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Pedro Luiz Fernandes

Presidente da Novozymes Latin America

Op-AA-22

Já não há mais tempo para discussões

Desde a expansão da Revolução Industrial pelo mundo, a partir do século XIX, não paramos de produzir cada vez mais e, até certo momento, pensamos que os recursos naturais não chegariam perto da sua escassez e que o petróleo, até então abundante, era infinito. Em resposta a esse pensamento equivocado, temos as alterações climáticas cada vez mais perto de nós.

Nosso país, sempre tido como abençoado por Deus, tem passado por acontecimentos climáticos nunca antes experimentados. As alterações climáticas devem ser tratadas como um enorme risco para a nossa economia e sem falar nos prejuízos sociais que isso tem causado. Diante dessas evidências, muitos países começaram a pensar no futuro desenvolvimento de suas economias com baixas emissões de carbono e, na sua maioria, passaram a olhar com mais atenção para as fontes de energias renováveis.

E o Brasil não é exceção, pois está olhando agora para outras fontes de energias renováveis, para impulsionar o seu desenvolvimento econômico a longo prazo e garantir a sua matriz energética nacional, acreditando que essas fontes poderão contribuir para a mitigação dos efeitos devastadores das evidentes alterações climáticas.

Embora muitas ações tenham sido tomadas para mitigar esses efeitos, não devemos esquecer que o crescimento da população mundial é contínuo e deverá atingir cerca de 9 bilhões em 2050. As escolhas que se fizerem ao longo dos próximos cinco anos, em termos de energias renováveis, terão um profundo impacto nas próximas décadas para a sobrevivência da humanidade.

As ações que serão tomadas de agora em diante hão de ser conjuntas, já que pouco representarão se forem isoladas, como acontece hoje. As nações precisam se unir em torno de um objetivo comum, num trabalho con
junto, para que obtenham resultados. É quando repensamos o amanhã que surgem alternativas para a energia do futuro.

O Brasil é, indiscutivelmente, o líder mundial na produção e no consumo de biocombustíveis de fontes renováveis, utilizando, além das tecnologias já existentes, outras que estão em desenvolvimento. O melhor exemplo é o uso da cana-de-açúcar na produção de biocombustíveis, que cada vez mais terá sua importância aumentada devido à demanda mundial para combustíveis de origem não fóssil, e a produção de biocombustível de segunda geração, aquele produzido através do bagaço da cana, será uma excelente opção.


Esse será um diferencial para o Brasil como futuro exportador. Além do etanol de segunda geração, do bagaço ainda se produz energia que pode ser convertida em bioeletricidade, pois, assim como o mundo necessita cada vez mais de combustíveis, o mesmo acontece com a eletricidade. Os biocombustíveis estão sendo taxados como poluidores tanto quanto o são os combustíveis fósseis. Para afirmações equivocadas como essa, os combustíveis fósseis, os biocombustíveis e a bioeletricidade devem ser avaliados e julgados pelo mesmo parâmetro.

Caso contrário, será como uma brincadeira de cabo de guerra. O uso indireto de terras agricultáveis é outro tema que vem à tona quando se fala da produção de biocombustíveis - afinal, a terra existe para produzir alimentos ou biocombustíveis? A resposta é simples: as duas alternativas estão corretas. 
Uma excelente iniciativa do governo federal foi o recente lançamento do Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar - ZAE, ainda que necessite de certo aperfeiçoamento.

O ZAE proíbe a expansão dos canaviais no Pantanal, na Amazônia e na Bacia do Alto Paraguai. Dessa forma, ficará patente que os canaviais não colocam em risco a produção de alimentos, embora não tenhamos esse debate no Brasil. São muitos os hectares de terras abandonadas no Brasil e no mundo. Já existem estudos que comprovam que, se um mapeamento dessas terras fosse feito, teríamos terra suficiente para a produção de alimentos e de matéria-prima para produção de biocombustíveis.

Entretanto esse mapeamento deve fazer parte do conjunto de iniciativas do governo, assim como a participação das partes interessadas nesse tema, que deve assegurar que as iniciativas sejam exequíveis. Já não há mais tempo para discussões. Resta, agora, pensar o que fazer para que as futuras gerações não sofram os impactos negativos advindos dos equívocos até hoje cometidos e esperar que as nossas atitudes, de agora em diante, sejam sustentáveis.

Que a Conferência das Partes (COP 15) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCC), que será realizada em Copenhague, Dinamarca, em dezembro próximo, não seja apenas mais um Protocolo de Kyoto, que mais 12 anos se passem e que pouco se faça. Espero ainda que os países mais industrializados discutam e encontrem uma maneira de transferir suas tecnologias para aqueles que estão em desenvolvimento.