Engenheiro Especialista Agroindustrial do CTC
Op-AA-28
Ao falarmos em plantio mecanizado da cana-de-açúcar, pensamos imediatamente nas operações relacionadas à última etapa desse processo, que ocorre na área de plantio, negligenciando muitas vezes as demais operações envolvidas. Dentre essas operações, destacam-se a colheita e o transporte de mudas, que impactam diretamente no custo e na qualidade do material que está sendo propagado.
É preciso entender que o conceito da colheita de mudas é diferente do da colheita de cana para moagem, cujo foco é a produtividade sem perda da qualidade (impurezas minerais e vegetais), enquanto, na colheita de mudas, o foco é a qualidade (brotação e vigor) sem perda de produtividade.
A colheita mecanizada é um processo de intenso contato físico entre as partes mecânicas da máquina e o tecido vegetal, devendo ser monitorada sistematicamente para minimizar os danos no material a ser propagado. Trata-se de uma interação complexa entre engenharia e biologia, na qual se busca extrair o melhor desempenho da máquina sem comprometer o desenvolvimento da planta.
Para avaliar o impacto da mecanização no plantio da cana-de-açúcar, toma-se como base o plantio manual, que utiliza colmos da cana cortados manualmente e que também são plantados de forma manual. Via de regra, esse sistema de plantio utiliza cerca de 10 a 12 toneladas de muda por hectare.
Já no plantio mecanizado, utiliza-se aproximadamente de 18 a 22 toneladas de mudas, cujo plantio é feito mecanicamente através de plantadoras de toletes. Isso representa um acréscimo de 100% na quantidade de mudas utilizadas, onerando significativamente os custos dessa operação, uma vez que a muda representa aproximadamente 30 a 40% do custo total de plantio.
E qual o motivo de se plantar mais mudas no sistema mecanizado em relação ao manual? Seria somente devido ao dano causado à gema, que é a estrutura presente no tolete, responsável pela geração de uma nova planta?
A resposta não é tão simples assim. Supondo que a média de gemas danificadas num plantio mecanizado seja da ordem de 10%, justificaria plantar 10% a mais de gemas, ou seja, aumentar a dosagem de mudas de 12 para 13,2 toneladas por hectare. Além da confiabilidade da dosagem da plantadora que ainda precisa ser aprimorada, a resposta para o aumento de 100% da quantidade de muda está na redução do índice de brotação das gemas devido ao dano no sistema fisiológico do tolete, que provém das injúrias ocasionadas nas operações mecanizadas, principalmente na colheita.
Esse dano pode ser mínimo e imperceptível, porém suficiente para interferir negativamente no processo fisiológico das gemas. Dependendo da intensidade do dano, o resultado poderá variar desde uma redução na resistência ao estresse do ambiente, como déficit hídrico ou baixa temperatura, até inviabilizar a geração de uma nova planta.
Atualmente, não existem colhedoras desenvolvidas especificamente para a colheita de mudas, sendo necessário adaptação das máquinas convencionais. Estimativas do setor apontam que, em 2015, serão necessárias mais de 1.000 colhedoras de mudas, justificando maior atenção a esse tipo de equipamento.
Mesmo com os recentes aprimoramentos nessas colhedoras, os ganhos obtidos em termos de qualidade são incrementais, e o setor precisa de um salto tecnológico nessa operação, representando um esforço a mais para conter os avanços do custo da produção agrícola.
A expansão das áreas plantadas mecanicamente irá aumentar a necessidade de veículos de transbordo. O impacto desse equipamento na qualidade da muda é bem menor se comparado à colhedora, porém deve-se ter atenção especial na utilização desse equipamento na colheita. Para otimizar o transporte da muda em situações onde o viveiro está distante do plantio, é necessário adotar veículos de transbordo de alta velocidade que possuam pneus rodoviários.
Uma vez adentrados na área de colheita, esses veículos causam sérios danos à cultura, devido ao pisoteio da soqueira e à compactação do solo. A substituição dos pneus rodoviários pelos de alta flutuação e baixa pressão reduz o problema da compactação, porém não elimina o pisoteio da soqueira. Uma alternativa é utilizar transbordos acoplados a tratores com bitolas corretamente ajustadas para fazer a transferência da muda recém-colhida para o veículo com pneus rodoviários.
O plantio mecanizado ainda é um desafio para a engenharia, porém trata-se de um sistema que, em breve, será adotado na maioria das áreas de cultivo da cana-de-açúcar, devido não só à escassez de mão de obra, mas também às oportunidades de redução de custo e melhoria do canavial.
Apesar das dificuldades atuais, a adoção de equipamentos adequados para colheita, transporte e plantio, juntamente com um bom planejamento da reforma do canavial, certamente resultará na opção mais viável em termos logísticos, econômicos e estratégicos para o setor sucroalcooleiro.
Nesse contexto, é fundamental o investimento em pesquisa e desenvolvimento, a fim de não perdemos o timing nesse processo e sermos surpreendidos, no futuro, com equipamentos de baixo desempenho e que não atendam às expectativas ou que limitem as estimativas de lucros no setor sucroalcooleiro.