Me chame no WhatsApp Agora!

Luiz Silvestre Gomes Coelho

Diretor da Archer Consulting

Op-AA-46

Fim de um ciclo?
O duradouro ciclo de baixa do preço do açúcar no mercado internacional parece estar chegando ao fim. Desde 2010/2011, quando o mercado começou a trabalhar com um superávit mundial inicial de 3 milhões de toneladas de açúcar, batendo acima de 11 milhões de toneladas duas safras depois e a perspectiva de crescente produção brasileira, os preços vieram negociando em níveis cada vez mais baixos.

Durante a safra 2011/2012, o contrato futuro de açúcar em NY negociou a um preço médio de 25.61 centavos de dólar por libra-peso; no ano seguinte, caiu para 20.05 centavos de dólar por libra-peso; depois, mais uma queda de 15% na safra 2013/2014, com o preço médio atingindo 16.98 centavos de dólar por libra-peso e, finalmente, a safra 2014/2015, com 15.76 centavos de dólar por libra-peso. Hoje, em plena safra 2015/2016, o preço médio até o final de setembro era de 11.87 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, em cinco safras (e cinco anos seguidos de produção acima do consumo), o preço médio desabou mais de 53%. 

Na última conferência promovida pela Datagro no final do mês de setembro, em São Paulo, na qual tive a honra de fazer parte em um dos movimentados painéis que discutiam as perspectivas do mercado de açúcar, minha linha de argumentação partia do fato comprovado de que a produção de cana no Brasil, e em especial no Centro-Sul, está estagnada desde 2009/2010, após a crise mundial que afetou particularmente o preço do petróleo. Naquela safra, o Brasil moeu pouco mais de 600 milhões de toneladas de cana e produzimos 28,6 milhões de toneladas de açúcar e 23,7 bilhões de litros de etanol. 

Nesta safra 2015/2016, o Brasil deve moer um total de 640 milhões de toneladas de cana, divididas entre 34,8 milhões de toneladas de açúcar e 28,4 bilhões de litros de etanol. Isso quer dizer que, em seis anos, a produção de cana no Brasil cresceu pouco mais de 1% ao ano. Número tímido se compararmos com aquele divulgado pela Organização Internacional do Açúcar, que aponta o crescimento no consumo médio anual no mundo na ordem de 2,2% ao ano. É ainda mais surpreendente quando constatamos que o crescimento no consumo médio anual de combustível no Brasil, nos últimos dez anos, foi de 7,8% ao ano.
 
O setor sucroalcooleiro perdeu muito com a falta de planejamento do Governo Federal nos últimos anos. Incentivaram a indústria a investir pesadamente sob a promessa infundada e megalomaníaca do então presidente Lula de que o Brasil se tornaria a Arábia Saudita do etanol. O Centro-Sul saiu de uma produção de cana de 300 milhões de toneladas em 2003/2004 para 540 milhões de toneladas em 2009/2010. Depois de virem a produção crescer em ritmo geométrico, o governo foi retirando paulatinamente a Cide, que mantinha a competitividade do etanol vis-à-vis à gasolina, cujo preço era congelado pelo Governo Federal para fins de ajuste fiscal.

O resultado dessa tragédia em forma de gestão foi o crescimento estratosférico da dívida do setor, que, hoje, estimamos em R$ 91 bilhões, a estagnação da indústria que está no seu limite de capacidade, o fechamento de dezenas de unidades produtoras, a entrada em recuperação judicial de outras tantas unidades, além do colapso da Petrobras, que perdeu dezenas de bilhões de reais com o subsídio ao preço da gasolina na bomba.

 
Mesmo sendo conservador no mix de consumo de combustível no Brasil, que hoje está – segundo números da Agência Nacional de Petróleo – 45,6% para o etanol, mas que, para efeito de previsão para os próximos cinco anos, assumimos que apenas 35% dos proprietários de veículos leves optaram pelo etanol, o mínimo que o Brasil vai precisar para crescer na produção de cana até 2021/2022 é 105 milhões de toneladas. Isso apenas para a demanda do etanol.
 
E o açúcar? O consumo doméstico deve crescer, até 2021/2022, mais 1,2 milhão de toneladas de açúcar. E o Brasil vai continuar sendo o principal exportador da commodity. A estimativa da Archer Consulting é de que o volume de exportação de açúcar do Brasil deve crescer, em números absolutos, 3 milhões de toneladas em cinco anos. Ou seja, para atender à demanda interna e externa, um volume adicional de 65 milhões de toneladas de cana.
 
Estamos dizendo que, em 2021/2022, o Brasil vai precisar produzir uma quantidade de cana adicional de 170 milhões de toneladas para atender apenas a essa demanda estagnada que está aí. Quais são as condições necessárias para que isso ocorra? Primeiro, um governo comprometido com a política energética do País. Segundo, transparência na formação de preço dos combustíveis. Não haverá novos investimentos no setor sucroalcooleiro se o preço da gasolina não seguir o mercado internacional, condição única para que se criem instrumentos financeiros que mitiguem o risco de variação negativa de preço (hedge) e permita a transformação do etanol numa commodity.
 
Como essas condições no atual momento da política e da economia brasileira são muito difíceis de serem implementadas, a produção de cana deverá se manter no nível atual até o limite de nossa capacidade instalada, o que equivale a dizer que a demanda por açúcar e etanol será extremamente sensível a preços. Para atenuar a demanda, o governo precisará aumentar o preço dos combustíveis, e esse ato refletirá num valor maior para o açúcar no mercado internacional.
 
Real desvalorizado piora o valor de importação da Petrobras, força mais rapidamente o ajuste no preço da gasolina, aumenta a competitividade do etanol e restringe a oferta de açúcar no mercado internacional, aumentando preços. O ciclo de baixa do açúcar no mercado internacional parece que acabou. As únicas coisas que podem mudar o curso de preços mais robustos para o açúcar, neste momento, são a queda brusca do preço do petróleo no mercado internacional (abaixo de US$ 40 por barril) ou mais uma das intervenções sem pé nem cabeça do governo petista.