Presidente do Sindalcool - Paraíba
Op-AA-25
O cenário atual da produção da cana-de-açúcar mostra um crescimento anual médio de 9%, desde a safra 2006/2007 até a safra 2010/2011, com projeção de 595 milhões de toneladas. Com relação ao açúcar, a produção tem crescido 3% ao ano. O crescimento anual médio da produção de etanol tem sido ao redor de 20%. Um cenário positivo de ganhos em escala e aumentos de produção por aperfeiçoamentos de processos, principalmente no caso do açúcar.
No campo, é preciso estabelecer metas de adoção de variedades mais precoces, com melhores níveis de ATR logo nas primeiras quinzenas de corte, porque ainda há um longo período de moagem com baixo rendimento. A frota flex em 2010 já atinge 13,7 milhões de veículos, representando 43,6% da frota total. Em 2020, deverá ser superior a 31 milhões de veículos, ou seja, 73,8% da frota total, garantindo uma demanda aquecida, tanto para o etanol hidratado como para o anidro.
Para atender a esse crescimento de demanda, será necessário manter um crescimento de 40 a 50 milhões de toneladas de cana ao ano, o que representa a instalação de 10 a 15 novas unidades. As projeções para 2020 definem o consumo em 9,3 bilhões de litros de anidro e 32,5 bilhões de litros de etanol hidratado. Os investimentos necessários para esse volume são estimados em US$ 35,3 bilhões, com recursos gerados pela própria atividade, suplementados por financiamentos.
Esses financiamentos, no cenário atual, servirão para elevar as áreas cultivadas em mais 4 milhões de hectares de cana-de-açúcar. Se, por um lado, nesta safra, é menor o excedente exportável, por outro, o crescimento das vendas de etanol para a alcoolquímica é muito animador. A demanda já contratada de etanol a ser convertido em ácido acético, acetato de etila, ETBE, ether glicol e outros derivados, cresce de 323 milhões de litros em 2010 para mais de 2,5 bilhões de litros em 2015.
Há ainda 1,9 bilhão de litros de etanol para os bioplásticos. A indústria alcoolquímica passa a ser parceira preferencial diante das atuais barreiras do mercado internacional. Os negócios com a indústria química no etanol começam a acontecer nas operações da BMF-BOVESPA. As importações de ácido acético em 2010 batem a casa das 100.000 toneladas/ano.
O setor sucroenergético precisa conquistar esse espaço. A taxa de conversão do etanol para ácido acético é de 1:1. Essas importações podem ser evitadas. A indústria sucroquímica pode nos trazer ganhos maiores. O Brasil ainda não produz comercialmente a goma xantana, produto de fermentação lenta da sacarose, cujo preço no mercado global é superior a US$ 4,5 mil a tonelada. Com a atual euforia do Pré-Sal, o setor deverá se diversificar para reduzir os riscos.
No Brasil, o grande importador de goma xantana é a Petrobras, comprada da China. No que se refere ao ácido cítrico, a produção brasileira ainda é pequena. A conversão de 900.000 toneladas de cana em 60.000 toneladas de ácido cítrico rende um faturamento anual de US$ 90 milhões. O furfural é um outro derivado da biomassa.
Começou a ser produzido nos Estados Unidos em 1922, período em que o governo americano buscava maior autossuficiência nacional na indústria e melhor utilização dos restos de cultura no campo. A Quaker Oats Company, tradicional empresa do agronegócio, passou a produzí-lo a partir de cascas de aveia e sabugo de milho. O furfural tem várias aplicações de larga escala devido às suas características de solubilidade e fácil recuperação por destilação a vapor.
Tem a propriedade de dissolver outras olefinas, aromáticos e insaturados. Hoje, todas as grandes companhias de petróleo usam esse derivado como um solvente seletivo na refinação de óleos lubrificantes. Essa tecnologia possibilita a produção de petróleo de alta qualidade com propriedades melhoradas no binômio viscosidade-temperatura.
Os aromáticos mercaptanas, componentes polares, são removidos do petróleo por meio da extração, utilizando o furfural. O derivado pode também ser usado como agente de descoloração para refinar resina de madeira bruta e na fabricação de resinas aeronáuticas. O Brasil ainda não tem produção industrial de furfural nem do álcool furfurílico.
Sua matéria-prima seria o bagaço, palhas e pontas. O setor conta ainda com o dióxido de carbono da fermentação que pode ser utilizado no estado supercrítico com grandes vantagens industriais. Essas são algumas possibilidades de ampliação do EBITDA. A tarefa é converter o potencial em caixa.
Várias são as ações que a sociedade pode tomar em favor desta energia limpa e renovável: a CIDE precisa consolidar-se em um imposto ambiental; o ICMS precisa ser reduzido para o etanol combustível, e a bioeletricidade merece receber uma melhor remuneração. É preciso, ainda,valorizar a geração na ponta, ao invés de térmicas sujas, e apoiar os empregos no campo, através da produção do etanol, do açúcar e da cogeração de eletricidade elétrica.