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Leonardo Nicula Cintra

Diretor de Operações da Usina de Açúcar Santa Terezinha

AsAA25

Da reação à resiliência com ciência e tecnologia
A realidade climática impõe novos paradigmas ao agronegócio. Períodos prolongados de seca e veranicos, o aumento das temperaturas médias, a ocorrência de geadas em regiões historicamente imunes e eventos de precipitação extrema que resultam em erosões de solo já não são mais projeções futuras, mas elementos concretos e recorrentes na agenda das agroindústrias.

O clima, variável crucial e incontrolável do processo produtivo, deixou de ser uma incerteza distante para se tornar um fator de risco direto e imediato, cujos impactos refletem desde o custo de produção na propriedade até a estabilidade da economia global.
 
Diante deste cenário de volatilidade, a pergunta que ecoa não é se um evento extremo vai ocorrer, mas quando. A resposta das empresas mais preparadas tem sido uma transição de uma postura reativa para uma estratégia proativa de resiliência. O sistema produtivo está aprendendo a driblar as adversidades, e o principal trunfo para isso é o uso intensivo de informações, aliado às tecnologias capazes de mitigar os seus efeitos.
 
Neste contexto, a base da resiliência está no solo e na planta. Técnicas agronômicas focadas na conservação e na vitalidade do perfil do solo ganham protagonismo estratégico.

• A conservação e sistematização do solo: para ir além da simples construção de terraços, a definição dessas estruturas deve considerar os fatores edafoclimáticos locais (solo, clima, relevo), com o objetivo de aumentar a infiltração de água no solo, reduzindo o escoamento superficial (principal causa de erosão).
 
• A regeneração da microbiota do solo: a microbiota é a parte vital de um solo vivo, responsável por processos como a decomposição da matéria orgânica e a disponibilização de nutrientes para as plantas, com práticas de uso de inoculantes (como, Bacillus e Rhizobium). Tecnologias modernas, como a análise metagenômica, permitem mapear a microbiota do solo e direcionar com precisão quais bioinsumos são necessários para restaurar seu equilíbrio. Esses bioinsumos fortalecem as plantas, de dentro para fora, para que resistam melhor a pragas, doenças e estresses abióticos.

• O uso de condicionadores de solo à base de matéria orgânica: os compostos orgânicos provenientes de resíduos agroindustriais e biofertilizantes atuam diretamente na estrutura físico-química do solo, promovendo a formação de microporos, que são essenciais para reter a água e torná-la disponível para as plantas durante períodos de déficit hídrico.

• A maximização de um sistema radicular robusto: permitindo que as plantas explorem um volume maior de solo em busca de água e nutrientes em períodos de estresse.

• Uso de sistemas de irrigação inteligente: A irrigação é uma tecnologia de "proteção contra seca", mas também é uma ferramenta estratégica de gestão agrícola, permitindo maior estabilidade da produção, aumento substantivo de produtividade, otimização de recursos através de tecnologias (fertirrigação, agricultura de precisão e redução de perdas), viabilização de práticas agronômicas avançadas e maior longevidade da cultura. 

Estas não são mais técnicas alternativas, mas sim pilares centrais de uma agricultura moderna e adaptada ao momento. A boa notícia é que toda essa tecnologia e práticas já estão à disposição do empresário, e a evolução tecnológica, especialmente a Inteligência Artificial (IA), está potencializando sua eficácia, contribuindo de forma decisiva ao:
• Reduzir o tempo de interpretação de dados climáticos, de solo e de planta, integrando grandes volumes de informação;
• Aumentar a criticidade das análises, identificando correlações e padrões invisíveis ao olho humano;
• Antecipar cenários de risco com maior precisão, modelando os impactos de eventos extremos específicos sobre talhões individuais;
• Oferecer maior exatidão nas recomendações, indicando as práticas e o momento exato para sua adoção, do plantio à colheita.

Por fim, é fundamental reforçar que o caminho para a convivência com as mudanças climáticas não está na adoção de soluções isoladas ou baseadas apenas no empirismo. O sucesso dependerá de como as práticas agronômicas consolidadas pela ciência serão integradas e potencializadas pela mais avançada tecnologia. É nessa sinergia entre o conhecimento do solo e o poder dos algoritmos que o setor produtivo encontrará a sustentabilidade e a produtividade necessárias para enfrentar os desafios de hoje e os que ainda estão por vir.