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Ismael Perina Junior

Produtor Rural

OpAA70

Vivendo e aprendendo!

Ao começar escrever este artigo e me deparar com o tema proposto, de “novo patamar”, gostaria de colocar alguns pontos para reflexão de todos que tiverem a oportunidade de lê-lo. Vivemos momentos bastante diferentes do que o presenciado até agora, pelo menos em minha área de produção.


Há mais de quarenta anos me dedicando a essa atividade, tive a oportunidade de presenciar a maior seca em todo esse período (672 mm de chuva durante o ano agrícola de 01/07/2020 a 30/06/2021), sendo que as chuvas já ocorreram bem abaixo da média durante o primeiro semestre de 2020 e também com praticamente nada de chuva até outubro de 2021. Realmente algo inusitado, e lembrando também que, a partir do final de junho, fomos surpreendidos com três geadas, coisas não corriqueiras, que provocaram danos nas canas a serem colhidas e nas canas já brotadas, além de, também, provocar grandes estragos nas canas plantadas nos meses de fevereiro/abril de 2021.


Resumindo, condições extremamente adversas para o cultivo de cana-de-açúcar, o que foi muito impactante nesta safra e, certamente, também será para a próxima 2022/2023.


Sempre tive como métrica, ao longo de todos esses anos, que era muito difícil uma quebra de produtividade superior a 15% de uma safra para outra, pois o histórico de todo esse tempo nunca ultrapassou esse índice. Pois, então, para minha surpresa, experimentei uma quebra de 21% em relação ao meu histórico de produtividade, coisa que, até então, julgava como impossível.


E, pior, como a seca perdurou por um longo período, provocou a morte de muitas soqueiras, fazendo com que aumentasse bastante minha área a ser reformada, em um momento onde os aumentos de custos são generalizados em praticamente todos os insumos, máquinas e peças, com altas muito expressivas. Embora os preços de cana-de-açúcar tenham tido alta relevante nesta safra, acredito que não sejam suficientes para suportar as altas dos insumos, lembrando que também o óleo diesel teve aumentos expressivos. Mas, enfim, é hora de colocar todo o aprendizado em prática para minimizarmos os efeitos desse desequilíbrio.


Estamos assistindo a uma verdadeira avalanche no que diz respeito a novos produtos e que realmente têm se mostrado efetivos nos ganhos de produtividade.


Quando falamos em “novo patamar”, temos que considerar tudo para tentar tirar o melhor desses produtos. Certamente, testes in loco ajudarão bastante na definição do que deverá ser utilizado, além de trabalhos científicos realizados que nos indiquem os melhores na relação custo/benefício.


Independente  do uso de novos e velhos insumos, um ponto que gostaria de destacar e entendo ser de vital importância diz respeito à formação de novos canaviais.


Temos assistido, ainda, a alguns produtores não dando a devida atenção à qualidade e à sanidade das mudas, e, sem sombra de dúvida, essa é a grande base para o nosso sucesso. Principalmente em um ano como este, em que as geadas foram responsáveis pela destruição de muitas áreas que serviriam como viveiros, certamente caímos na tentação de plantarmos  o que temos, ou seja, qualquer coisa.


Já assistimos a esse filme, e os danos são irreversíveis. Uma forma de minimizarmos esse risco é passar a formação de canaviais através do sistema “meiosi”, pois as linhas “mães” são plantadas em julho/agosto, quando o risco é bem reduzido. Além disso, temos enormes ganhos de qualidade e sanidade, somando-se a isso considerável redução nos custos de plantio.
 



Neste ano, certamente em muitas regiões, os efeitos da seca, como falamos, foram grandes, e aumentará a área a ser reformada neste ano e no ano que vem, ficando aqui a dica da necessidade de se programar para que se tenham as mudas de cana na hora certa e também as variedades previamente escolhidas. Outra alternativa, caso se utilize de mudas pré-brotadas (MPB), é a formação de viveiros no sistema de “cantose”, ou seja, áreas plantadas próximas às áreas a serem reformadas, que melhoram, e muito, a qualidade e a sanidade das mudas e, por serem colmos mais jovens, germinam muito melhor.


Numa situação como esta, em que vivemos de alta de insumos, é tendência natural da maioria dos produtores encolher o uso de insumos, prejudicando, e muito, o desenvolvimento das plantas. Como já passamos por algumas experiências dessa natureza, não aconselho essa prática, e sim buscar alternativas que minimizem um pouco os custos, sem comprometimento dos futuros resultados.




Talvez isso seja muito importante para atravessarmos esta fase, que é crítica, o que não nos dá o conforto para deixarmos de pensar no futuro e melhorarmos o patamar em que nos encontramos hoje. Infelizmente, se analisarmos friamente, no contexto atual, a cana-de-açúcar é das poucas culturas onde a produtividade não vem respondendo ao grande avanço tecnológico que tivemos nesses últimos anos, sendo que, em inúmeros casos, a produtividade é menor do que foi tempos atrás, e essa situação necessita de reversão urgente.


A qualidade dos insumos e a sua diversidade aumentaram consideravelmente, e eles precisam ser aplicados de maneira mais tecnológica, usando-se máquinas e equipamentos já disponíveis, com alta performance e precisão, para que tenhamos sucesso. Claro que, talvez, não tenhamos capacidade de investimento no curto prazo, mas é preciso iniciar o processo. Temos assistido a muitos produtores se utilizando de alta tecnologia e conseguindo índices médios de produtividade, acima dos três dígitos, e é isso a ser buscado.




Esse pessoal tem realizado várias lives, dando dicas de como melhoraram, e isso pode ser importante para iniciar os trabalhos de mudança. Lembrando que não devemos esperar resultados diferentes se continuamos fazendo as coisas do mesmo jeito.


Um ponto que vejo com bastante preocupação, também, diz respeito à colheita, na qual, em muitos casos, não utilizam toda a tecnologia existente hoje, sendo duas coisas básicas: os pilotos automáticos e os copiadores de solo. Sem isso, podemos ter certeza de que o número de soqueiras pisoteadas e arrancadas, ano após anos, é grande colaborador da perda de produtividade. Costumo dizer que pisar nas soqueiras é “pecado mortal”, pois os danos serão sentidos em toda a vida do canavial.


Temos ainda muitas melhorias que precisam ser aplicadas, e, para isso acontecer, o acompanhamento das lavouras é fundamental. Vários técnicos que estão escrevendo artigos nesta edição certamente passarão informações importantes, que deverão ser avaliadas por nós produtores e implementadas de acordo com a capacidade de cada um, fazendo com que a cana-de-açúcar volte a ter seu protagonismo em produtividade, como temos assistido à soja, ao milho, ao algodão e a vários outros produtos. O espaço é grande, e temos que fazer a nossa parte, sob pena de não conseguirmos suportar os custos que atualmente vivenciamos.


Ao trabalho, que essa tarefa é nossa.