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Dib Nunes Junior

Presidente do Grupo IDEA

As-AA-19

A quase sustentabilidade
É desnecessário citar que o setor sucroenergético foi, nos últimos anos, o mais visado pelos poucos esclarecidos legisladores e mídias do País, quando comparado às principais atividades agropecuárias de maior importância. Entretanto pode-se afirmar que esse setor foi aquele que mais evoluiu no aspecto socioambiental. A sua vocação pela sustentabilidade é muito antiga, e os seus produtos são produzidos no mais estrito cumprimento de normas e leis trabalhistas e ambientais.

O respeito pelo ser humano e pelo meio ambiente fazem, do setor sucroenergético, um grande exemplo a ser divulgado mundo afora. O setor priorizou a atenção pelo homem e pelo meio ambiente, investindo cerca de um bilhão de reais, todos os anos, em inúmeros programas para capacitação de funcionários e ações socioambientais, que mudaram completamente o desempenho de seus colaboradores. Com isso, as empresas sucroenergéticas estão colhendo resultados, que se refletiram em aumento da competitividade e lhes garantiram sobrevivência nesses anos de grandes dificuldades.
 
Observe-se que há sérias dificuldades em capacitar cidadãos brasileiros, normalmente pouco comprometidos em suas responsabilidades, além da enxurrada de NRs (Normas Reguladoras) que aumentaram os direitos trabalhistas sem lhes atribuir deveres. Mesmo assim, o setor ainda mantém cerca de 700 mil empregos diretos e uma estimativa de mais de um milhão de pessoas em atividades indiretas, distribuindo renda e qualidade de vida a mais de 1.200 municípios, principalmente da região Sudeste do País, onde se encontram 92% dos canaviais.
 
Programas de âmbito social de todos os tipos foram criados nas unidades produtoras, contemplando desde alfabetização de adultos, especialização em informática, passando por programas especiais de proteção às crianças, campanhas de prevenção à saúde da família do trabalhador, construção de casas populares, eventos esportivos, bolsas de estudo a filhos de funcionários, capacitação profissional para atividades produtivas, programas de prevenção de acidentes, criação de CIPAs, desenvolvimento de equipes de alta performance, prospecção de novos  talentos, música, cursos de idiomas, viagens de estudos, teatro, educação ambiental, reflorestamento, programas de formação de cidadania, além dos programas de recuperação de matas ciliares, nascentes, vegetação nativa, respeito às APP - Áreas de Preservação Permanente, Reservais Legais, biomas e a fauna nativa, demonstrando estrita obediência ao Código Florestal Brasileiro, considerado um dos mais rigorosos e completos do mundo. A expansão da cultura da cana preservou totalmente a Amazônia e as áreas de plantio de alimentos, cuja produção não parou de crescer.
 
Desde 1975, o setor sucroenergético premiou o Brasil com o etanol combustível, que evitou para a atmosfera a emissão de 49 milhões de toneladas de gás carbonico, somente no último ano. Também economizou divisas com importação de gasolina da ordem de US$ 500 bilhões desde o seu início. Isso sem falar do aproveitamento do bagaço para a geração de bioeletricidade, que contribuiu, no último ano, para a redução de mais de 2,6 milhões de toneladas de CO2. E vem aí o carro híbrido elétrico-etanol, que emite apenas 27 gramas de CO2 por km rodado. Outras importantes contribuições do setor para a sociedade foram a eliminação voluntária das queimadas em mais de 90% dos canaviais brasileiros, reduzindo significativamente as emissões de gases e particulados, e a produção de garrafas PET biodegradáveis a partir da sacarose.
 
Para completar o tripé da sustentabilidade, resta comentar sobre a base econômica do setor. Em termos de capital produtivo, estima-se que haja R$ 200 bilhões investidos em infraestrutura, canaviais e indústrias, sendo mais de R$ 130 bilhões em plantas industriais e cerca de R$ 70 bilhões em canaviais e infraestrutura, além de 9,5 milhões de hectares do capital terra e dos intangíveis valores da tecnologia agroindustrial desenvolvida e modernizada continuamente. 
 
O setor industrializou, em 2018, 609 milhões de toneladas de cana, produzindo 28,5 milhões de toneladas de açúcar e 35,3 bilhões de litros de etanóis. Dois terços do açúcar produzido são exportados, e o etanol é 90% consumido aqui mesmo no País, no maior programa de energia renovável do mundo. Entretanto o persistente achatamento dos preços do açúcar no mercado internacional, as baixas margens do etanol e da bioeletricidade, o significativo aumento dos custos de produção de matéria-prima e o elevado endividamento das empresas colocam em risco a sustentabilidade do setor.
 
Espera-se que a nova política econômica liberal do País e a nova onda de tecnologia agrícola que está proporcionando um contínuo ganho de produtividade devolvam o equilíbrio e a sustentabilidade ao setor para voltar a crescer e atrair investimentos. Espera-se, também, uma elevação nos preços das commodities para o próximo ano, o que certamente trará um novo fôlego aos produtores. Aí, então, com certeza, a sustentabilidade estará completa.