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Carlo Filippo Massimiliano Lovatelli

Presidente da Abag - Associação Brasileira de Agribusiness

Op-AA-22

O papel do etanol e da bioeletricidade para a política sobre o clima

A cadeia sucroenergética é um case na consolidação da tecnologia e da gestão no agronegócio brasileiro. São 40 anos de experiência desde o surgimento do Proálcool. Nas últimas décadas, o aumento da produtividade nas lavouras e na indústria de cana-de-açúcar, fruto dos significativos avanços tecnológicos, foi o grande responsável pela competitividade do etanol.

Dos anos 70 até a atual década, a produtividade média de conversão de cana em etanol, em tonelada por litro, passou do patamar de 60 para 90. Um aumento expressivo na ordem de 50%. Maior extração, tratamento e fermentação do caldo da cana, destilação e melhorias no campo da energia contribuíram para esse avanço. Recentemente, o grande marco nesse processo de evolução do uso do etanol foi o lançamento, em março de 2003, dos modelos de carros flex-fuel.

Desse ano até os dias de hoje, foram comercializados mais de 8 milhões de carros flex. A estimativa é que esses modelos somem 75% da frota em 2020. Como o etanol vem sendo testado para abastecer ônibus, motos, aviões e até usinas termelétricas, o mercado desse biocombustível crescerá ainda mais. A produção de energia a partir da biomassa, chamada de bioeletricidade, ganhou espaço quando do apagão em 2001, sendo apontada como um complemento limpo e seguro da matriz energética nacional.

Com competência, as usinas de açúcar e álcool conseguiram inserir a bioeletricidade na conjuntura, e, com uma política setorial estabelecida, em breve, teremos a inserção total desse potencial no setor elétrico. O impacto positivo do etanol no clima é substancial e já foi comprovado em pesquisas do Instituto de Estudos Avançados da USP e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp.

Entre 1990 e 2006, o uso do álcool combustível permitiu ao Brasil, excluindo a parcela devida ao desmatamento, reduzir as emissões dos gases de efeito estufa em 10%. No transporte e na geração de energia elétrica, a contribuição do álcool é ainda mais significativa. Em 2006, o uso do etanol como combustível proporcionou a redução de 22% das emissões finais dos dois setores e pode chegar a 43% em 2020. O balanço energético também é positivo, seja em relação ao milho, ou à gasolina.

O Protocolo de Kyoto estabelece limites para as emissões de CO2 para todos os países e mecanismos de mercado de créditos de carbono para minimizar o custo dessas emissões que causam o efeito estufa. O primeiro período de verificação do cumprimento das metas de Kyoto termina em 2012.
Hoje, o debate está centrado nos limites para um segundo período.

Não se sabe ao certo quais serão esses limites, mas há um consenso recente de que o aumento da temperatura não pode chegar a 2 ºC até o final do século. 
A COP 15 - 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, que acontecerá em dezembro, em Copenhague, na Dinamarca, tem a missão de definir essas metas para emissão de gases do efeito estufa e rever o Protocolo de Kyoto.


Independente do sucesso ou não das negociações, essa será uma grande oportunidade para o Brasil assumir uma postura firme e ativa sobre mudanças climáticas, como uma posição de vanguarda mundial no uso de energia limpa e de líder em biocombustíveis. Com objetivo principal de sensibilizar o governo e incrementar a agenda das negociações globais na COP 15, a Abag e outras treze importantes entidades brasileiras do agronegócio, florestas plantadas e bioenergia saíram na frente e criaram a Aliança Brasileira pelo Clima, em setembro passado.

Em documento entregue ao embaixador Luiz Alberto Figueiredo, a Aliança aponta a necessidade de ações coordenadas e urgentes que priorizem tecnologias de mitigação disponíveis, economicamente viáveis e de impacto no curto prazo. Para a Aliança, primeiro o Brasil precisa criar formas para mensurar, verificar e ainda comunicar o andamento do seu processo de redução do desmatamento. Para tanto, deve pleitear a remuneração pela prestação de serviços ambientais, de modo que os recursos deverão chegar diretamente ao produtor rural. O agronegócio brasileiro está preparado para os desafios da sustentabilidade. Temos história, potencial e competência para isso.