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Edelclaiton Daros

Diretor Executivo da Ridesa - Professor UFPr

Op-AA-05

Programa Ridesa de melhoramento genético da cana-de-açúcar

RIDESA significa Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento Sucroalcooleiro. É formada por oito Universidades Federais, que incorporaram os acervos tecnológicos, culturais e humanos, e as estações experimentais do extinto IAA/Planalsucar. O IAA/Planalsucar foi oficialmente instituído em 1971, como braço da pesquisa, dando sustentação da cultura da cana-de-açúcar no campo, com soluções e respostas às indagações dos produtores. Atuava em todas as áreas e em todos os Estados produtores.

O programa de melhoramento genético utilizava, no Município de Murici, AL, a Estação de Floração e Cruzamento da Serra do Ouro. O plantio de sementes, a seleção e as etapas posteriores de avaliação eram realizados nas estações experimentais. Os clones promissores eram distribuídos e avaliados nas outras estações e regiões.

Como exemplo desta eficiência, citamos a variedade RB72454, ocupando atualmente 20% da área cultivada no Brasil. Quando extinta, em 1990, todo o acervo tecnológico da IAA/Planalsucar foi absorvido pelas Universidades Federais, criando-se a Ridesa, composta hoje pelas Universidades Federais do Paraná, São Carlos, Viçosa, Goiás, Rural do Rio de Janeiro, Sergipe, Alagoas e Rural de Pernambuco.

Estabeleceu-se um planejamento a curto, médio e longo prazo para o melhoramento genético da cana-de-açúcar. De imediato, foi planejado dar continuidade nas seleções e avaliações dos clones das séries RB80 a 89, que resultou na liberação nacional de trinta e quatro variedades. É impossível mensurar quais seriam as perdas para o setor, caso estas variedades fossem extintas junto com Planalsucar. A médio e longo prazo, procurou-se estabelecer um programa com os objetivos:

a. caracterizar as necessidades regionais de variedades;
b. ampliar o estudo dos progenitores e famílias;
c. aumentar os campos de seleção da fase T1;
d. estudar novas formas de seleção, e
e. aumentar o banco de germoplasma.

No Programa de melhoramento genético da Ridesa, os cruzamentos continuam sendo realizados na Estação de Floração e Cruzamento da Serra do Ouro, sementes de cruzamentos específicos e de cruzamentos comuns, de estudos de famílias, com maior chance de seleção, são enviados às Universidades. Estas no ano de 2004, realizaram plantios, da fase T1, em 17 locais, com 1.270.000 plantulas. Na região centro-sul, seleciona-se nos meses de abril (precoce) e de julho.

Na fase T2, efetua-se seleção nos mesmos locais, sendo avaliados em planta e soca. Na fase T3, aumenta para 35 locais de seleção. Estes clones promissores, das regiões Centro-Sul e Nordeste, são trocados entre si para avaliação final. A fase seguinte de avaliação ocorre nas Usinas, nos experimentos de competição dos clones promissores, com as variedades cultivadas.

Os clones de melhor comportamento são indicados para multiplicação, para verificar a sua performance em áreas comerciais e em unidades produtoras parceiras, para conhecerem seu potencial e manejo. Para se medir a eficiência de um programa de melhoramento genético, devem ser consideradas algumas premissas:

ter uma equipe altamente qualificada e em grande número;
apresentar área científica de apoio,
estratégia e logística;
liberar novas variedades e
utilização destas variedades.

Acreditamos ser inegável que, em relação aos itens equipe qualificada, áreas de apoio, estratégia e logística o Programa Ridesa apresenta uma grande vantagem em relação a outros. Com relação a novas variedades, foram liberadas 34, do trabalho realizado pelo Planalsucar e Universidade, 7 pela Ridesa e outras 20 variedades estão em fase final de avaliação com grandes perspectivas.

Quanto à utilização, as variedades RB representam hoje 56% da área de cultivo nos país. Em relação às perspectivas, novas Universidades deverão ser incorporadas a Ridesa. Vamos estabelecer um centro de melhoramento para o Cerrado, área de expansão da cultura da cana-de-açúcar. Na biotecnologia, participamos do Projeto Genoma.

Estamos na garimpagem dos genes funcionais da cana para características específicas. Como detemos um grande grupo de variedades, teremos a vantagem de incorporar genes específicos em nossas variedades já adaptadas. Temos assim a base (variedade), o meio - as Universidades (laboratório e equipamentos) e, principalmente, professores capacitados para realizar o trabalho.

Um programa de melhoramento dever ter uma visão para no mínimo 30 anos. Há necessidade de um planejamento contínuo e duradouro na área para segurança do setor produtivo. Devemos lembrar que não existe uma forma harmônica de reunião de genes, com ganhos tão expressivos, como o obtido pelo melhoramento convencional.

Acreditamos que a transgenia será mais uma ferramenta, na obtenção de novas variedades. Neste novo momento, em que o setor apresenta grandes perspectivas, deverá haver investimentos em pesquisas e de preferência nas Instituições Públicas, para que este conhecimento gerado retorne à sociedade, a longo prazo, em conhecimentos socializados e na forma de soluções, com baixo custo de implantação, pois entendemos que as Universidades têm compromisso com o país e com o setor sucroalcooleiro.