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Carlos Eduardo de Araujo

Conultor de Planejamento e Custos da PRX

Op-AA-11

País do futuro: mais uma oportunidade

A possibilidade do Brasil tornar-se um grande exportador de álcool, abastecendo os países desenvolvidos com uma fonte de energia renovável e sem danos ao meio ambiente, é uma oportunidade que nenhum outro país possui, pois não há quem possa competir conosco nesta área, em igualdade de condições. Este estágio de desenvolvimento foi atingido em decorrência de muitos investimentos e pela visão estratégica de alguns brasileiros, que acreditaram nesta possibilidade.

Para entender como alcançamos este nível tecnológico, é necessário conhecer nosso primeiro programa do álcool. Decorrente da crise do petróleo de 1974, o Brasil instituiu o Programa Nacional do Álcool, Proálcool, como estratégia governamental para o setor energético, tendo como premissa a redução da vulnerabilidade do país, que possuía uma elevada dependência do suprimento externo de petróleo.

Este programa tinha por objetivos:

 

  • Equilibrar a Balança de Pagamentos;
  • Desenvolver o setor energético (incremento da oferta interna de álcool e eficiência nos processos de produção);
  • Contribuir para a melhoria dos desequilíbrios regionais;
  • Geração de emprego, melhoria da distribuição de renda e padrões sociais;
  • Consolidação da indústria de bens e serviços e insumos agroindustriais, e a modernização de nossa agricultura.

A integração dos vários segmentos econômicos, políticos e sociais do país, como os setores agrícola, industrial, energético, financeiro, de relações do trabalho e o próprio setor de açúcar e álcool, fez do programa uma referência mundial e se constituiu num fator de fortalecimento da segurança nacional.

Já nos primeiros anos do Proálcool, alcançamos resultados surpreendentes. Na safra 82/83, somente no centro-sul do país, foram criados, aproximadamente, 250 mil empregos diretos, com a ocupação de cerca de 1,5 milhão de hectares de terra, para o plantio da cana-de-açúcar. O PIB atingiu US$ 278 bilhões, com a agroindústria do açúcar e álcool, contribuindo com 3%, enquanto a indústria automobilística representou 1,3%.

Ao contrário do que se dizia, o Proálcool criou condições para o aumento da produção de alimentos, pois nas regiões onde se concentravam a produção de cana, a cultura de cereais expandiu-se significativamente, reduzindo sensívelmente a dispensa dos trabalhadores temporários, ao final da safra canavieira, diminuindo o contingente de “bóias-frias”.

A produção de 5,2 bilhões de álcool, na safra 82/83, representou uma oferta equivalente a 10 mil barris de petróleo, correspondendo, na época, cerca de 1/3 da produção de petróleo, possibilitando uma economia de divisas de US$ 4,5 bilhões, com a substituição de gasolina. O Proálcool foi um distribuidor de renda: 46% do preço da tonelada de cana representava o valor de mão-de-obra agregada, contra 26%, em outras culturas.

Os produtores de açúcar e álcool, em conjunto com fabricantes de equipamentos e centros de tecnologia, vêm desenvolvendo, permanentemente nesses anos, novas tecnologias para o crescimento da produtividade agrícola e industrial. O elenco de resultados alcançados já credenciava o etanol como o mais avançado esforço de desenvolvimento de fontes energéticas alternativas, internacionalmente reconhecida. A substituição de gasolina por álcool, no período de 1976 – 2004, representou uma economia de US$ 60 bilhões.

Fundamentados nestes dados, podemos concluir que o Brasil tem condições de ser um grande player neste mercado internacional. Porém, há lições de casa a serem feitas. Novas fronteiras agrícolas estão sendo ocupadas pela cana, sem prejuízo das demais culturas, detemos tecnologia avançada e possuímos os elementos necessários para nos tornar um grande fornecedor de energia renovável e limpa para o mundo.

As unidades produtoras estão em busca constante de novas tecnologias, investindo, significativamente em automação da produção, na gestão da logística das rotas das áreas agrícolas, inovando e diversificando a produção e a comercialização. A busca da otimização dos recursos é conseqüência direta do acirramento da competição.

Com o álcool tornando-se uma commodity, haverá a necessidade de multiplicar nossa produção, reavaliando os investimentos nas questões de mercado, infra-estrutura e gestão. Uma questão fundamental desta análise é a dos subsídios à produção agrícola, que hoje são concedidos pelos países desenvolvidos, que somam aproximadamente US$ 1 bilhão ao dia.

Quando pensamos em exportação do álcool, os EUA são nosso horizonte, pois, representando 31% do PIB mundial, tornam-se o mais importante player do lado da demanda no mercado internacional. O uso ineficiente dos recursos, através da concessão de subsídios americanos, em 2000, custou ao contribuinte daquele país US$ 20 bilhões.

Mesmo assim, já foi anunciado, em 31 de janeiro de 2007, pelo Departamento de Agricultura americano, um desembolso de US$ 87 bilhões para os próximos cinco anos. O efeito disto para o Brasil é devastador. No caso da soja, a perda atinge US$ 9,4 milhões. Cada 1% deste subsídio representa, aproximadamente, a perda de 1.400 empregos.

Outra questão que me preocupa (e isso pode vir a virar o jogo), refere-se à gestão empresarial: ainda encontramos empresas que não conhecem a diferença entre gestão e propriedade. Tradicionais conglomerados familiares deixaram o mercado exatamente porque não entenderam esta questão. Encontramos centenas de usinas que avaliam seu custo de produção sem uma metodologia adequada e, em função disto, a empresa é administrada por meio do fluxo de caixa. Em um mercado de commodities, existem três variáveis fundamentais: Lucro = Preço menos Custo.

Como o preço é determinado pelo mercado, somente o custo pode ser gerenciado. Mesmo assim, temos visto usinas e destilarias que não poupam esforços para investimentos em caldeiras, dornas, colunas de destilação e informática, mas que jamais pensam na necessidade de manter equipes de profissionais com conhecimento nas modernas técnicas gerenciais e de mercado. As regras do jogo estão na mesa: o Brasil tem condições de deixar de ser considerado o país do futuro e ser, finalmente, o país do presente.