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Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo

Diretor Comercial da Usina Alta Mogiana

Op-AA-45

A crise atual exige cautela e serenidade
Os últimos anos têm sido muito difíceis para a economia global, desde que a bolha do subprime estourou nos Estados Unidos, em 2008. O crescimento da China, ligada umbilicalmente ao mercado americano, vem diminuindo ano após ano, apesar dos insistentes esforços das autoridades chinesas para evitar uma queda ainda maior. Com a queda do ímpeto chinês, os preços das commodities iniciaram uma longa trajetória de queda, sendo que, hoje, o índice CRB, tradicionalmente utilizado como termômetro de preços para essas mercadorias, encontra-se em níveis historicamente baixos.

A iminência de um ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos também contribui para um quadro desolador no curto prazo. 
Esse cenário é particularmente dolorido para os países que são tradicionais produtores de commodities, como o Brasil. Com a queda nas cotações, não apenas as contas externas pioram, como os investimentos nesse setor diminuem, já que não existe ambiente de demanda favorável. O resultado é um período de desvalorização acentuado da nossa moeda, além de uma contração da economia.

Com um ambiente político tumultuado, inflação em alta e desemprego e taxas de juro em ascensão, temos a receita perfeita para um longo período de estagnação da nossa economia. 
O setor sucroenergético, por sua vez, já vinha debilitado pelos erros cometidos na condução da política desastrosa de contenção de preços da gasolina, além da surpreendente diminuição da mistura de etanol anidro para 20% em 2011, que perdurou por mais de um ano e foi um catalizador inicial da perda de confiança dos empresários no governo.

 
Nos últimos meses, contudo, fomos surpreendidos com o retorno da CIDE sobre a gasolina, o que tornou o etanol hidratado novamente competitivo nas bombas de combustível. Além disso, a diminuição do ICMS sobre o etanol no estado de Minas Gerais, em vigor desde abril, possibilitou um grande salto nas vendas naquele estado. Os preços da gasolina, por sua vez, tendem a refletir as cotações internacionais do produto daqui para frente, como atestou recentemente a nova direção da Petrobras em comunicados aos seus acionistas.

A melhora da competitividade do etanol hidratado é, sem dúvida, uma boa notícia para o setor e importante fator de retomada de confiança. 
A desvalorização da nossa moeda, por sua vez, apesar de aumentar o já elevado endividamento das usinas, reduz os nossos custos em dólares, o que nos deixa mais bem preparados para enfrentarmos a concorrência de outros países exportadores de açúcar, como a Tailândia, a Austrália e a Guatemala, que não tiveram uma desvalorização tão significativa como a nossa.

Além disso, as recentes importações de etanol anidro para o Brasil perderam a atratividade, abrindo mercado para a produção doméstica, também fortalecida pelo recente aumento de 27% na mistura. 
Além de os salários pagos em dólares pela indústria estarem caindo, o fato de o mercado de trabalho estar desaquecido também vai permitir que nossos custos com mão de obra possam ser gerenciados adequadamente nos próximos anos.

Além disso, temos conseguido diminuir a proporção de trabalhadores ativos em relação à cana moída, fruto não apenas da crescente mecanização da colheita e do plantio de cana, mas também através da adoção de medidas de maior racionalização da estrutura de pessoal nas usinas. 
O clima, que tanto nos castigou nos últimos anos, tem dado demonstrações de retorno à normalidade, com melhora na produtividade agrícola e consequente redução de custos.

Novas tecnologias agrícolas, como a agricultura de precisão, também estão trazendo ganhos nessa área. 
Mesmo assim, os desafios ainda são imensos. Precisamos continuar a perseguir uma diferenciação justa entre o etanol, limpo e renovável, e a gasolina, à luz da aproximação da COP-21. Devemos nos preparar para uma artilharia pesada vinda de ONGs e de setores contrários ao crescimento do nosso produto. Nesse sentido, organizações de classe como a Unica devem ter um papel relevante, a fim de convencer o governo e a sociedade quanto aos imensos benefícios sociais, econômicos e, principalmente, ambientais do etanol de cana, além da energia elétrica gerada pelo bagaço.

 
Quanto ao açúcar, a aproximação do fim do ciclo de superávit de produção mundial, aliado ao fato da interrupção dos investimentos em novas unidades no Brasil e em outros países, trará anos de maiores margens e alívio financeiro ao nosso setor. Mesmo assim, cabe ressaltar a importância de atuarmos fortemente na OMC contra práticas abusivas de comércio de grandes países produtores, que ora subsidiam diretamente exportações de açúcar, ora precificam artificialmente os preços de cana em seus mercados, causando aumentos de produção, mesmo em períodos de baixos preços da mercadoria.
 
Como se vê, ainda temos um longo período a percorrer, mas podemos afirmar que os piores anos estão começando a ficar para trás. Mesmo assim, não significa que, de uma hora para outra, estaremos em céu de brigadeiro; o nosso caminho ainda está sujeito a uma longa e extenuante jornada, cheio de raios e trovoadas, mas, no final das contas, nos guiará a um pouso seguro ao almejado destino do reequilíbrio setorial com que tanto sonhamos.