Coordenador de Pesquisa Tecnológica do CTC
Op-AA-28
O plantio mecanizado da cana-de-açúcar é mais que uma tendência no setor sucroalcooleiro, é uma das alternativas mais viáveis em substituição ao sistema de plantio manual, que atualmente enfrenta dificuldades, principalmente devido à escassez de mão de obra nas áreas de expansão e em regiões com forte índice de mecanização da colheita.
Segundo informações fornecidas pelas usinas participantes do Controle Mútuo Agronômico Anual do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, na safra 10/11, aproximadamente 217 mil hectares foram plantados de forma mecanizada, representando 35% da área total plantada.
Na realidade, o plantio mecanizado é uma consequência direta da aceleração da mecanização da colheita, que está crescendo de forma exponencial no Brasil e, principalmente, no estado de São Paulo, onde existe a lei estadual n° 11.241/02, que determina a eliminação das queimadas da cana-de-açúcar até 2017 para as áreas mecanizáveis e 2031 para as áreas não mecanizáveis, e um Protocolo Ambiental assinado pelas unidades produtoras de açúcar e álcool, que antecipa essas datas, respectivamente, para 2014 e 2021.
Os altos custos operacionais do plantio manual e a intensificação do cumprimento da legislação trabalhista também são fatores que estão acelerando a adoção do sistema de plantio mecanizado em substituição ao manual. Uma recente pesquisa feita pelo CTC mostra que, em apenas três anos, o plantio mecanizado poderá representar cerca de 60 a 70% da área total de reforma de cana no Centro-Sul, caracterizando uma migração para mecanização bem mais rápida se comparada à mudança da colheita manual para mecanizada.
Esse processo de migração caminha a uma velocidade maior se comparado à capacidade do setor produtivo em desenvolver tecnologias de alto desempenho e confiáveis para esse sistema de plantio, colocando em risco a viabilidade econômica e sustentabilidade no longo prazo.
No Brasil, a busca por essa tecnologia começou ser expressiva a partir do ano 2000, porém, desde a década de 90, o CTC atua fortemente nessa linha de pesquisa, visando ao desenvolvimento do sistema como um todo, ou seja, compreendendo operações de colheita da muda, transporte e plantio.
Além do desenvolvimento das plantadoras, o CTC foi responsável pelo primeiro projeto de adequação das colhedoras comerciais para a colheita da muda, que resultou em uma redução média de 50% das injúrias causadas aos toletes de cana na operação de colheita.
Atualmente, esse conceito é utilizado por diversos fabricantes de dispositivos para adequação de colhedoras, denominado de kits de colheita de muda. Atualmente, o maior desafio dessa tecnologia está no controle das operações na plantadora, no desenvolvimento de colhedoras capazes de colher a muda conciliando mínimo de dano e alto rendimento operacional, no aprimorando das práticas de preparo do solo com objetivo de garantir um bom desenvolvimento e longevidade do canavial, com custo competitivo e de forma sustentável.
A experiência adquirida na mecanização do plantio mostra que essa prática requer maior cuidado e atenção se comparada ao plantio manual. Objetivando resultados iguais ou superiores à operação manual, além das modificações nas máquinas, algumas técnicas tiveram que ser desenvolvidas, como a metodologia para avaliar aptidão varietal ao plantio mecanizado e a metodologia para avaliar a qualidade do plantio.
O CTC destaca-se como pioneiro na elaboração e na condução de ensaios de campo utilizando dessas metodologias. Também um fator importante para o sucesso do plantio mecanizado é a logística do sistema, isso porque, se comparado ao sistema de corte, carregamento e transporte, existe um número muito maior de variáveis e é um sistema mais complexo.
Nessa linha, o CTC desenvolveu uma lógica utilizando ferramenta computacional que permite representar e simular o sistema de plantio mecanizado de cana-de-açúcar em um ambiente virtual, possibilitando a otimização de recursos e processos, a redução de custos e a avaliação de novos investimentos e estratégias operacionais.
Atualmente, o setor produtivo conta com diversas empresas fabricantes de plantadoras de cana-de-açúcar, sendo que as principais novidades estão relacionadas ao controle das operações do plantio. Também está disponível no mercado um tipo de equipamento denominado Distribuidor de Toletes, que possui a vantagem de aproveitar a estrutura operacional do sistema de plantio manual, como os sulcadores e cobridores, e apenas fazer a distribuição dos toletes no sulco.
Trata-se de um equipamento que tem seu lugar no sistema de plantio mecanizado, mas que também precisa ser aprimorado. Além do plantio de toletes colhidos mecanicamente que possuem comprimento médio de 40cm, encontra-se em fase de implantação um sistema comercial de plantio de minitoletes de cerca de 4 a 6cm, contendo apenas uma gema e tratado quimicamente com objetivo de promover mais enraizamento e reduzir as chances de ataque de patógenos.
A novidade não está na prática de plantio do minitolete e sim na forma de disponibilização do produto para plantio em escala comercial. Finalizando, com um sistema de plantio mecanizado evoluído, haverá considerável redução dos custos de plantio, maior produtividade e longevidade do canavial e melhores condições de trabalho no campo.
Além do desenvolvimento desse sistema de plantio, tecnologias inovadoras e não convencionais de propagação da cana-de-açúcar em escala comercial que contemplem cenários de forte redução do custo da produção agrícola, escassez de mão de obra, plantio o ano todo e sustentabilidade já estão sendo desenvolvidas no CTC e deverão estar disponíveis em 4 a 6 anos.