Vice-presidente do World Wind Energy Association
Op-AA-12
Vinte anos após o maior acidente nuclear da história – a explosão de um dos reatores da usina de Chernobyl, na Ucrânia - então parte da União Soviética, que provocou mais de 30 mil mortes por câncer, problemas de saúde em cerca de 100 mil pessoas, transferência de parte da população da cidade - 300 mil habitantes, e um prejuízo de 130 bilhões de dólares – o tema geração de energia elétrica por meio de usinas nucleares volta à tona.
Existe um lobby pró-nuclear para aumentar a geração de energia, através do combustível no mundo, principalmente após divulgação de relatório da International Energy Agency (IEA). De acordo com a IEA, a contribuição da geração nuclear é, hoje, de aproximadamente 17% e deverá diminuir para 7%, em 2030. Em função desta drástica perspectiva do setor, a agência propõe uma série de medidas urgentes para divulgar os “hipotéticos” benefícios de geração nuclear, em países como Brasil, Índia e China.
É bom que se saiba: o mercado de energia nuclear está paralisado na maioria dos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, nenhuma central nuclear para geração de eletricidade foi construída nos últimos 25 anos. Na Europa, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suécia, decidiram fechar as centrais nucleares e apóiam fortemente a geração de eletricidade por fontes renováveis. Aliás, em todos os países onde o mercado de energia é livre, liberalizado, não existe mercado para energia nuclear.
Os custos da energia nuclear não são transparentes, pois representam interesses estratégicos de cada país. Portanto, qualquer afirmação comparativa de custos, entre a fonte nuclear e eólica ou térmica, é falsa, pois nas análises econômicas, os componentes de maior valor não são incluídos. O valor do seguro de uma central nuclear nunca é revelado, pois nenhuma companhia seguradora aceita tal risco. Não existe obra de engenharia de porte sem seguro e a energia nuclear é a única exceção no planeta.
O custo real do combustível – urânio enriquecido, nunca é revelado, por questões de segurança dos países e é altamente subsidiado, principalmente com os enormes gastos em pesquisa e desenvolvimento. Por fim, os custos de armazenamento e manipulação do lixo nuclear, por milhares de anos – sem qualquer segurança, e os valores envolvidos no descomissionamento, que consiste em fechar e isolar a usina, não são computados.
Por estes motivos, na Inglaterra, a British Energy tentou encontrar investidores privados para centrais nucleares e o resultado foi drástico, pois o setor nuclear trabalha com uma análise econômica manipulada. Outro ponto que deve ser analisado é o abastecimento das centrais nucleares, visto que o urânio é finito.
Com o consumo atual do combustível, as reservas estarão totalmente esgotadas em quatro décadas. Mesmo em um cenário otimista da International Energy Agency, onde novas e gigantes jazidas de urânio devam ser encontradas, estas estariam esgotadas em 80 anos.
Argumentos a favor da geração nuclear como melhor forma de combater o aquecimento global não têm fundamento. Para combater o efeito estufa, as fontes de energia devem ser limpas, renováveis e ilimitadas. A geração nuclear implica em um processo intensivo de produção de combustível, que é tão poluente como o petróleo.
No processo de mineração, conversão, enriquecimento, transporte e construção de usinas nucleares existe a emissão de 0,3 kg de dióxido de carbono, por kWh gerado. Em contrapartida, é no Brasil onde está uma das maiores jazidas de vento do mundo, com possibilidade de instalação de mais de 200 mil MW e uma complementação dos regimes hídricos e eólicos “únicos” no mundo.
A energia eólica carrega vantagens de custos transparentes de aquisição de turbinas, operação e manutenção, e tem o poder de atração de indústrias e geração de empregos. Com este potencial, a energia eólica deverá impulsionar o desenvolvimento de diversos segmentos no país nos próximos cinco a dez anos, principalmente os setores metal-mecânica, eletroeletrônica e construção civil. No momento, estão sendo investidos 2,3 bilhões de dólares do setor privado, para a implantação de 1.423 MW de centrais eólicas de grande porte no Brasil, que deverão operar até 2008. Com opções econômicas, limpas, seguras e fabricadas localmente, a energia nuclear não pode ser prioridade para o Brasil.