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Wilson Nigri

Diretor da Tecnotropic Consulting

Op-AA-09

Seqüestro de carbono e efeito estufa

Energia e aquecimento global são grandes preocupações do nosso tempo. Tempo de esgotamento das reservas naturais de petróleo e de saturação do meio ambiente são preocupações permanentes. O balanço entre o seqüestro de CO2 da atmosfera, efetuado pela cultura da cana-de-açúcar, e a redução das emissões de poluentes despejados pelos veículos movidos a etanol são as grandes contribuições da indústria do álcool combustível ao meio ambiente.

A indústria automobilística tem investido em novas tecnologias e os resultados são visíveis, pois os veículos de hoje usam combustíveis fosseis com mais eficiência ou são movidos por biocombustíveis, cada qual, na sua medida, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. A não emissão de CO2 ou a emissão zero, não chegará com os motores à explosão, mas sim com os motores movidos a hidrogênio.

A fonte de hidrogênio, uma vez mais, poderá ser o petróleo ou gás natural, porém a eliminação completa da emissão de poluentes dar-se-á quando a origem do hidrogênio for a biomassa. Este desafio, perfeitamente previsível para a próxima década, terá nas destilarias de álcool a maior contribuição para o meio ambiente, pois o gás natural ou o metanol, como fonte de hidrogênio, reduzem as emissões de poluentes, enquanto o etanol não polui e ainda seqüestra o gás carbônico existente na atmosfera.

Hoje, as destilarias produzem o combustível renovável presente em toda a frota brasileira, seja álcool anidro, misturado à gasolina ou hidratado, movendo a frota dos carros flexíveis. Em futuro próximo, fornecerão o hidrogênio que alimentará as células de combustível dos carros elétricos. No Brasil, 43,6 % da energia consumida é proveniente de fontes renováveis, 26,3 % das quais biomassa, com um consumo per capita de álcool de fazer inveja aos países desenvolvidos.

Cabe, portanto, às biorefinarias desenvolverem a agricultura e a indústria do etanol, aumentando o rendimento agrícola por hectare cultivado e a eficiência industrial, produzindo mais cana-de-açúcar por hectare e extraindo mais etanol por tonelada de cana. Estão em curso investimentos em novas tecnologias para realizar a extração do etanol contido na cana por processo enzimático ou químico, assim como para aproveitar melhor o potencial biológico da cana-de-açúcar.

O equilíbrio hídrico e nutricional com variedades robustas permitirá que a agricultura brasileira evolua progressiva-mente, da média de 76 toneladas por hectare, esperada para esta safra, para além das 200 toneladas por hectare, até o final da próxima década. Para que assim seja e, conseqüentemente, ocorra mais seqüestro de CO2 por hectare cultivado com cana-de-açúcar, a cadeia produtiva deverá investir em biotecnologia, melhorando e modificando geneticamente os cultivares, para torná-los mais produtivos e resistentes a doenças e pragas.



É igualmente necessário que as destilarias ou fornecedores de cana invistam em infra-estrutura de irrigação e cultivem-na com a utilização de macro e micro-nutrientes, na medida da necessidade da planta e em um ambiente de umidade controlada. Atendendo-se às necessidades hídricas e nutricionais da cana, de forma racional e ao longo do seu ciclo vital, evita-se o desperdício de fertilizantes e contribui-se para aumentar a longevidade da cultura, para mais de 10/12 anos, o dobro do ciclo atual.

A remineralização do solo é outro elemento vital para melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas e, portanto, o rendimento agrícola da cultura. A seqüência abaixo mostra os cultivares sendo reproduzidos e melhorados geneticamente em laboratório. A faixa molhada em formação, por onde, através da fertirrigação, a cana-de-açúcar será nutrida e, por fim, o resultado, 16 meses depois, com o primeiro corte produzindo 237 toneladas de cana por hectare, ou 14 toneladas de cana por mês.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento - Conab, do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a produção brasileira de cana-de-açúcar, na safra 2006/07, está estimada em 469,8 milhões de toneladas. A Conab prevê a expansão na área plantada para 6,2 milhões de hectares e o alcance de produtividade média em 76,353 ton/ha.

Desse total, 237,1 milhões de toneladas - 50,5%, serão destinadas à produção de açúcar, 186,3 milhões - 39,6%, à produção de álcool e o restante, 46,4 milhões - 9,9%, irão para a fabricação de cachaça, alimentação animal, sementes, fabricação de rapadura, açúcar mascavo e outros usos. A produção prevista do etanol utilizará, portanto, um total de 2,455 milhões de hectares e armazenará cerca de 22,6 milhões de toneladas de carbono orgânico por safra, nas 186,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar utilizadas para produzir 17,8 (8,7 anidro e 9,1 hidratado) milhões de m³ de etanol.

A emissão de poluentes será sensivelmente menor que a dos combustíveis fósseis, quando se utiliza o etanol, contribuindo, de forma expressiva, para a limpeza da atmosfera. Governos ecologicamente responsáveis estimulam a geração de energia veicular a partir da biomassa e têm convocado empresas globais para desenvolverem tecnologias novas, onde a matéria-prima está disponível.

O desafio do próximo governo será, portanto, estimular empresas como Dupont, Dow Chemical, Cargill, Abengoa, Iogen, Novozymes e Genencor, entre outras, a investirem na tecnologia de produção de combustível a partir da cana-de-açúcar, que será competitivo pelo seu próprio custo de produção e não porque o preço do petróleo é elevado.