A discussão sobre sustentabilidade deixou de ser um adereço e passou a ocupar o centro da estratégia empresarial. O avanço dos eventos climáticos extremos – estiagens prolongadas, chuvas intensas fora de época e ondas de calor – impõe um teste de resiliência a todos os setores produtivos. No caso da bioenergia, esse desafio é ainda mais sensível.
A cana-de-açúcar, base da produção de etanol, açúcar e bioeletricidade, é uma cultura diretamente exposta às variações do clima, e qualquer desequilíbrio hídrico pode comprometer o rendimento agrícola e industrial, com reflexos sociais e econômicos de grande escala. Nesse contexto, as empresas do setor precisam responder a uma pergunta vital: como produzir de forma estável e competitiva em um cenário climático cada vez mais incerto?
A Bevap Agroindustrial, situada em João Pinheiro, Minas Gerais, vem demonstrando que inovação, governança e sustentabilidade podem caminhar juntas na busca por essa resposta. A companhia estruturou um projeto de irrigação em larga escala, 30.000 hectares, que representou um enorme acerto estratégico. O objetivo central foi reduzir a dependência exclusiva das chuvas, mitigando o risco climático e ampliando a longevidade do canavial. Com o fornecimento hídrico controlado, a cultura mantém estabilidade fisiológica, cresce de forma mais equilibrada e suporta períodos de estiagem sem prejuízos relevantes.
Essa escolha estratégica tem produzido efeitos notáveis. A empresa conseguiu assegurar produtividades agrícolas consistentes acima de três dígitos, mesmo em anos de seca severa, quando outras regiões do País registraram forte queda de rendimento. Além disso, a longevidade dos canaviais foi ampliada, reduzindo a necessidade de replantio e, consequentemente, os custos e impactos ambientais associados.
Outro benefício relevante da irrigação está ligado ao controle mais efetivo do ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), parâmetro fundamental para a indústria sucroenergética. Por meio das técnicas de dry-off, que consistem em interromper o fornecimento de água em momentos estrategicamente planejados, é possível induzir o acúmulo de sacarose na planta.
O resultado é uma curva de ATR mais eficiente, que garante maior previsibilidade industrial, otimiza a programação da safra e contribui diretamente para o aumento da competitividade do setor. Assim, a irrigação transcende a esfera agrícola e passa a ser também uma ferramenta industrial, permitindo que a usina planeje sua moagem com maior racionalidade, reduza perdas e assegure matéria-prima de qualidade superior.
Ao implantar esse modelo, a Bevap demonstra que sustentabilidade é um conceito multidimensional. No eixo ambiental, a irrigação é conduzida com critérios técnicos rigorosos, garantindo o uso racional da água e evitando desperdícios. No campo social, a estabilidade da safra permite preservar empregos e dar previsibilidade a comunidades que dependem da atividade sucroenergética. No aspecto econômico, a previsibilidade de produção e de ATR fortalece a posição da empresa em um mercado altamente competitivo, reduzindo volatilidades e reforçando sua atratividade junto a investidores.
O caso Bevap ilustra de maneira concreta como o setor bioenergético pode se preparar para conviver com a instabilidade climática. Não se trata apenas de adotar tecnologias de ponta, mas de incorporar uma mentalidade de longo prazo que antecipa riscos, investe em soluções robustas e entende a sustentabilidade como pilar estratégico.
As mudanças climáticas não são um evento futuro, mas uma realidade presente. As empresas que souberem interpretar esse cenário e agir desde já terão mais condições de entregar resultados consistentes, gerar valor compartilhado e cumprir o papel de protagonistas na transição para uma economia de baixo carbono.
Em João Pinheiro, no coração de Minas Gerais, a Bevap mostra que é possível unir inovação, governança e responsabilidade ambiental para construir resiliência. E deixa uma lição clara: quem investe hoje em sustentabilidade não garante apenas a próxima safra, mas o futuro de toda a cadeia bioenergética.