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Renata Fernandes Vieira Camargo

Coordenadora de Sustentabilidade da Unica

AsAA21

Desconstruindo preconceitos
Falar em sustentabilidade no setor sucroenergético não se trata apenas de divulgar investimentos em recuperação de vegetação nativa, redução de consumo de água, melhor aproveitamento de subprodutos e de eficiência energética. Assim como em todo o agronegócio brasileiro, trata-se de um trabalho de desconstrução de preconceitos. 
 
Dizem que “não basta ser sustentável, é necessário parecer ser”, mas, quando se trata do setor sucroenergético, essa máxima vai além do ser e do parecer ser. Na prática, o que se observa é um esforço constante de comunicação, afinal, estamos falando de um setor com mais de quinhentos anos de história em território nacional.
 
Nos últimos 15 anos, o setor sucroenergético paulista eliminou, voluntária e antecipadamente, a queima da palha da cana-de-açúcar como método agrícola, substituindo a colheita manual com o uso do fogo pela colheita mecanizada sem o uso do fogo.  Nessa nova dinâmica, os focos de incêndio representam prejuízos ambientais e econômicos reais a serem evitados e combatidos. No entanto, ainda hoje, os incêndios, muitos deles originados nas beiras de rodovia em função de bitucas de cigarro ou garrafas de vidro lançadas por motoristas – que funcionam como lentes –, são atribuídos equivocamente às usinas e aos fornecedores de cana.
 
O caso da eliminação da queima nos mostra como é difícil “parecer ser”. Nesse contexto, o mercado financeiro introduziu um novo paradigma para a qualificação das empresas e segmentos econômicos: o ESG. Atualmente, é impossível falar em sustentabilidade sem mencionar os critérios ESG (Environmental, Social and Governance).

Aí, você se pergunta: o conceito de sustentabilidade já não incorpora os critérios ESG? 

Na verdade, o olhar trazido pelos critérios ESG pode ser considerado uma evolução do famoso tripé da sustentabilidade. Agora, as empresas passam a ter indicadores utilizados pelo mercado financeiro para reconhecer as suas práticas de sustentabilidade, garantindo acesso a melhores linhas de financiamento, por exemplo.     

De maneira resumida, o mercado financeiro passou a buscar indicadores ambientais, sociais e corporativos para identificar o “parecer ser”, permitindo a qualificação diferenciada e o reconhecimento de quem realmente é sustentável. Apesar de ainda não existir um selo ESG para qualificação de investimentos, existem instrumentos que orientam para essa qualificação. O índice S&P da B3 é um bom exemplo de como o mercado financeiro reconhece tais iniciativas nas mais diversas cadeias produtivas.
 
No caso do setor sucroenergético, no entanto, por se tratar de um setor extremamente heterogêneo, com usinas familiares de capital fechado e também com grupos multinacionais de capital aberto, seria injusto limitar a qualificação de uma empresa como ESG exclusivamente pela sua participação na lista S&P da B3.

Assim, o reconhecimento do “parecer ser” do setor sucroenergético deve ser verificado pelas certificações e pelos programas setoriais, a exemplo do RenovaBio, do Etanol Mais Verde, do Bonsucro, ou pela própria aderência aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). 
 
Produzir alimento e energia limpa e renovável tem sido o compromisso do setor sucroenergético brasileiro. O aproveitamento dos subprodutos da cana-de-açúcar para produção de energia elétrica e biogás, a fertirrigação com vinhaça, bem como os investimentos realizados em recuperação e proteção do meio ambiente, em requalificação de mão de obra e adoção de melhores práticas de governança, também são indicadores importantes que garantem a sustentabilidade do setor sucroenergético. 
 
Apenas no estado de São Paulo, nos últimos 15 anos, foram plantadas mais de 46 milhões de mudas de vegetação nativa, mais de 200 mil hectares de matas ciliares protegidas, redução de consumo de água de 5 m³/tonelada de cana processada nos anos 1990 para 0,87 m³/t em 2019, mais de 400 mil trabalhadores requalificados, sem deixar de mencionar os 22,6 mil GWh de energia elétrica produzidos a partir do bagaço da cana-de-açúcar em 2020. 

Ser sustentável é o que move a inovação no setor sucroenergético; agora, o maior desafio é garantir esse reconhecimento, demonstrando que, muito além do “parecer ser” e das frases de impacto, a sustentabilidade do setor é algo que se pratica diariamente, com o comprometimento de todos, seja nas cidades, no campo ou na indústria.