativas do setor em prol da mitigação das alterações climáticas envolvem altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, publicação e levantamento de um inventário de carbono setorial, venda de créditos de carbono em mercados voluntários, além da criação de uma política eficaz para se reduzirem as emissões de carbono na manufatura dos produtos.
Nos últimos anos, projetos de MDL - sobretudo relacionados à substituição de combustível fóssil por combustíveis provenientes de fontes renováveis, reduziram emissões, geraram créditos de carbono em todo o mundo e permitiram também que os países desenvolvidos compensassem suas emissões comprando créditos do setor de celulose e papel.
O interesse de todo o setor produtivo do Brasil nessa temática é tão grande, que, atualmente, o país ocupa o terceiro lugar em número de projetos de MDL no mundo, com outros 295 em fase de análise. O número só não é maior que o da China e o da Índia, os líderes em projetos registrados, porque a matriz energética brasileira já é, hoje, uma das mais limpas que existe: mais de 40% de seu conteúdo é originado de fontes renováveis.
O Brasil entra na COP-15 com o desafio de vencer a questão do desmatamento ilegal. Porém o patrimônio natural incomparável que coloca o país em posição de soberania para as negociações mostra um saldo ambiental e energético sem precedentes. Ao setor de celulose e papel, que lida diretamente com o principal ativo da economia do futuro - recursos naturais renováveis, que absorvem e reciclam o carbono - cabe assegurar uma posição de destaque nesse novo cenário.