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Giovana Alice Correia Araujo

Analista de Equity Research do Unibanco

Op-AA-19

No meio do caminho tinha uma pedra

As condições adversas do mercado mundial de açúcar foram recentemente revertidas com a mudança de um quadro de superávit para um cenário de déficit de produção e com a recuperação da competitividade das exportações brasileiras, em virtude da desvalorização do Real frente ao Dólar norte-americano e da queda dos fretes internacionais.

Entretanto, novos desafios para o setor sucroalcooleiro do Brasil foram trazidos pela crise dos mercados financeiros globais, dentre os quais se destaca a mudança na dinâmica dos mercados de crédito e a queda dos preços internacionais do petróleo e derivados. A crise de crédito atingiu o setor sucroalcooleiro do Brasil em um momento particularmente desfavorável à indústria, marcado pela baixa geração de caixa e por altos níveis de endividamento.

As margens operacionais do setor foram comprimidas nas duas últimas safras pela combinação de baixos preços do açúcar e do álcool, juntamente com maiores custos de produção. Como a maioria das empresas sucroalcooleiras têm reportado prejuízos operacionais nesse período, os programas de investimento e expansão de capacidade de produção têm sido financiados, em grande parte, por endividamento.

Apesar das expectativas de recuperação da geração de caixa na próxima safra, a maior parte das empresas do setor terá que recorrer ao endividamento para manter o curso dos investimentos, o que coloca em xeque a expansão da capacidade produtiva. Em alguns casos, dado o perfil da dívida e as dificuldades de renovação de linhas de crédito, não só o capex está em xeque, como a própria capacidade de fazer frente aos compromissos.

Não bastassem os riscos derivados desse cenário adverso de crédito, o setor sucroalcooleiro ainda enfrenta os riscos de uma deteriorização dos fundamentos do mercado de álcool combustível, em virtude da queda dos preços internacionais do petróleo e derivados. No plano doméstico, a redução dos preços da gasolina, sem um correspondente aumento da Cide - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, representa o maior risco para o mercado de álcool combustível.

Nesse momento, sob a ótica do governo, os argumentos econômicos a favor de uma redução de preços parecem ter menor relevância que aqueles em prol de sua manutenção. Entretanto, caso os preços internacionais do petróleo e derivados mantenham-se próximos aos níveis correntes por um período prolongado, e na ausência de mudanças significativas na taxa de câmbio, a defesa de níveis elevados de prêmio em relação ao mercado internacional, como os observados atualmente, pode perder força.

O prêmio da gasolina no Brasil, sobre a gasolina no mercado internacional - tomando-se como referência os preços da gasolina convencional no mercado atacadista norte-americano - fechou em 63%, em dezembro do ano passado. Na hipótese de manutenção dos preços da gasolina no Brasil em 2009 e assumindo a manutenção da taxa de câmbio próxima aos níveis de janeiro deste ano, assim como, as projeções do DOE - Departamento de Energia dos Estados Unidos, para os preços da gasolina no mercado atacadista norte-americano para os próximos 12 meses, o prêmio sobre a gasolina no mercado internacional fecharia o ano em 44%.

No plano internacional, mantidas as atuais barreiras de comércio nos principais mercados de destino, assim como os preços do petróleo e derivados próximos aos níveis correntes, espera-se crescimento limitado das exportações de álcool. Caso qualquer dessas premissas deixe de subsistir, o cenário modificar-se-á substancialmente. Nesse momento, a visibilidade quanto à evolução de variáveis, como crédito e preços internacionais de petróleo e derivados, é baixa.

O aforismo “toda a crise traz oportunidades” pode se revelar especialmente verdadeiro no mercado sucroalcooleiro do Brasil. As condições adversas atuais tendem a impactar de forma diferenciada as empresas do setor, ainda muito fragmentado. Alguns grupos podem ser beneficiados nesse processo, seja por oportunidades de aquisições vantajosas, seja pelo fortalecimento da estrutura de mercado, gerado por uma potencial concentração. Apesar das pedras ou em razão delas, o caminho continua.