Presidente da Siamig
Op-AA-29
O Brasil desenvolveu um know-how fantástico na produção de etanol, seja na área agrícola, com o desenvolvimento de diversas variedades de cana-de-açúcar adaptadas ao clima local, controle biológico de pragas, novas tecnologias de plantio e colheita, seja no setor industrial, com a construção de uma importante indústria de base nacional, após várias décadas de desenvolvimento, com um parque atual em torno de 430 usinas instaladas e geração em torno de 1,28 milhão de empregos formais.
O País conta com a implantação em maior intensidade da tecnologia flex e tem cerca de 50% da frota nacional nesse modelo. Além do incremento, cada vez maior, da bioeletricidade – a energia do bagaço da cana –, cuja produção em 2010 para o sistema elétrico brasileiro foi equivalente à energia necessária para atender 20 milhões de pessoas.
Vários usos para o etanol estão também sendo implementados, como os testes realizados nos ônibus em São Paulo, além da possibilidade da produção de hidrocarbonetos a partir da cana, como o diesel, que será testado na frota do Rio de Janeiro. Indústrias já estão produzindo o “plástico verde”, através do eteno, derivado do etanol, e Juiz de Fora, Minas Gerais, já conta com a primeira térmica do mundo a usar esse combustível, em teste pela Petrobras.
As motocicletas bicombustíveis já correspondem a 44% do total de modelos produzidos no primeiro trimestre deste ano. Em 2010, esses veículos tinham apenas 18% de participação na fabricação, segundo a Abraciclo - Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. A tendência é de que essa tecnologia cresça proporcionalmente em relação ao mercado, assim como vem ocorrendo com os automóveis flex.
Já se contarmos com o potencial da produção de etanol somente para os carros flex nacionais, as estimativas indicam que, em 2020, eles deverão representar quase 70% da frota, e o setor precisaria dobrar sua produção atual de 27 bilhões de litros para 54 bilhões de litros/ano. Sem dúvida nenhuma, os EUA irão abrir seu mercado, com uma nova mobilização no Senado para acabar com os subsídios e a tarifa de importação do etanol, sendo que a Califórnia já considera o etanol brasileiro como de segunda geração.
O Brasil é, hoje, também, o maior produtor e exportador mundial de açúcar, com 50% das exportações do produto. A tendência desse mercado é de crescimento, principalmente, para os países asiáticos, como China e Índia, e o País continuará sendo o principal player de abastecimento desse produto no mundo.
De acordo com o zoneamento agroecológico do governo brasileiro, o Brasil possui mais de 60 milhões de hectares disponíveis de áreas já antropizadas para crescimento do setor. Além disso, a partir de 2012, entrará em funcionamento o primeiro alcoolduto brasileiro, que possibilitará uma grande redução dos custos logísticos.
Para atender a todos esses desafios, que alçam o Brasil como um dos mais importantes da agroenergia no mundo, há necessidade urgente de novos investimentos a juros baixos, que contemplem o setor sucroenergético, para implantação de novas áreas de cana, reforma das já plantadas, construção de novas plantas, inversões em novas tecnologias, modernização das plantas já existentes e a construção de infraestrutura para escoamento da produção de etanol, visando a uma maior competitividade.
É preciso criar incentivos, também, para o etanol frente ao combustível fóssil, a gasolina, que mantém uma estabilidade artificializada nos preços, desde 2005, na refinaria, a despeito das variações do preço internacional do petróleo. Os estados que contam com alta tributação para o etanol não conseguem competir com os combustíveis fósseis, seja gasolina, diesel ou GNV.
As medidas que ora estão em discussão na Agência Nacional do Petróleo têm que levar em conta a segurança do mercado, a fim de suprir o déficit de etanol e tornar realidade os planos do País de tornar o etanol uma commodity. Não cabem ameaças de taxação de açúcar ou proibição de exportação de etanol como vêm ocorrendo através da mídia.
Com ações de incentivo governamental e criação de um marco regulatório com medidas de curto, médio e longo prazo, discutidas e votadas no Congresso Nacional, o setor, sem dúvida, será capaz de responder às suas necessidades ambientais de produção de um combustível renovável, que emite menos 89% de gás carbônico na atmosfera, em comparação com a gasolina, e contribuir para limpar a matriz energética de outros países e oferecer uma melhor qualidade de vida a todos.