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Roberto de Rezende Barbosa

Diretor Presidente do Grupo Nova América

Op-AA-20

Passos largos rumo à concentração dos grupos econômicos

O movimento de ganhar escala para captar valor em todos os elos da cadeia produtiva sucroalcooleira leva-nos a um esforço de subir degraus com fusões, aquisições, abertura de capital e governança. Fazendo uma análise de todos os elos da cadeia, enxergo dimensões sempre multiplicadas por dez em cada elo, desde o setor primário, que é a produção da cana, até a entrega do produto final no seu destino.  

Refletindo esses valores quantitativos, todos na base de tonelada de cana, podemos iniciar o raciocínio com o módulo operacional agrícola de um fornecedor que tenha a operação de plantio, corte, transporte e carregamento até a unidade industrial com 200 mil toneladas, por safra de cana. Este tamanho é estabelecido a partir da viabilidade econômica exigida para a operação com colheitadeiras e demais equipamentos necessários, para que se atinja um nível adequado de produtividade agrícola e logística no módulo, assim como uma boa interface com os elos seguintes na cadeia.

Nas unidades produtoras atuais, podemos dizer que as moendas ou os difusores, caldeiras e destilarias indicam escalas economicamente viáveis da ordem de 2 milhões de toneladas de cana por safra. Na operação industrial, o fator chave será sempre a eficiência em recuperação de açúcar e álcool, focando também nas novas tecnologias que virão, como a cogeração de energia a partir do bagaço da cana.

Na comercialização, uma escala da ordem de 20 milhões de toneladas de cana, por safra - o que equivaleria a um volume de 1,5 milhão de toneladas de açúcar e 900 milhões de litros de álcool, asseguranos relevância para participar e influenciar os canais de vendas, já considerando suas peculiaridades. Olhando, por exemplo, para o mercado nacional de açúcar no varejo, não podemos competir se não tivermos marcas fortes com distribuições regionais e relacionamentos B2B (Business to Business) e B2C (Business to Consumer) bem estruturados. Consideremos ainda o potencial do mercado externo de etanol.

A possibilidade de acesso aos canais de vendas internacionais demandará das empresas a capacitação comercial para estabelecer contratos internacionais que ofereçam segurança de fidelização e garantias de suprimentos em quantidades de bilhões de litros. Já no elo logístico desta cadeia, as dimensões da operação exigirão mudanças estruturais em todos os modais disponíveis no Brasil: rodoviários, ferroviários, portuários e hidroviários - fluvial e marítimo.

No caso do etanol, a movimentação destes volumes deverá envolver navios, com capacidade da ordem de 100 milhões de litros cada. De outro lado, um alcoolduto de 8 polegadas de diâmetro precisará transportar alguns bilhões de litros por ano, para se viabilizar economicamente. De fato, estas escalas de grande proporção já são vistas nas exportações de açúcar, mercado bem mais amadurecido comercialmente. Exemplo: um único shiploader, no porto de Santos, movimenta 3.500 ton de açúcar/hora.

Considerando este cenário, não há condições de viabilizar economicamente esta operação, com volumes menores que o equivalente a 200 milhões de toneladas de cana por safra, também 10 vezes superior ao citado no estágio comercial. Com toda esta necessidade estrutural, dada por estas escalas, é inevitável passar por grandes escolhas, em direção à consolidação.

A receptividade dos vários players aos arranjos societários e empresariais acelera-se ainda mais com a crise financeira atual, exigindo competência em governança e deliberações assertivas em tempo e hora adequadas, para conseguir capturar esse rico momento de oportunidades, que não esteja respaldada por “achismos”. É preciso pensar ainda nos modelos de financiamento adequados para este negócio, principalmente em termos do volume e custo do capital a ser empregado.

Basta considerar as dificuldades que enfrenta um empresário, proprietário de uma única unidade industrial, que esteja instalada em algum rincão do estado de Mato Grosso, para acessar o mercado de capitais na Bovespa ou na Bolsa de Nova York, através de um IPO - sigla em inglês para Oferta Pública Inicial, que marca o lançamento de ações da empresa na bolsa de valores. Por estes motivos, dentre outros, que minha resposta é “sim”, ao pensar se vamos caminhar a passos largos, rumo à concentração dos grupos econômicos dentro do setor sucroalcooleiro.