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Op-AA-01
Obtido da cana-de-açúcar, uma fonte renovável, o álcool carburante é um dos orgulhos dos brasileiros. No início dos anos 70, pressionado pela primeira grande crise no fornecimento de petróleo, o país acabou concebendo o melhor e mais competitivo combustível do planeta, com a vantagem de ser extremamente saudável ao meio ambiente, fato que levou os norte-americanos a desenvolverem um produto similar, a custos mais elevados, a partir do milho.
Ao longo das décadas, apesar das dificuldades iniciais e dos fortes ajustes pelos quais passou o setor produtivo durante os anos 90, quando ocorreu o processo de liberalização e ficou sem a tutela do governo, o álcool passou por trancos e solavancos, altos e baixos, até consolidar-se. Há pouco tempo atrás, na época em que a comercialização do produto era controlada pelo governo, as usinas operavam com cotas e as distribuidoras compravam a preços tabelados.
Depois, sem a administração do governo, as distribuidoras, mantidas como únicas compradoras, passaram a exercer forte pressão econômica junto às empresas produtoras, que ficaram desprotegidas. Desnecessário falar da importância e das vantagens do álcool como combustível. Bem menos poluente que os derivados do petróleo, foi adaptado à moderna tecnologia dos automóveis e tem baixo custo de produção.
Tornou-se tão interessante sob o ponto de vista das montadoras e dos consumidores, que está havendo um “boom” de lançamentos e procura por veículos com motores flexíveis, havendo a perspectiva de que as linhas de carros monocombustíveis - exclusivamente a gasolina e exclusivamente a álcool, poderão ser, a médio prazo, aposentadas.
Mas todo esse cenário favorável para o álcool, no entanto, tem sido ameaçado pelo forte encarecimento do produto após sua venda pelas usinas às distribuidoras e antes de chegar ao consumidor. Claro que o álcool mantém-se ainda em nível competitivo, se comparado ao preço da gasolina, mas a verdade é que o consumo poderia estar sendo bem maior caso os setores intermediários (distribuidores e postos de abastecimento) não aplicassem uma margem de lucro tão abusiva como vem ocorrendo.
Ou seja: arrancam o couro das usinas, pagando o mínimo possível e exploram o consumidor, cobrando o máximo possível. Apesar da redução em torno de 60% dos preços do álcool nas usinas nos últimos 12 meses, os consumidores não viram os preços caírem nas bombas. Pelo contrário, em vários pontos do Brasil foram registrados aumentos nos preços do combustível, situação variável de município para município, conforme demonstram os levantamentos semanais realizados pela Agência Nacional de Petróleo, disponibilizados na internet.
Não raro, há casos em que o litro de álcool comprado por cerca de R$ 0,30 nas usinas, chega na ponta do consumo custando 5 vezes mais. Um verdadeiro absurdo. Para fazer caixa e honrar seus compromissos, as usinas estão sendo pressionadas a comercializar o álcool a valores até mesmo abaixo do custo de produção. Quem não aceita vender nesses níveis fica com os estoques carregados, sem nenhuma outra opção. Ou seja, o empresário investe em indústria, plantio, mão-de-obra e corre todos os riscos.
Ao final, torna-se refém dos intermediários. Ao mesmo tempo, o consumidor, toda vez que encosta seu carro nas bombas, é obrigado a pagar pelo combustível muito além do que deveria. Tudo isso sem dizer que o consumo, reprimido pelo alto preço, gera desdobramentos negativos para toda a cadeia. Em algumas regiões produtoras do País, o álcool custa mais caro nas bombas dos postos que em lugares distantes dos canaviais.
Um claro exemplo de manipulação do mercado, que atende interesses de alguns em detrimento de toda a sociedade. Parece-me que a solução mais óbvia e adequada seria diminuir a distância entre uma ponta e outra, eliminando a ganância e voracidade dos atravessadores. A retirada dos intermediários do processo de venda do álcool não beneficiaria apenas o consumidor.
A preços mais acessíveis, haveria, sem dúvida, um forte incremento na procura, estimulando um setor de grande importância econômica e social para o país, que atualmente gera mais de 1 milhão de empregos diretos. Com o bom senso que têm demonstrado, principalmente em relação à área do agronegócio, segmento que mais cresce, produz riquezas, rende dividendos à balança comercial e ativa o desenvolvimento no interior, espera-se que as autoridades atentem para o tema em questão e tomem providências. Para o bem de todos, exceto os atravessadores, a solução seria a criação de um canal direto entre usinas e consumidores. É necessário agir rápido para preservar este real orgulho nacional e evitar o danoso e certo desestímulo à produção.