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Marcelo Weyland Barbosa Vieira

Diretor de Açúcar e Álcool da Adecoagro Brasil

Op-AA-23

Capital internacional: oportunidade de consolidação da liderança brasileira em biocombustíveis

O investimento estrangeiro na indústria sucroalcooleira não é propriamente uma novidade, pois já tivemos importantes produtores como a Sucrerie Française e a Deltec, com usinas em São Paulo e no estado do Rio. Mas o monopólio das exportações de açúcar exercido pelo Instituto do Açúcar e do Álcool acabou afugentando esses investidores, que se desfizeram de seus ativos no Brasil.

Após a desregulamentação do setor com o fim do IAA, a estabilização de nossa economia e sua maior abertura e, mais recentemente, o crescente interesse mundial na produção de biocombustíveis, vemos a volta do capital internacional investindo em nossa indústria. Ela é a mais competitiva do mundo, pelo ambiente favorável e pela longa capacitação de nossos agricultores.

A combinação ideal de clima adequado com solos de boa qualidade e topografia favorável à mecanização não existe em nenhum outro lugar do planeta numa extensão tão grande como no Centro--Sul do Brasil. Nosso mercado interno, que permite ao produtor um bom mix de produtos com açúcar, etanol e cogeração, leva-nos a ser os produtores de menor custo.

Falta a nossa indústria uma boa estrutura de capital. Tradicionalmente, esse setor foi dominado pela empresa familiar, e seu foco na acumulação de patrimônio leva à busca contínua de expansões incrementais sem uma adequada capitalização. Décadas de alta inflação e instabilidade na economia exacerbaram essa tendência. Como é da natureza da produção de commodities a volatilidade de preços, a falta de crédito para formação de estoques reguladores e a fragilidade financeira de um grande número de produtores geram recorrentes crises em períodos em que a oferta excede a demanda.

Além disso, a sucessão nas empresas mais antigas leva a um controle pulverizado, gerando a perda de interesse no negócio dos minoritários que não participam da gestão. Tudo isso levou, nos últimos anos, a um grande número de fusões e aquisições no setor. Essa tendência à consolidação da indústria, que não é peculiar da agroindústria, mas de todos os setores das economias emergentes, levou a um crescimento as empresas de gestão profissional focadas na rentabilidade do negócio, através de novos projetos e de aquisições.

Os ganhos de escala geram competitividade e permitem acesso a capital internacional com custos muito mais baixos que os do mercado brasileiro. Esse novo tipo de empresa açucareira atraiu a atenção de investidores estrangeiros, interessados na crescente demanda por alimentos e no enorme potencial do mercado mundial de biocombustíveis no longo prazo.

Temos visto críticas de políticos da esquerda vendo nesse movimento uma ameaça à agricultura familiar. Mas as novas empresas que se expandem não têm foco na aquisição de terras, crescendo através do arrendamento, principalmente de áreas de pecuária de baixa produtividade. A produção de cana-de-açúcar não é uma atividade adequada para propriedades familiares, por precisar de escala para mecanização das operações, uma exigência da legislação ambiental, que prevê o fim da queimada da palha antes da colheita.

E a colheita manual se torna mais cara à medida que o país cresce e o custo da mão de obra se eleva. Empresas internacionais têm um forte direcionamento para requisitos de sustentabilidades das operações, com um padrão alto de responsabilidade social, sem os quais o acesso a capital de grandes investidores não é facilitado. O Brasil precisa aproveitar a enorme disponibilidade de capital internacional para desenvolver mais rapidamente esse tremendo potencial de nossa agricultura.

É uma grande oportunidade para potencializar a excelência de nossos operadores, líderes incontestes da agroindústria mundial. A grande novidade é a entrada de grandes traders de commodities e empresas de combustíveis, que passam a integrar a produção com a logística e a comercialização do produto, tornando o produto brasileiro muito mais competitivo internacionalmente.

E a participação de grandes empresas internacionais em nosso negócio certamente facilitará, em alguma medida, a abertura de novos mercados para nossos produtos. Temos as condições naturais para sermos os produtores de menor custo: temos empresas com excelente gestão operacional, temos liderança na tecnologia – falta-nos disseminar os conceitos de foco no resultado final, na capitalização da empresa, no retorno total do investimento.

A participação de grandes empresas de capital nacional ou internacional, baseadas em boas equipes locais, mas com um foco muito maior no resultado final do negócio, traz um novo padrão de excelência que, a longo prazo, vai disseminar-se por toda a nossa indústria, consolidando nossa posição de liderança mundial na produção de energia renovável.