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Marcelly Pereira de Araújo

Gerente de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Usina Santa Terezinha

OpAA82

A cultura de segurança na prevenção e combate a incêndios
O Brasil tem enfrentado preocupante cenário em relação aos incêndios, especialmente os agrícolas. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o ano de 2020 registrou o maior número de focos de incêndio no país, foram mais de 222 mil ocorrências. Entretando, 2024 já superou esse número, com mais de 230 mil ocorrências, de janeiro a outubro.
 
A crescente de incêndios em diversos Estados do país é agravada pela combinação de mudanças climáticas e seca/baixa umidade que contribuem para o aumento da frequência e intensidade das queimadas, remetendo-se ao conceito “triângulo do fogo”, representado por três elementos essenciais, os quais são: combustível, comburente e calor. Assim, para prevenir incêndios, é necessário gerenciá-los e desenvolver estratégias eficazes. 

Os incêndios causam prejuízos ambientais, comprometendo as APP’s (Áreas de Preservação Permanente) ou Reservas Legais, e aumentam a poluição atmosférica, além de impactar a produtividade de lavouras, como canaviais, com a degradação do solo resultando em prejuízos financeiros. A situação coloca em risco a sustentabilidade das operações agrícolas e apresenta grandes desafios.

Neste cenário, há risco às vidas e à saúde respiratória de moradores nas áreas rurais e urbanas, além de funcionários treinados do setor bioenergético (usinas) que foram efetivos no auxílio do combate aos incêndios ou que estavam operando máquinas nas proximidades. Portanto, a necessidade de estratégias eficazes de prevenção e combate a incêndios se torna cada vez mais prioritária, com destaque para os pilares: Prevenção, Otimização de Recursos e Gerenciamento de Crise. 

Na esfera da Prevenção, destacam-se ações como campanhas educativas para promover a conscientização, o conhecimento e a segurança da comunidade e de funcionários do setor sucroenergético, transformando a prevenção em esforço coletivo e contínuo. Inicia-se com o estímulo da cultura de segurança na organização, através de campanhas internas e externas, que agregarão na temática de prevenção a incêndios, além da necessidade de definição de Procedimentos de Prevenção. A responsabilidade é de todos para que se criem ambientes mais seguros. 

Estender a conscientização à comunidade é de suma importância, objetivando preservar a saúde e o bem-estar de todos, por meio de eventos em parceria com escolas, associações de bairro, serviços de emergência, em que as empresas estão inseridas. Palestras educativas e workshops sobre prevenção de incêndios ajudam a disseminar o conhecimento para a comunidade.

Outra forma de prevenção a incêndios é a gestão de carreadores, a qual engloba diretrizes internas, referente ao dimensionamento dos carreadores e à acessibilidade para deslocamento de caminhão-pipa. A prevenção também se aplica à gestão de aceiros, faixas de terra sem vegetação que separam plantações de áreas de mata, impedindo que as chamas se propaguem.

Nesses locais, é importante a prática de limpeza nas áreas de servidão das redes de energia, dos carreadores paralelos e do pós-colheita, bem como em torno de áreas que se deseja proteger, como propriedades, máquinas ou recursos naturais, sempre respeitando as legislações pertinentes das faixas de domínio das margens de rodovias.

Dentre as estratégias práticas de prevenção de incêndios nas operações, é possível destacar o cumprimento do plano de manutenção e limpeza de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, inspeções térmicas regulares, entre outros relevantes. Em qualquer intervenção nas áreas operacionais, devem ser levados em consideração o gerenciamento de riscos, a realização de treinamentos regulares com as equipes de trabalho sobre práticas seguras nas operações agrícolas, Procedimentos Operacionais Padrão, diretrizes da empresa e otimização do uso de recurso.

Merece destaque a metodologia do triângulo de emergência (regra dos 30), nascida nos EUA, na região mais seca do Texas, bem como na região da Califórnia, nas grandes florestas de pinheiros, a qual combina fatores temperatura, umidade e vento, influenciadores na propagação do fogo, além do material combustível vegetal, da topografia e das condições meteorológicas. 

Os riscos de incêndios florestais aumentam em razão da regra dos 30 (temperaturas acima de 30°C; umidade relativa do ar abaixo de 30%; vento acima de 30 km/h; além da inclinação do terreno acima de 30º e mais de 30 dias sem chuva). Quando essa situação ocorre, há alto risco de qualquer foco de incêndio se tornar grande incêndio florestal. Essa metodologia tem sido utilizada como balizador para tomadas de decisões estratégicas nas intervenções operacionais.

O investimento em prevenção subtrairá o uso de recursos durante o combate a incêndios. Pode-se destacar que, para a estrutura de apoio, é necessário definir o dimensionamento de equipe de apoio com os devidos treinamentos e realização de exercícios práticos; frotas de apoio dedicadas com as devidas manutenções e em bom estado de conservação; equipamentos de proteção individual e coletiva; e equipamentos de controle meteorológico.

O uso de tecnologias como softwares de inteligência climática e sistemas de vigilância por meio de satélites para monitoramento das áreas agrícolas pode auxiliar na detectação de focos de incêndios e identificar precocemente as queimadas. Há também novas tecnologias em produtos desenvolvidos para atuar como retardante do fogo e ainda aumentando a eficiência da água.

Em caso de incêndio, a boa gestão das demandas envolvidas no combate é essencial para garantir resposta eficaz e coordenada diante dessas situações. A gestão de crise robusta, dinâmica e bem-estruturada, com papéis e responsabilidades definidos, bem como os procedimentos seguros em caso de emergências podem evitar e minimizar as lesões às pessoas, meio ambiente e impactos ao patrimônio, promovendo a continuidade das operações. Assim, dependendo da magnitude da emergência, poderá ter apoio do PAM (Plano de Auxílio Mútuo), com o envolvimento de órgãos competentes e de empresas, por exemplo as usinas, para auxílio na resposta à emergência causada pelo incêndio. 

A comunicação durante a crise deve ser clara e eficiente. Informações sobre o estado do incêndio, rotas de evacuação e orientações devem ser disseminadas rapidamente. É fundamental que todos os envolvidos saibam como agir em caso de emergência, minimizando o pânico e garantindo a segurança e agilidade no tempo de resposta.
 
Contudo, após a ocorrência de um incêndio, é importante realizar a avaliação completa do que ocorreu. O que funcionou? O que poderia ser melhorado? A análise de lições aprendidas permite ajustes nos procedimentos, treinamentos, recursos e preparação para futuras emergências. 

A prevenção e o combate a incêndios nas operações agrícolas vão além de uma obrigação legal e devem ser vistos como responsabilidade social priorizando a proteção das pessoas, do meio ambiente e da economia agroindustrial. Medidas efetivas de prevenção e combate promovem futuro sustentável para a indústria bioenergética e resguardam as operações agrícolas. É hora de agir, investir e incentivar o compromisso de todos com a cultura de segurança e sustentabilidade.