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William Lee Burnquist

Gerente-geral da Ceres Sementes do Brasil

Op-AA-28

Antecipando a safra

Tem-se observado uma evolução significativa em todos os processos de produção de cana-de-açúcar nos últimos trinta anos. Sistemas de plantio, colheita e transporte são muito mais eficientes hoje que no passado. O que dizer de sistemas de aproveitamento de coprodutos? Vinhaça e torta de filtro extraídas no processamento industrial retornam nutrientes à lavoura, um excelente exemplo de produção sustentável.

O melhoramento genético praticado por instituições como o Centro de Tecnologia Canavieira, a RIDESA e o Instituto Agronômico de Campinas tem disponibilizado variedades produtivas para inúmeras condições edafoclimáticas. A despeito de todos os progressos, o setor ainda não consegue resolver de forma satisfatória os efeitos nocivos da produção sazonal.

É certo que, atualmente, a safra é mais extensa do que há trinta anos, em parte devido ao desenvolvimento de variedades precoces que atingem valores razoáveis de ATR nos primeiros meses de safra. Mesmo assim, ainda temos quase quatro meses de entressafra no Centro-Sul. Entre os problemas causados pela existência da entressafra, destacam-se o elevado custo fixo da unidade industrial e a interrupção da receita para o produtor.

Para o consumidor, a sazonalidade da produção cria um desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Além da necessidade de aumentar a oferta de etanol para atender à crescente demanda, há necessidade de equilibrar a oferta durante o ano. Neste ano, mais uma vez, a nossa safra de cana começa com falta de matéria-prima.

Condições climáticas do ano anterior dificultaram o planejamento para esta safra, e a falta de matéria-prima impulsionou os preços de etanol neste início do ano. O setor e o governo estudam medidas para equilibrar a oferta de etanol. Discutem-se a estocagem do produto e até sistemas de intervenção fiscal e financeira, de resultado duvidosos.

Atualmente, algumas empresas estão adotando uma tecnologia inovadora para antecipar a safra de etanol, o que pode representar uma contribuição expressiva para reduzir os problemas que vêm ocorrendo com a oferta de etanol. Trata-se do emprego do Sorgo Sacarino para a obtenção do biocombustível.

Essa cultura tem um ciclo curto, de aproximadamente 120 dias, período em que acumula no seu colmo uma abundante quantidade de caldo com elevados teores de açúcares próprios para a fermentação etanólica, ou mesmo para fermentações mais avançadas, como a produção de butanol ou farneseno.

A Ceres tem avaliado inúmeros híbridos de sorgo sacarino em várias condições edafoclimáticas no País nos últimos anos. Esses híbridos, oriundos de cruzamentos de machos e fêmeas de sorgo sacarino, superiores aos cruzamentos realizados entre sorgo sacarino e sorgo forrageiro feitos no passado, têm mostrado potencial de produção de 60 a 80 toneladas por hectare, com teor de açúcar de 120kg por tonelada nos meses de março e abril.

Um possível manejo  para essa cultura é o plantio em novembro e a colheita em março, 120 dias após o plantio.  Dessa forma, a usina pode iniciar a safra processando o sorgo sacarino com teores mais elevados que os da cana e adiar a colheita e início de processamento da sua cana para um período de ATR mais elevado.

Esse manejo também permite que a usina utilize sua área de reforma para o plantio do sorgo sacarino, o que resultará em acréscimo da produção de etanol, sem prejuízo para a área de cana, pois a mesma área que recebeu o sorgo pode ser utilizada para o plantio de cana, após a colheita do sorgo.

Dessa forma, a produção de etanol de sorgo não substitui a da cana; ao contrário, soma-se a ela, proporcionando um excelente exemplo de produção complementar e eficiência no uso dos fatores de produção, resultando em significativo aumento de receita e equilibrio de fluxo de caixa. O manejo de novembro a março também permite uma maior flexibilidade na programação da safra.

No final de uma safra, já é possível prever com certa precisão a falta ou a sobra de cana para a próxima safra. O plantio de sorgo em novembro pode ser recomendado em tempo para suprir a falta de matéria-prima para a próxima safra, algo impossível de se fazer com a cana-de-açúcar, devido ao seu ciclo longo. Nesta safra de 2011-2012, por exemplo, muitas usinas poderiam ter se beneficiado do plantio de sorgo sacarino em novembro de 2010.

O sistema de produção de sorgo sacarino, com exceção do plantio por sementes, utiliza os mesmos equipamentos agrícolas já existentes na usina, inclusive na colheita. Recomenda-se colher o sorgo com colheitadeiras de cana convencionais, maximizando o uso delas. Sistemas de transporte utilizados no sorgo sacarino também são os mesmos da cana. Na indústria, o sorgo pode ser processado de forma idêntica à cana, seja em moendas ou nos difusores, não havendo necessidade de investimentos adicionais.

O sorgo sacarino pode ser caracterizado como um drop-in feedstock, ou seja, uma matéria-prima que “cai” ou se encaixa no atual sistema de produção e processamento, sem a necessidade de alterações. O plantio através de sementes é uma das grandes vantagens do sorgo sacarino.

Uma das grandes frustrações dos produtores de cana é a logística, o custo e a lentidão da expansão da lavoura. Plantar 10 mil hectares de cana é um pesadelo. Plantar 10 mil hectares de sorgo sacarino é “um tapa”. Por essas e outras razões, acreditamos que muitos produtores passarão a adotar essa nova tecnologia nas próximas safras.