Diretor Industrial do Grupo Balbo
Op-AA-23
Depois de quase 500 anos, o Brasil colhe os melhores frutos de seu primeiro ciclo econômico, aquele que inaugurou no mundo a economia de escala, para baratear o acesso de todos ao açúcar de cana. Das páginas de testamentos das famílias abastadas aos frascos das boticas, ele passou a ser distribuído a granel por todos os mercados. Logo, vieram os derivados mais conhecidos.
Agora, as centenas de subprodutos resultam mais da competência e do talento brasileiro para desenvolver tecnologia adequada do que do tamanho da produção. Não há, no planeta, cenário melhor para despertar interesses de todas as nações – afinal, ninguém vive sem energia. E, cada vez mais, ninguém poderá viver sem energia alternativa.
É justamente essa que tiramos dos canaviais, a mais limpa, barata e renovável, quando gerada aqui. No século XVI, essa planta deslocou, do Oriente para o Brasil, o eixo da mais moderna rota de comércio de então. Neste começo do século XXI, a mesma cana – inacreditável – é a matéria-prima capaz de substituir, com a alcoolquímica e a sucroquímica, a que parecia inabalável dependência do petróleo e seus subprodutos.
Imagine a humanidade atrelada exclusivamente às fontes fósseis, finitas e de custos ascendentes, para suprir suas necessidades de sobrevivência. O etanol não vem para assumir essa exclusividade do mercado, mas demonstra que está aí para contribuir com a matriz energética mundial, com sua característica renovável, de custos descendentes e de grande gerador de postos de trabalho cada vez mais qualificados.
O conhecimento dessas propriedades agregadoras de valor da cana-de-açúcar está na raiz das nossas empresas. É, também, um dos fatores determinantes para chegarmos a mais de sessenta anos de atividades, nas mãos da terceira geração, conservando as características que as originaram. Essa perseverança se traduz na solidez do grupo, que traz consigo a consciência de que, quando se come uma maçã, alguém plantou a macieira, como ensinava o pioneiro Attílio Balbo.
Complementa essa consolidação permanente nossa participação na Copersucar, um autêntico convívio de empresas e empresários que buscam continuamente a eficácia e os melhores padrões de administração e produção. Somos uma empresa familiar que se tornou referência mundial na busca e na qualidade de todos os produtos e subprodutos que a cana-de-açúcar pode oferecer, porque respeitamos a natureza onde ela é cultivada e a diversidade única dessa matéria-prima.
Essa dedicação, baseada no investimento em tecnologia, permite-nos obter, em larga escala, o açúcar e o álcool, mas, principalmente, a conquista de nichos de mercado com derivados importantes, como nosso pioneirismo com cogeração da energia elétrica a partir do bagaço; o açúcar e o álcool orgânicos; o plástico biodegradável; a cera de cana; a levedura, com alto teor proteico. Cada um é o vértice de um leque de novas oportunidades de aproveitamento da cana.
O planejamento estratégico de nossas empresas sinaliza que, no curto prazo, eles responderão pela metade de seu faturamento. Essa diversificação é um grande atrativo, mas ela só se consegue com investimento, primeiro, na educação do trabalhador, no seu aprimoramento, e, finalmente, na tecnologia que vem dessa filosofia.
Não precisamos nos preocupar com a vinda do capital estrangeiro interessado em participar do crescimento do setor sucroalcooleiro. A eventual queda da barreira americana ao etanol do Brasil pode até acelerar o ritmo desses investimentos. Mas, seja qual for a velocidade, prevalecerá o conceito alicerçado no princípio de que nós temos muito mais do que o álcool a oferecer.
É natural que aconteça a internacionalização, e, mais ainda, deve ser motivo de orgulho para os brasileiros. Eles estão aqui para investir no País que detém a mais avançada tecnologia de produção de energia limpa e de subprodutos de origem natural. Nós, desse segmento, sempre soubemos e divulgamos esse privilégio nacional, mas, parece, o mundo ouviu e entendeu antes.
Foi preciso um presidente dos EUA vir ao Brasil para anunciar que a solução estava aqui, para os olhos do mundo saírem dos poços do conflagrado Oriente Médio e pousarem nos verdes campos deste lugar. Como detemos a tecnologia, a matéria-prima rende mais aqui do que rende lá, por isso não devemos temer concorrência. Assim como a cana e a natureza, a terra não é um bem de todos, mas um bem para todos.
Não nos interessa o tamanho, mas a competência, que nos sobra graças a anos e anos de investimento com visão empresarial. A consolidação das empresas do setor deve muito a essa visão. Não estivéssemos nessa vanguarda, talvez nem nos procurassem. Por isso vemos com bons olhos a entrada de novos parceiros de outros países. Afinal, se pregamos o mercado livre e aberto para a livre iniciativa, não precisamos ter preconceito de origem.
Como negar a ousadia de empresas como o Grupo Cosan e a Shell, que se fundem para melhor distribuir o álcool combustível por todos os continentes? Assim, o capital estrangeiro junta-se ao nacional para interligar suas missões de produzir e distribuir o que há de mais moderno para os consumidores.
É uma jornada de mão dupla, mas, quando aqui chega, o capital estrangeiro nos encontrará um passo à frente: além de desejarmos atraí-lo, queremos, principalmente, conquistar novos mercados para o que sabemos fazer. Temos consciência de que nosso setor faz muito mais do que produtos made "in" Brazil. Fazemos made "by" Brazil. Essa é a marca do nosso etanol e de seus derivados.