O conceito de agricultura moderna nos leva a uma viagem no tempo. Estamos no final do século XVIII e no começo do século XIX, em meio à primeira Revolução Industrial proporcionada pelo uso da energia a vapor e da eletricidade. Esses novos elementos descobertos pelo homem deram início ao processo de mecanização, legado de um primeiro grande movimento fabril.
Mais do que a era que uniu mecanização e novas práticas, a Revolução Industrial foi o embrião de processos disruptivos, que beneficiaram não apenas a indústria, mas também a agricultura. O legado dessa fase permitiu a chegada de novos implementos agrícolas e o aumento da produção, que foram intensificados pelo uso de tratores, colheitadeiras e semeadeiras. De lá para cá, muita coisa mudou, muito se aperfeiçoou. Agora, vivemos a era do 4.0, da linha de produção, da automação, do Big Data. E, novamente, a agricultura se transforma, trazendo a necessidade de um novo olhar.
O desenvolvimento, a utilização da tecnologia e a inovação nos levam a uma outra fase, com foco em sustentabilidade e meio ambiente. Como a agricultura pode contribuir para reduzir o uso de recursos naturais ao mesmo passo em que a demanda por alimentação em todo o mundo cresce? A resposta é a Revolução Verde.
Nesse cenário, o setor sucroenergético pode delinear algumas tendências. E não apenas para a cana-de-açúcar, mas também para diversas outras culturas. O desafio está em consolidar a produção sob alguns aspectos: uso intensivo de tecnologia, agricultura de precisão, pesquisa e desenvolvimento e qualidade na operação agrícola para a máxima exploração do potencial de cada ambiente produtivo.
Tecnologia e mecanização:
Novas tecnologias que ajudam a garantir aumento de produtividade são frequentemente incorporadas aos sistemas produtivos. E aquelas que atualmente são empregadas pela área agrícola são consideradas de ponta, em especial as utilizadas na região Centro-Sul do País, onde está concentrada a maior parte da produção sucroenergética.
A intensa mecanização das operações dos canaviais também se apresenta de forma consolidada. O uso de piloto automático e a adequação de bitola dos equipamentos, por exemplo, permitem reduzir significativamente o pisoteio e o tráfego, ajudando a preservar e a aumentar a longevidade dos canaviais.
Na mesma linha, a associação da qualidade do solo, das condições climáticas e do uso de tecnologia de ponta colocam a cana-de-açúcar como uma das mais promissoras fontes de biomassa. A cogeração a partir do bagaço da cana tem importância estratégica para o País, uma vez que a produção é realizada no período de estiagem, favorecendo o maior nível de água nos reservatórios das hidroelétricas durante uma época do ano em que a economia de água se torna ainda mais necessária. Em outras palavras, energia a partir de uma fonte renovável traz vantagens ambientais.
Para se ter uma ideia de o quanto essa fonte é importante e está em consonância com os programas de preservação ambiental, em 2018 a bioeletricidade se consolidou como a terceira fonte mais importante na Oferta Interna de Energia Elétrica (OIEE) no País, conforme dados apresentados pelo Ministério de Minas e Energia (MME), atrás da geração hídrica (67%) e do gás natural (8,5%). A fonte biomassa gerou 52,5 TWh, incluindo a geração destinada ao autoconsumo, representando 8,3% de toda a oferta interna. Com a perspectiva do início do programa RenovaBio, em 2020, o cenário é ainda mais promissor, e a cogeração deve aumentar, já que a prerrogativa do projeto é fazer com que o Brasil reduza as emissões de gases de efeito estufa.
Agricultura de precisão:
A aplicação de agricultura de precisão está diretamente ligada à evolução tecnológica. Cada vez mais recorrentes, soluções e ferramentas de tecnologia são determinantes para avaliar de maneira precisa as mais diversas condições relacionadas ao ciclo produtivo. E isso acontece graças a equipamentos sofisticados que, a partir de dados específicos de áreas georreferenciadas, proporcionam uma aplicação mais direta de soluções, que diminuem prejuízos, ampliam a produtividade e potencializam ganhos.
O desenvolvimento e a utilização de sensores nos processos agrícolas permitem mensurar e acompanhar, em tempo real, uma série de parâmetros operacionais e de qualidade, como produtividade, profundidade e velocidade de trabalho, elementares para que tenhamos uma visão representativa das áreas de produção e dos processos, permitindo, assim, a tomada de decisões.
Um exemplo dessa agricultura mais assertiva é a aplicação de fertilizantes em taxa variada. Isso permite posicionar de maneira correta os nutrientes, colocando a quantidade necessária em cada ponto, sem excessos ou faltas, garantindo um uso racional e sustentável.
Quando se fala em agricultura de precisão, o uso de drones e VANTs (veículo aéreo não tripulado) faz parte do “pacote” tecnologia. É mais barato, mais preciso e mais rápido. A utilização desses equipamentos e de imagens de satélite já é uma realidade e considerados fundamentais para visualização de falhas e estimativas de produção, além de gerar assertividade e eficiência em correções localizadas, dentre elas a pulverização via drone para controle de plantas daninhas e a liberação de agentes de controle biológico.
Dados e informações dão subsídio para avaliar quando o replantio é necessário, além de termos um indicador da qualidade que permite elevar a produtividade nos sucessivos ciclos. Em resumo, quanto maior a capacidade de encontrar uma falha, maior é a produtividade.
Pesquisa & Desenvolvimento:
Outro alicerce para aumento de produtividade está na adoção de variedades modernas, fruto dos programas de melhoramento genético que apresentam um ganho de 8% em relação às variedades tradicionais, uma vez que, desde o momento inicial do processo de seleção, são buscadas características para o novo cenário de produção, como a intensa mecanização, mudanças climáticas e maior pressão de doenças e pragas.
A inovação nos programas de melhoramento genético também proporciona a utilização de variedades selecionadas em ambientes restritivos de produção, fornecendo materiais aptos para os ambientes limitantes no que diz respeito a solo, clima, pragas e doenças. Aqui, vale a pena também destacar o desenvolvimento e a utilização de plantas geneticamente modificadas, resistentes à broca-da-cana, uma das principais pragas do setor, e, possivelmente, o surgimento de variedades resistentes à seca e à molécula de herbicida em um futuro próximo, similar com o que aconteceu com outras culturas no passado.
Estamos certos de que não haverá tempos de produção fácil. Sabemos que a demanda por alimentos no mundo aumenta proporcionalmente à necessidade de preservação de recursos naturais que sustente esse crescimento. Porém, certamente, com apoio da tecnologia e da inovação, estamos no caminho certo, não apenas no que tange ao setor sucroenergético, mas em toda a cadeia agrícola produtiva do Brasil.