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José Tadeu Coleti

Diretor da Coleti Consultoria

Op-AA-24

O sistema de preparo mínimo em cana-de-açúcar: sustentável desde sua implantação

A versão canavieira do SPD (sistema de plantio direto) é o SPM (sistema de preparo mínimo), assim posicionado por conta do histórico de forte mecanização para revolvimento do solo na implantação da cultura. Na verdade, vive-se o primeiro momento de uma tecnologia que se vai instalando ao compasso do rompimento de paradigmas considerados, até pouco tempo, intocáveis.

Podemos afirmar que, na esteira do SPD-grãos, com uma experiência de 35 anos e já consolidada, o SPM-Cana vai avançar muito rapidamente, até por causa da própria fundamentação do sistema. Quais são as principais propostas do SPD?   

1. Mitigar o impacto do preparo do solo na redução do conteúdo original de  Carbono;  
2. Contribuir para a boa formação do sistema radicular, perenizando macroporosidade;  
3. Favorecer a inter-relação planta, micro-organismos e solo;
4. Garantir  a  simbiose  positiva entre FMAs (fungos micorrízicos) e o sistema radicular,  na perspectiva  da maior eficiência nutricional;
5. Adicionar ao solo, anualmente, ao redor de 12 a 14 t.ha-1 de palhada, visando à manutenção do estoque de carbono.

O cenário cana-de-açúcar para o século XXI está montado, naturalmente, na linha do preparo mínimo: colheita mecânica de cana crua avançando celeremente; manutenção de palhada sobre a soca; aplicação superficial de fertilizantes e corretivos, suprimindo escarificações mecânicas; dessecação química de soca na reforma dos canaviais. 

Fica muito evidente a vocação natural da cana-de-açúcar para o título de cultura portadora dos melhores indicadores de sustentabilidade, quiçá a mais sustentável das culturas de expressão econômica! Para fechar essa pontuação, basta a adoção do mínimo revolvimento do solo na atividade de plantio, o que já é uma realidade em inúmeras áreas do setor produtivo.

O que, na cultura de grãos, exige um verdadeiro malabarismo na sucessão de espécies para se obter volume de palhada considerado ideal para conferir sustentabilidade ao SPD, na cultura da cana-de-açúcar, isso é natural: anualmente, deposita 12 a 15 t.ha-1 e isso se repete num ciclo de 5 a 7 anos, ao final do qual esse solo estará apresentando sensível recuperação dos níveis de  matéria orgânica.

O estado-da-arte na tecnologia preparo mínimo em cana-de-açúcar, em nossa percepção, situa-se na fase de expansão sob diferentes modalidades, mas em processo de acerto dos passos a serem seguidos, de forma a consolidar o sistema. Assim, o primeiro passo foi determinar o equipamento que melhor atenderia à proposta do mínimo revolvimento, desde que preservada a tarefa de descompactação sem destruir os agregados interessantes.

Dotado de robustez que a tarefa exige, o subsolador/destorroador consagrou-se o equipamento ideal, combinando hastes parabólicas e conjunto de molas helicoidais que favorecem a descompactação sem desagregar o solo, discos de corte da palhada evitam buchas e rolos niveladores garantem o arrotea-mento final. O segundo passo a se afinar diz respeito à melhor época para se efetivar a dessecação da soca a ser reformada.

Nesse particular, também há que se desenhar um ritual:

a. programar antecipadamente as áreas de reforma;
b. realizar tarefas de correção do solo logo após ocorrida a colheita;
c. ingressar com a dessecação no exato momento em que a superfície foliar de brotação vai melhor responder, jamais permitindo formação de internódios basais;
d. associar dessecação com desinfestação química no caso de áreas praguejadas com plantas daninhas perenes;
e. prevenir infestação de plantas daninhas anuais no caso de áreas sem rotação de cultura;
f. priorizar, ao máximo, a introdução de leguminosas no pousio do terreno, preferencialmente crotalária, ou associar com o cultivo econômico de grãos (soja/amendoim).

A expansão da cana-de-açúcar para áreas de pastagens ou cultivadas com grãos há muito tempo, como vem acontecendo em regiões agrícolas de MS, MG, MT e GO, tem contribuído muito para sua introdução já na linha do SPM.  E os resultados começam a validar tal prática, com elevadas produtividades, projetando canaviais longevos. No bojo dessa verdadeira revolução no sistema convencional de preparo do solo, além do realce evidente no grau de sustentabilidade da cultura, desponta significativa redução de custo com a supressão de grades e arados.

Especialistas em sistematização de solo para o plantio contabilizam em 32% o efeito redutor. O ingresso definitivo da cana-de-açúcar na linha de uma agrotecnologia sustentada passa, necessariamente, pelo cuidado com a inter-relação fertilidade, biologia do solo e nutrição de plantas, e essa mudança de paradigma se inicia desde sua implantação: o mínimo revolvimento do solo deve ser perseguido!