Para abordar este tema, é importante entender primeiro o conceito desses dois tópicos e a relação entre eles. “Valor compartilhado” refere-se à criação de valor econômico de uma forma que traga benefícios sociais e ambientais para todos. É um conceito cada vez mais adotado por grandes empresas e instituições e está diretamente ligado ao conceito de sustentabilidade. De forma mais simplificada, é o famoso “ganha-ganha”.
A transição energética é um processo de mudança de fontes de energia, com o objetivo de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, que já são sentidos em todo o mundo. Este conceito propõe a migração de matrizes energéticas poluentes, como os combustíveis fósseis à base de carvão ou petróleo, para fontes de energias renováveis, como a hidroeletricidade, a eólica, a solar e a biomassa.
Mas você pode estar se perguntando: qual é a relação entre o “valor compartilhado” e a “transição energética sustentável”?
A transição energética sustentável não se trata apenas de tecnologia ou política, mas de como podemos trabalhar juntos para um futuro energético mais limpo. Quando empresas, instituições, governos e comunidades trabalham em conjunto, torna-se muito mais fácil alinhar interesses, tornando esta transição não só desejável, mas também viável.
A transição energética não é apenas uma mudança na fonte de energia, mas é uma mudança na consciência do atual modelo de produção/consumo e do seu impacto nas alterações climáticas e, especialmente, na vida das pessoas.
No Brasil, a transição energética está muito mais evoluída do que no restante do mundo. A matriz elétrica brasileira é 84% renovável, e a matriz energética (que inclui combustíveis) já é 45% renovável. Na maior parte do mundo, o setor de energia é o principal responsável pelas mudanças climáticas. No entanto, no Brasil, quase metade das fontes de energia já é renovável, emitindo muito menos carbono do que o restante do mundo.
A transição energética é necessária e urgente e, embora apresente desafios únicos, também oferece novas oportunidades. Para que essas oportunidades sejam plenamente aproveitadas, é fundamental que a transição seja justa, responsável e gradual, a fim de minimizar o impacto na sociedade.
Diante desse cenário, a união de todos os atores envolvidos e em especial do setor bioenergético é fundamental, pois o setor desempenha um papel importante na produção de biocombustíveis e na geração de energia a partir da biomassa.
O setor bioenergético tem demonstrado cada vez mais maturidade em relação à geração de valor compartilhado e sustentabilidade. Na verdade, essa preocupação com sustentabilidade já fazia parte de suas práticas muito antes de o tema ganhar destaque na mídia. Há décadas, biocombustíveis são produzidos, e resíduos, como a vinhaça, são reaproveitados.
Nos últimos anos, o setor foi além, promovendo a troca de conhecimento e inovando em tecnologias, o que tem diversificado o portfólio, maximizando a eficiência e a rentabilidade. Hoje, é considerado um dos maiores exemplos de economia circular no mundo. Este desenvolvimento do setor só foi possível graças a esta união que gera valor compartilhado para empresas, governos e sociedade.
Um caso recente que ilustra o valor compartilhado gerado por essa colaboração foi observado durante os incêndios que atingiram diversas regiões do país nos últimos meses. Graças à estrutura sólida de prevenção e combate a incêndios, além dos Planos de Auxílio Mútuo (PAM) já implementados pelo setor sucroenergético, foi possível reduzir significativamente os danos em algumas áreas.
A atuação conjunta com governos, instituições e a sociedade ajudou a controlar a situação e evitou que a tragédia fosse ainda maior. Nas pequenas cidades ao redor das usinas, o impacto positivo dessas práticas é sentido diariamente. Além de fomentar a economia local com a geração de empregos e a implementação de projetos socioambientais, as usinas desempenham um papel fundamental em ações como o combate a incêndios em áreas urbanas desassistidas, a manutenção de estradas rurais, o reflorestamento de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a conservação de matas. Essas iniciativas são essenciais para o desenvolvimento sustentável das regiões onde o setor está presente.
Outro exemplo importante de geração de valor compartilhado é a troca de conhecimentos, práticas e experiências que ocorre entre as usinas e com seus parceiros e fornecedores. Através de benchmarking, congressos e seminários, como os encontros realizados pela UDOP – União Nacional de Bioenergia, o setor nivela e dissemina o conhecimento, podendo, desta forma, acelerar a adoção de tecnologias mais limpas, bem como fortalecer toda a cadeia de valor, o que é vital para a competitividade em um mercado crescente de energias renováveis.
Além de seus impactos diretos, o setor também contribui para aumentar a conscientização da sociedade sobre as vantagens do etanol como uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis. Esse trabalho de conscientização, somado ao fortalecimento da cadeia de valor, dá ao setor uma voz mais influente na defesa de políticas públicas que incentivem as energias renováveis, os biocombustíveis e práticas sustentáveis, por meio de incentivos fiscais e apoio à pesquisa.
Com estas e outras iniciativas, o setor bioenergético gera valor compartilhado e pode não apenas contribuir significativamente para a transição energética sustentável, mas também se posicionar como um líder em práticas de produção responsável e inovação em energias renováveis, sendo essencial para enfrentar os desafios climáticos e promover um futuro mais sustentável.