Gestor do Programa de P&D do Centro de Tecnologia Canavieira
Op-AA-05
Com o advento das novas legislações ambientais, proibindo a queima da cana, a colheita da cana sem queimar vem, progressivamente, aumentando, alcançando atualmente níveis da ordem de 25%, no caso do estado de São Paulo e 20%, no centro-sul. Inicialmente, a colheita da cana sem queima está limitada à sua viabilização operacional e econômica. A necessidade da mecanização da colheita, dada a dificuldade do homem colher a cana com palha, é o fator preponderante.
Já ocorreram grandes progressos relacionados aos equipamentos de colheita, com a palha separada da cana nas colhedoras e deixada como cobertura no solo agrícola. Outros sistemas e processos têm sido adaptados, onde equipamentos foram alterados ou desenvolvidos para a colheita mecanizada de cana sem queima.
Dificuldades vêm sendo encontradas, não somente devido à mecanização, mas também em função da presença da palha no campo. Os problemas observados têm conduzido a soluções como o controle biológico de pragas, como a cigarrinha, e para questões agronômicas, variedades aptas à brotação, sob o colchão de palha.
Alguns benefícios também foram percebidos, entre eles a proteção do solo agrícola da erosão, a incorporação de matéria orgânica ao solo e a manutenção da umidade, em áreas de clima seco, que, por sua vez, também impactaram em alterações na prática agrícola, como modificações no traçado das áreas, nas operações de adubação, cultivo e controle de ervas daninhas.
O saldo entre benefícios e problemas com a manutenção da palha, depende de condições regionais de clima, solo, variedades de cana e práticas agrícolas. Após a adaptação ao processo de colheita sem queimar, foram percebidas as novas oportunidades que a palha oferece. Avaliações indicavam que a queima da palha desprezava um terço da energia disponível no canavial. Entretanto, em função dos custos de recolhimento da palha e dos investimentos necessários na indústria, as análises econômicas inviabilizavam sua utilização.
Num passado recente, os investimentos insuficientes na geração, causaram grande prejuízo ao país. A localização das unidades industriais do setor sucroalcooleiro e a possibilidade de incremento de geração elétrica, aliadas às novas regulamentações do setor elétrico, que possibilitam a venda de energia ao consumidor final, redução na tarifa de transmissão para energia renovável e reduzidos investimentos em setores de produção de energia, viabilizaram o novo produto do setor: a energia elétrica.
O setor sucroalcooleiro, que já era auto-suficiente em energia, passou a exportar excedentes de energia elétrica, com venda de energia durante o período da safra, a custos competitivos com outras fontes novas de energia, com a vantagem de ser gerada e distribuída próxima dos grandes centros. Neste contexto da legislação ambiental de eliminação da queima e de ampliação da geração de energia, é inevitável a consideração da retirada da palha do campo para utilização como combustível complementar ao bagaço, e também com o objetivo de solucionar problemas em áreas em que sua presença tem se confirmado como prejudicial à cultura da cana.
Sistemas utilizados para silagem, como enfardamento e recolhimento com forrageiras, têm sido empregados, na tentativa de recolhimento da palha, com diversos problemas operacionais, elevado custo e alto teor de terra na palha. A colheita integral, qual seja, da cana com palha, é outra possibilidade de recuperação da palha, que evita que esta seja depositada no campo para ser posteriormente recolhida, além de não alterar a logística da colheita mecanizada, pois não insere qualquer nova operação no campo.
Esta alternativa apresenta perspectivas interessantes, pois muda o conceito da colheita, com significativa redução das perdas de cana no campo, que normalmente ocorrem no processo de ventilação para separação da palha da cana na colhedora. No entanto, ainda se faz necessária uma solução tecnológica e econômica do transporte de baixa densidade da cana com palha, separação da palha da cana na indústria e trituração da palha para alimentação nas caldeiras.
A expansão da geração nas usinas é um fato que deverá ocorrer em função da demanda crescente de energia elétrica no país. É um processo que, sem dúvida, depende de preços da energia elétrica, que remunerem adequadamente os investimentos e custos. No entanto, mais do que isto, será necessário também que a indústria sucroalcooleira tenha acesso às tecnologias necessárias e se modernizar-se, melhorando a eficiência dos processos com redução no consumo de energia e amplie a disponibilidade de biomassa através da utilização da palha.
O adequado preparo das usinas, sua organização em associações ou parcerias, com outros geradores de energia como as hidrelétricas, visando a comercialização de energia com distribuidoras e consumidores finais, para venda de energia garantida e fornecimento anual, é uma necessidade premente. Finalmente é importante ressaltar que tanto o bagaço, cuja disponibilidade aumenta com a viabilização da palha, como a própria palha, podem ser matérias primas para outros processos, inclusive o de fabricação do álcool. A tecnologia de hidrólise de materiais ligno-celulósicos está avançando rapidamente e deverá ter aplicação também no setor sucroalcooleiro.