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Margareta Winberg

Embaixadora da Suécia no Brasil

Op-AA-11

Proposta para abrir as portas da UE para o etanol brasileiro

Tendo em vista os interesses comuns entre o Brasil e a Suécia no setor de bioenergia, creio que vale a pena considerarmos intensificar o diálogo e a colaboração no setor. No âmbito político, os dois países podem contribuir para uma maior concordância nas discussões e na definição de agendas de energia e mudanças climáticas. Num artigo publicado no dia 31 de janeiro, três ministros do governo sueco defenderam uma redução no imposto da UE sobre a importação de etanol brasileiro.

Os Ministros do Meio Ambiente, do Comércio e da Agricultura argumentam que o imposto coloca o Brasil, que tem condições muito favoráveis para produção de etanol, em uma situação desfavorável. Não só a Suécia e os países em desenvolvimento, mas também o meio ambiente, ganham com a liberalização do comércio. Há 35 anos, a Suécia tinha uma dependência de combustíveis fósseis de quase 80%. Hoje, esta dependência foi reduzida para 40%, sendo principalmente concentrada no setor de transportes.

Durante este período, a economia cresceu muito, mas o uso da energia permaneceu o mesmo, o que é uma grande conquista numa economia moderna e dinâmica como a da Suécia. O nosso objetivo é eliminar a dependência dos combustíveis fósseis, especialmente no setor de transportes. O fato da Suécia não ter petróleo é naturalmente um incentivo para trabalharmos neste sentido, mas há outras razões mais fortes: garantir o suprimento de energia com fontes renováveis, diminuir as emissões de gases que provocam o efeito estufa e, concomitantemente, aumentar a eficiência no gerenciamento dos recursos florestais e promover o desenvolvimento regional.

Desde os anos 70, a Suécia vem desenvolvendo tecnologias para a produção de etanol e outros combustíveis, para a segunda geração de biocombustíveis. A argumentação dos três ministros é que o desenvolvimento da nova geração de biocombustíveis, que já tem um bom progresso na Suécia, deve ser o futuro da UE. Estou de acordo com eles, pois durante a minha permanência no Brasil, como Embaixadora, pude constatar as condições favoráveis para produção de etanol neste país.

No curto prazo, acho que o etanol é a melhor e a mais realística alternativa para diminuir a emissão de gases carbonos e abrandar o aquecimento global. É desejável também criar uma plataforma para a cooperação entre a Suécia e o Brasil, em busca do diálogo político, científico e comercial no setor de bioenergia. A Suécia tem feito grandes progressos tecnológicos e temos instalações piloto testando estas novas tecnologias, com o objetivo de torná-las comerciais e competitivas.

Junto com isto, estamos desenvolvendo o mercado para os biocombustíveis. Na área do etanol, a Suécia destaca-se em vários setores. Um bom exemplo é a produção, desde 1989, por parte da Scania, de ônibus movidos a etanol. A emissão de dióxido de carbono diminuiu em até 90%, com relação a dos ônibus comuns. Até agora, a cidade de Estocolmo é a maior operadora, com 25% dos ônibus da frota usando etanol, mas, o interesse nos ônibus da Scania tem crescido também em outros países.

Dentro da Europa, a Suécia é o país que fez maior progresso na introdução do etanol em forma de E85. A Suécia também trabalha dentro da UE para permitir até 10 % de etanol na gasolina. Diversas medidas já foram tomadas para incentivar a venda de carros flex-fuel, melhorar a distribuição dos combustíveis alternativos, bem como a promoção do seu uso.

A Suécia tornou-se, há pouco tempo, o quinto maior importador de etanol brasileiro. Na verdade, a produção doméstica não consegue suprir a grande demanda por etanol no mercado sueco. Neste momento, a maior parte do etanol consumido na Suécia vem do Brasil. Existem várias usinas de etanol na Suécia, mas a necessidade de importar este produto ainda existirá por muitos anos. Acredito que o etanol brasileiro seja uma opção favorável, tanto numa perspectiva energética, como climática.

As mudanças que ocorreram nos instrumentos políticos, para a promoção de energias renováveis, tanto na Suécia, como na União Européia, abrem novas possibilidades para uso da bioenergia. Além disto, a agenda do clima demanda uma ação internacional consistente, para promover tecnologias e modelos de desenvolvimento energético sustentáveis. Para isso, é essencial que haja uma colaboração, em busca de soluções eficientes e competitivas, e que as vocações dos vários países sejam observadas.

Os conhecimentos e experiências complementares da Suécia e do Brasil, no setor de bioenergia, são de grande relevância neste contexto. Isto inclui a produção de biocombustíveis líquidos e sólidos, aplicações para o transporte, geração de eletricidade, calor e resfriamento, e melhoria em sistemas combinados, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias e sistemas. Uma parceria entre Brasil e Suécia seria estruturada numa firme, longa e vasta experiência no setor de bioenergia, de ambos os lados.