Gerente Agrícola da Usina São João
Op-AA-24
Se tivermos que elencar os vetores de introdução de novas tecnologias na cadeia de produção de cana-de-açúcar, a mecanização de colheita será, sem dúvida, uma das principais portas de entrada e indutora dessas tecnologias. Indiscutivelmente, a mecanização de colheita tem sido, nas duas últimas décadas, o direcionador, ou impulsionador de toda a sorte de tecnologias, do melhoramento genético de novas variedades, até como selecionador de localização de green-fields, ou mesmo de perpetuação de empresas já operantes no segmento.
Se nos dedicarmos a observar somente a cadeia de produção da cana, todos os processos também são subordinados, ou condicionados a permitir e otimizar o processo de colheita mecânica. O preparo do solo não poderia ser diferente, um dos maiores condicionadores da colheita mecânica, e, como tal, também serviu de endereço para receber os avanços da tecnologia de produção.
Podemos afirmar que o processo de preparo de solo não vai alterar o relevo de uma área, mas pode e deve adequar o plantio e permitir que ele coloque a lavoura nas melhores condições possíveis, para que a colheita mecânica alcance níveis de desempenho que permitam custos baixos de operação, sem afetar a produtividade, ou seja, a própria sustentabilidade do negócio.
Uma das maiores preocupações de um setor que produz energia deve ser justamente o seu balanço energético, ou quanto sua cadeia de produção consome de energia para produzí-la. Nesse sentido, um processo que consome aproximadamente 96 litros de combustível fóssil por hectare trabalhado deve ser foco de estudo e avaliação dos técnicos responsáveis, no sentido de se reverem as práticas adotadas, a sequência e intensidade de operações, a seleção das máquinas e potências utilizadas e a adequação dos implementos para elas.
Um termo recém-introduzido no meio, vindo obviamente da colheita mecânica, é a canteirização. Como sabidamente a operação de colheita traz um grande impacto de compactação ao solo, recentemente técnicas e equipamentos vêm sendo orientados a “localizar” ou “aplicar” essa compactação inevitável, em áreas longe do sistema radicular onde possam causar menos danos ao desenvolvimento da cultura.
Tecnologias ainda em introdução ou desenvolvimento, como a agricultura de precisão, georreferenciamento, piloto automático, telemetria, controle de equipamentos à distância, já estão viabilizando e permitindo uma expansão da canteirização e, por sua vez, deve induzir o preparo do solo provavelmente a um novo estágio de desenvolvimento, o Preparo Dirigido, ou cultivo mínimo.
Estaríamos, então, absorvendo tecnologia que nos permitirá adequar a cultura à colheita mecânica, preservando o solo e melhorando consideravelmente nosso rendimento energético, na proporção que consigamos reduzir o consumo de combustível fóssil para obtenção de um combustível renovável.
A expansão, e a bem próxima adoção sistêmica da colheita de cana crua, ou sem a utilização do fogo para eliminar as folhas, e de novo temos a colheita como indutor de novas tecnologias, também vai pedir adequações e desenvolvimento de novas práticas de preparo de solo. O volume de palhiço acumulado, com as consecutivas colheitas de cana crua, vai exigir novos equipamentos e novas práticas para se trabalhar e incorporar esse material.
Novamente, sai ganhando o setor, a sociedade, e toda uma cadeia produtiva, a partir do momento em que práticas de preparo de solo agredirem menos o ambiente de sustentação da cultura, o solo, propiciando a incorporação de matéria orgânica ao meio, consumindo menos energia fóssil no processo. A isso podemos chamar de Sustentabilidade.
Quando o assunto são novas tecnologias, podemos e devemos sonhar, pois são eles, os sonhos, os impulsionadores de descobertas, ou, nesse caso, de redescobertas. Há muito tempo, os integrantes do GMEC, grupo de técnicos da área de mecanização do setor sucroenergético, preconiza e incita os fabricantes de máquinas e motores a desenvolverem tecnologias flex-fuel para motores de alta potência diesel/etanol.
E isso está muito próximo de se tornar uma tecnologia útil no mercado, economicamente aplicável, e são justamente as máquinas utilizadas na colheita e no preparo de solo as destinatárias desse produto, e aí o sonho se torna real: consumirmos economicamente o mesmo combustível que produzimos e assim atingirmos patamares muito próximos da sustentabilidade máxima da cadeia produtiva.