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Maria Luiza Barbosa

Gerente de Responsabilidade Social Corporativa da Unica

Op-AA-21

As novas tecnologias e a sustentabilidade

A introdução de novas tecnologias é fator de avanço em qualquer setor da economia, e não podia ser diferente no setor sucroenergético, que emprega hoje mais de 840 mil pessoas em todo o país, envolve 70 mil fornecedores e movimenta R$ 45 bilhões de faturamento bruto por ano.

O uso crescente de novas tecnologias nos processos de plantio, colheita e fabricação do etanol e do açúcar, assim como o desenvolvimento de bioprodutos que ampliam a produtividade e reduzem a emissão de gases de efeito estufa - GEE, prometem mudar completamente o cenário do setor e promover ainda mais desenvolvimento de forma sustentável.

Durante o Ethanol Summit, dois especialistas abordaram esse tema no painel “Focando em sustentabilidade: novas tecnologias na indústria de Biocombustíveis”, no qual fui moderadora. Daniel Ibraim Pires Atala, pesquisador do Centro de Tecnologia Canavieira - CTC, falou sobre o processo de fermentação extrativa e sua contribuição para a sustentabilidade do setor.

Trata-se de um processo patenteado, em desenvolvimento no CTC em parceria com a Unicamp, o qual retira o etanol à medida que ele é produzido, eliminando o seu efeito inibidor sobre a levedura durante o processo de fermentação. O novo processo irá operar com uma redução do volume de vinhaça, possibilitar instalações mais compactas e econômicas, reduzir o consumo de água para resfriamento das dornas e diminuir a necessidade de investimento em equipamentos.

O processo extrativo apresentado pelo pesquisador do CTC traz vantagens econômicas e ambientais significativas para o setor. Ele equivale a um processo tradicional com teor de etanol de 20°GL, possibilitando a redução de até 75% da produção de vinhaça, que passa de uma média de 12 litros por litro de álcool, atualmente, para 3 litros/litro de álcool.

A redução esperada é de 20% no consumo de água de resfriamento das dornas de fermentação, e a redução no consumo de vapor para o processo de destilação é de 75%. Esse processo, ainda em desenvolvimento, será acoplado às usinas existentes com pequenas modificações nas instalações. Pelo cronograma do CTC, esse modelo será testado por meio de uma planta piloto a ser instalada no segundo semestre deste ano, com início dos experimentos em 2010, e a instalação de uma planta de demonstração em 2011.

A apresentação realizada por José Luiz Olivério, Vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini, mostrou a evolução ocorrida nas usinas produtoras de açúcar e etanol, assim como as novas tecnologias disponíveis e potenciais para o processamento da cana-de-açúcar nas unidades produtivas, com o objetivo de mostrar seus efeitos na redução das emissões de GEE.

No contexto atual, o mundo está emitindo uma grande quantidade de gases de efeito estufa, provocando o aquecimento global, principalmente pelo consumo de combustíveis fósseis. Nesse sentido, toda solução que proporcione a redução de emissão de GEE deve ser priorizada, visando à viabilidade econômica e à sustentabilidade social e ambiental.

Os novos projetos que estão sendo desenhados pela Dedini procuram destacar a importância da sustentabilidade, através da introdução de bioprodutos, que a empresa denomina de “A revolução 6 Bios” - bioaçúcar, bioetanol, bioeletricidade, biodiesel, biofertilizantes e bioágua, integrando-os de forma que potencialize a viabilidade social, ambiental e econômica.


Essa evolução tecnológica é apresentada por meio da análise do ciclo de vida da produção do etanol, considerando os equivalentes de emissão de CO2 nas diversas etapas do ciclo: produção e processamento da cana-de-açúcar, distribuição e uso do etanol. A absorção, redução ou evitação das emissões também são contempladas, possibilitando o cálculo do balanço completo de emissões diretas na produção e uso do etanol de cana-de-açúcar.

Como resultado, são apresentados 3 estágios de evolução, conforme a introdução de novas tecnologias, partindo--se do aumento da produtividade – mais litros de etanol da mesma quantidade de cana, uso de sistemas mais eficientes de geração de excedente de energia elétrica, uso de 50% de palha como energético, uso de biofertilizante, substituindo o fertilizante mineral de origem fóssil, uso de biodiesel (5% nos caminhões e 30% nos tratores), substituindo o diesel.

Considera-se ainda o uso de 100% de palha como energético e a substituição de 100% do diesel utilizado na usina por biodiesel. Em cada estágio, são apresentados os benefícios gerados em relação à mitigação dos GEE, e as emissões líquidas evitadas em relação às emissões geradas. Os resultados são apresentados por meio da comparação com as emissões da gasolina, ou seja, 2.280 kg de CO2/m3 de etanol anidro equivalente.

O uso do etanol produzido na usina de referência (tradicional) evita a emissão de 2,02 kg de CO2/m3 de etanol anidro equivalente, com a mitigação de 89% das emissões diretas comparadas com as da gasolina (usina tradicional).
Em seguida, com a introdução de novas tecnologias, a Usina Sustentável Dedini - USD, no estado-da-arte, ou seja, com tecnologias disponíveis comercialmente já incorporadas, com aumento da produtividade e da geração de excedente de energia elétrica, passando de 9,2 MW para 50,7 MW; introdução do biodiesel integrado à usina para substituição de 5% do diesel consumido pelos caminhões e 30% do diesel consumido pelos tratores; e com a introdução do Biofom - biofertilizante organomineral, substituindo grande parte do uso de fertilizantes minerais, mais o uso otimizado da água contida na própria cana (bioágua), evitam-se 2,56 kg de CO2/m3 de etanol anidro equivalente, ou seja, mitigam-se 112% das emissões (USD, estado-da-arte).

Com a utilização de 50% de palha como energético, a USD, num futuro próximo, alcançará a emissão evitada de 3,02 kg de CO2/m3 de etanol anidro equivalente, com a mitigação de 132% das emissões (USD, futuro próximo).
Com a introdução de 100% de palha como energético e a substituição de 100% do diesel utilizado pelo biodiesel, a USD terá o potencial de evitar emissões de 5,0 kg de CO2/m3 de etanol anidro equivalente, mitigando 219% das emissões (USD potencial).

Uma usina tradicional (referência) evita 2,02 kg de CO2 equivalente/litro de etanol anidro equivalente ou mitiga 89% das emissões geradas pela gasolina. Com a introdução de novas tecnologias disponíveis na USD, no estado-da-arte, mitiga-se a emissão de 2,56 kg de CO2/litro de etanol anidro equivalente ou 112% de emissões geradas pela gasolina.

Como potencial da USD, utilizando-se 100% da palha como insumo energético e substituindo-se 100% do óleo diesel pelo biodiesel, com o uso dos 6 Bios, evitam--se 5,00 kg de CO2/litro de etanol anidro equivalente ou 219% em relação às emissões da gasolina. A inovação e o desenvolvimento das novas tecnologias são esforços concretos na trilha da sustentabilidade do setor sucroenergético, com uma visão estratégica que antecipa as demandas e tendências.
As empresas do setor valorizam e reconhecem a sustentabilidade como um processo de melhoria contínua nas áreas socioambientais, dando também a devida importância ao retorno financeiro diferenciado.