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Luís Augusto Barbosa Cortez

Coordenador de Relações Internacionais da Unicamp

Op-AA-09

A expansão da indústria alcooleira

A corrida dos países desenvolvidos na busca de alternativas ao petróleo coloca o Brasil numa posição de vantagem, principalmente quando se fala em produção de etanol da cana-de-açúcar –  o país responde por cerca de 40% da oferta mundial de etanol combustível. No entanto, para continuar crescendo, é preciso investir em pesquisa e em infra-estrutura.

O Brasil tem as melhores condições de oferta de terra, clima e tecnologia para a produção de etanol em grande escala. Mas, é necessário que se faça um esforço de investimento em pesquisa e também de coordenação por parte do governo e iniciativa privada, para se investir em novas destilarias e em infra-estrutura de alcooldutos e portos, viabilizando a produção e o escoamento desse etanol aos países desenvolvidos, nossos potenciais compradores.

A motivação dos países desenvolvidos pela busca de biocombustíveis decorre da necessidade de se encontrar alternativas ao petróleo. O mundo já consumiu cerca de metade de suas reservas mundiais de petróleo e o seu preço tem oscilado muito, em função do aumento do consumo de países como a China, que tem adiantado a compra de petróleo no mercado futuro.

Estas questões de oferta e demanda, associadas com a necessidade de diminuir a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa (aumento da temperatura na atmosfera), levam os países desenvolvidos a definirem estratégias, que incluem o maior consumo de biocombustíveis. O Brasil é líder mundial na tecnologia de produção de etanol de cana-de-açúcar.

Isto se traduz pelos menores custos de produção de álcool e também de açúcar. Hoje, o Brasil responde por cerca de 40% da oferta mundial de etanol combustível e esta participação tende a crescer, podendo tornar-se um importante exportador de etanol. Em termos de avanços tecnológicos esperados, destaca-se o melhoramento genético da cana, através da genômica, que poderá ajudar na obtenção de uma cana-de-energia; os avanços no sistema de colheita de cana sem a queima, com recuperação da palha para fins energéticos e o desenvolvimento da tecnologia de hidrólise, que permitirá a obtenção de etanol, a partir da fibra, que representa 2/3 da energia da cana.

Estes avanços permitirão melhorar ainda mais a produtividade global de etanol de cana, que hoje se situa em 6.000 litros de etanol/ha/ano, podendo chegar a dobrá-la nos próximos 20 anos. O Brasil tem que investir mais recursos em pesquisa se pretende manter a liderança mundial nesta área, aproveitando a excelente oportunidade que se coloca para a exportação de um combustível limpo, como é o etanol.

Hoje, reconhecidamente, o etanol de cana é a melhor alternativa à gasolina no mundo. O Brasil é o país com as melhores condições de oferta de terra, clima e tecnologia para a produção de grandes quantidades de etanol. Mas, é necessário que se faça um esforço de investimento em pesquisa e também de coordenação por parte do governo e iniciativa privada, para se investir em novas destilarias e em infra-estrutura de alcooldutos e portos, viabilizando a produção e o escoamento desse etanol aos países desenvolvidos, nossos potenciais compradores.

Pode-se identificar como a principal dificuldade a necessidade de uma ação que viabilize maiores investimentos em pesquisa em cana-etanol. Há necessidade de se criar um fundo, setorial que garanta investimentos nessa área, a exemplo do que acontece com o petróleo. O Brasil é líder nesse campo, mas precisa investir em pesquisa se quiser manter esta liderança. Seria também muito importante que estes recursos em pesquisa fossem realizados de forma coordenada com o setor privado, a fim de garantir que a qualidade desses investimentos seja boa e resulte em benefícios, como redução de custo e aumento da competitividade no setor.

O Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético - Nipe, da Unicamp desenvolve um Projeto junto ao Centro de Gestão de Estudos Estratégicos - CGEE, que visa analisar a expansão significativa da produção de etanol no Brasil, para atender ao mercado mundial. Este estudo prevê o que seria necessário e quais os impactos macro-econômicos da substituição de 5% e 10% da gasolina consumida no mundo, em 2025.

Os resultados deste estudo mostram que o país deve olhar com seriedade esta grande oportunidade que se apresenta hoje para nós. Temos aqui as condições de fazê-lo e seria muito importante uma ação coordenada entre o governo e a iniciativa privada para definir as ações necessárias. O estudo do Nipe revela que, já em 2010, o mercado de etanol será da ordem de 80 bilhões de litros.

A Europa e os EUA estão definindo um importante papel para o etanol, nas suas matrizes energéticas. O Japão também segue a mesma linha. No Brasil, há cerca de 50 novas usinas-destilarias em construção e outras 50 sendo planejadas. Mas, seria muito importante planejar esta expansão, de forma a se maximizar esses benefícios, gerando empregos de boa qualidade e interiorizando o desenvolvimento econômico no Brasil, através de uma melhor distribuição espacial e da geração de importantes excedentes de energia elétrica, com o uso integral dos recursos energéticos da cana-de-açúcar.

Do ponto de vista ambiental, há importantes benefícios resultantes do uso do etanol combustível em substituição à gasolina.Entre os benefícios, talvez, o mais importante seja a redução significativa das emissões dos chamados gases do efeito estufa, principalmente, o gás carbônico (CO2).

Isso decorre do fato de que na sua produção o etanol de cana emite basicamente um CO2 fixado pela fotossíntese, dependendo muito pouco de combustíveis fósseis. É importante também que se ressalte que o mesmo grupo de pesquisas do Nipe está realizando estudos de impacto ambiental da produção de etanol de cana-de-açúcar em larga escala no país, desde a necessidade de terras, até o uso de água e a introdução da cana-de-açúcar em novas regiões no país.