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Donizete Santos

Presidente da SKF do Brasil

Op-AA-06

O futuro da manutenção preditiva nas usinas

Atualmente, o Brasil é o maior produtor e consumidor de álcool do mundo. A crescente preocupação com a preservação ambiental tem representado adicional impulso para o aumento de nossas exportações e de investimento em novas alternativas para outros combustíveis ecologicamente saudáveis.

Se de um lado temos evidências de que o álcool consolida-se como uma alternativa de combustível sustentável - e o Brasil é um forte candidato a liderar uma revolução, cujos contornos começam a tomar forma, de outro temos um desafiador ambiente comercial, que exigirá muito mais de nós, se havemos de conquistar e manter nossa liderança.

Mais do que em qualquer outra fase da história do açúcar e do álcool no país, precisamos de tecnologias que implementem soluções alternativas para combustíveis e outras formas de geração de energia. A manutenção preditiva em larga escala foi iniciada em 1985, e sua evolução ocorreu em ondas, em função do desenvolvimento da instrumentação eletrônica e dos softwares de gerenciamento de dados.

Na primeira onda (1985-1994), ocorreu a implantação em grandes empresas, interessadas em identificar o tipo de falha e um período estimado para sua ocorrência. Atentava-se ao diagnóstico, promovendo grande desenvolvimento de técnicas de medição e de mão-de-obra. A segunda onda (1994-2003), em virtude de sua rápida expansão, caracterizou-se pela redução da qualidade da mão-de-obra.

Embora tenham ocorrido, nesse período, reduções de custo de manutenção de 10 a 30%, graças a um investimento vertiginoso das empresas em sistemas de manutenção preditiva, não se deixou de fazer o correspondente investimento em desenvolvimento de recursos humanos necessários para a obtenção de resultados consistentes. Na terceira onda (a partir de 2003), o diagnóstico passou a ser considerado uma ferramenta do processo, tendo-se alterado o foco para o gerenciamento de ativos, o aumento da disponibilidade de equipamentos e a disponibilização da informação para outras áreas da empresa.

Atualmente, a Manutenção Pró-Ativa para Confiabilidade (PRM) mostra ser o passo seguinte rumo a um bom programa de manutenção preditiva. Algumas empresas, com manutenção classe mundial de diferentes segmentos, estão descobrindo que esse sistema, quando bem implantado, é o mais efetivo método de gerenciamento de risco, aumentando a confiabilidade e ajudando a obter o melhor retorno sobre os ativos.

Mais que uma ferramenta de gerenciamento, PRM é uma estratégia que identifica as falhas e implementa os processos necessários para prevenir sua repetição, promovendo, com base no benchmark da produtividade de ativos e implementação de ações corretivas, não só a redução de custos do ciclo de vida total, mas também o aumento da disponibilidade dos equipamentos.

A SKF, além de desenvolver tecnologias e fornecer equipamentos para manutenção preditiva e sistemas de proteção de turbogeradores por vibração, necessários para as usinas manterem os compromissos assumidos nas operações de venda de energia elétrica, tem auxiliado muitas empresas a prognosticar e planejar paradas não programadas, contribuindo para eliminar definitiva e eficazmente a causa da falha, através da implantação do PRM.

Reconhecidamente, somos privilegiados do ponto de vista climático e geográfico, em relação aos países com os quais competimos na produção de derivados da cana. Além dessas vantagens, temos nos destacado pela criatividade no desenvolvimento de energias alternativas. Temos lideranças inovadoras nas empresas e contamos com mão-de-obra comprometida em fazer diferente e melhor o aproveitamento de nossos recursos naturais.

Complementando o arsenal tecnológico disponível, temos, no mercado, excelentes profissionais na área de engenharia de confiabilidade, que lidam com a complexa equação de aumento de produtividade e redução de custos de manutenção, durante e entre as safras da cana-de-açúcar. Será, porém, que isso é suficiente para garantir a competitividade de nossas usinas? Definitivamente não. Há, na maioria das empresas, um elemento sutil que tem dificultado e, às vezes, impedido que as usinas tirem o melhor proveito da tecnologia e expertise disponíveis no mercado. Trata-se da herança cultural desse setor.

É possível que a característica de sazonalidade da operação sucroalcooleira tenha estimulado muitos empresários e profissionais da área de manutenção e suprimentos desse setor a investir no curtíssimo prazo. Com efeito, este pensamento tem levado empresas a buscarem alternativas de produtos e serviços a preços mais baixos no mercado, muitas vezes aceitando que sejam descartáveis ao final da safra.

Por outro lado, umas poucas usinas pioneiras estão começando a adotar modernos conceitos de manutenção preditiva e pró-ativa. Estas empresas encontraram resposta satisfatória ao clássico dilema de otimizar a eficiência de ativos, que operam em regime sazonal há pouco comentado, assegurando o menor custo de operação durante a safra e nos períodos intermediários.

A manutenção dos ativos precisa ser repensada num horizonte que contemple mais que os poucos meses da presente safra, tornando necessário que se enxerguem as variáveis preço e custo, num contexto de continuidade e de otimização do investimento em ativos. É evidente que o setor precisa de amplas políticas públicas e de regulamentação básica para o alcance de patamares mais ousados no cenário mundial. No entanto, tal setor reconhece que não pode mais contar com a histórica tutela do Estado para o desenvolvimento de seus negócios.

Para vencer num ambiente de competição global, os empresários têm, diante de si, o desafio de reinventar um negócio centenário, iniciado com machado e enxada nas mãos. Contornadas as barreiras financeiras, as novas tecnologias estão ao alcance de qualquer empresa. Há, contudo, outro desafio: renovar a cultura empresarial, a fim de continuar gerando soluções inovadoras, transformando-as em negócios rentáveis, que remunerem proprietários, acionistas e associados, bem como contribuam para a perenização da vida, num ambiente saudável. À medida que cada empresário estimular uma mudança cultural de abertura e incentivo à inovação tecnológica, alcançaremos um posicionamento estável e competitivo nesse extraordinário e promissor segmento.