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Humberto César Carrara Neto

Diretor Executivo Agrícola da Usina São João de Araras

Op-AA-59

A gestão 4.0
Sabemos que será difícil obter grandes saltos de produtividades, agrícola ou industrial, sem grandes investimentos com resultados a longos prazos.Também é de nosso conhecimento a grande ineficiência de aproveitamento de nossos ativos, principalmente os agrícolas, que, além da sazonalidade das operações, são fortemente impactados por sistemas de gestão pelo retrovisor, ou seja, olhando o ontem e não o agora. Não é incomum vermos valores em torno de 35% de eficiência, ou seja, um aproveitamento efetivo de 35% do potencial do ativo.
 
É inegável que o segmento que mais tem apresentado desenvolvimento aparentemente ilimitado é o da Tecnologia da Informação; não fazemos ideia e não damos conta de acompanhar tanta tecnologia, sistemas, aplicativos, ferramentas que são criados e disponibilizados nos mais diversos setores, e sabemos que estão e estarão intrinsicamente ligados a nossas vidas.
 
Tecnologia da Informação (TI), Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), Banco de Dados Relacional são símbolos e expressões que já estão arraigados em nosso dia a dia. Nossos esforços, então, devem ser direcionados a desenvolver aplicações dessas tecnologias para desatarmos os nós, ou alguns deles, dessa perigosa equação Produtividade versus Aproveitamento de Ativos.
 
Como podemos juntar essas realidades, a princípio tão díspares, para uma resultante positiva para nossos processos? A informação precisa estar disponível e clara: onde ela é gerada e manipulada, na origem dos processos, na ponta do eletrodo, onde a temperatura é de fusão e transformação. 
 
Mais ainda, essa informação precisa estar relacionada a planejamentos, a programações, a projetos. Não nos serve uma coisa fria e solta, “hoje está fazendo sol!”, e o que faço com isso? Porém, se conseguirmos relacionar o “hoje faz sol e quando está fazendo sol, com este equipamento e este implemento, no estado que se encontram, onde você está e com sua capacitação, você terá condição de produzir ‘isto’ e, se você iniciar agora, irei lhe mostrando como está a sua entrega e a que distância/tempo está de seu objetivo”.
 
Para esse propósito, com a anuência do editor, vou fazer a abordagem de forma lúdica, pois, assim, ele foi concebida. Para tal, esta historinha tem um protagonista que é o Francisco, um operador de máquinas que inicia seu dia de trabalho na Usina XPTO. Francisco sobe em sua máquina no início do turno, é reconhecido por um leitor facial e é recebido por uma voz que vem do computador de bordo que acessa o banco de dados do RH:
 
“Bom dia, Francisco, você está habilitado para operar esta máquina, suas férias iniciam-se daqui uma semana, parabéns, não teve nenhuma falta este mês e não sofreu nenhum acidente”. Mas também poderia ouvir: “Bom dia, Francisco, você não conseguirá dar partida, pois não consta participação em treinamento para este equipamento, você também está retornando de um acidente com entorse, procure se alongar...”
 
Na sequência, nosso Francisco acopla um implemento, plantadora de cana, equipado com um TAG de identificação, e, de novo, a voz do computador de bordo, que agora acessa a Manutenção Automotiva e a Instrução de Trabalho para essa operação que Francisco está se preparando:
 
“Bem, vejo que você vai realizar o Plantio de Cana, a marcha ideal para esta operação é a 4ªM, 1.800RPM, velocidade de 3 km/h. Este implemento sofreu manutenção há 20 horas e precisa reaperto das rodas. Gostaria de ouvir a instrução de trabalho? Aperte a tecla I, a pressão dos pneus traseiros está acima do recomendado para esta operação, recalibre para 25 libras.”
 
Ou poderia dizer:
“Sinto muito, Francisco, esta máquina não está habilitada para este procedimento; procure o coordenador na motomecanização...”

Agora, ele está prestes a iniciar o plantio no talhão 1 da Gleba 22.150 e o CB, conectado ao Plano de Trabalho e ao Orçamento da Agrícola, manda do alto falante:

“Vejo que estamos no talhão 1 da gleba 22.150. Esta operação está programada, porém, para daqui a 25 dias, se estiver em condições, pode iniciar o plantio que foi previsto a 1,5 ha/h a 30 cm de profundidade. Sua máquina tem combustível para 4 horas de operação, mas já estou programando o comboio para daqui a 3 horas, quando estiver descansando. Vou monitorar seu rendimento e lhe informar. Bom trabalho, Francisco.”
 
Francisco pode iniciar a operação com seu equipamento conectado a um Centro de Controle Operacional, transmitindo imagens do que está fazendo e das condições de operação; também estará conectado, transmitindo e recebendo informações da Central de Manutenção Automotiva, responsável pelo perfeito funcionamento de disponibilidade dos equipamentos e que monitora o comportamento deles, programa suas paradas e revisões, de acordo com intensidade de uso da máquina (torque), sabe quando quebra, o que quebra e onde está.
 
Francisco poderá também interagir com imagens, pois acaba de visualizar uma arvore caída, registra o fato, que já é armazenado e georreferenciado na carta de mapas, será informação importante para quem irá colher essa cana daqui a 18 meses (o operador de colhedora, Antonio, será avisado pela mesma voz: “cuidado, Antonio! Francisco reportou obstáculo a poucos metros). 
 
Já na conexão com o RH, informar acidentes, avisos, exames periódicos, datas especiais, mudança de turno ou de regime de horário, treinamentos, eventos corporativos, monitorar o desempenho do Francisco, etc. Da conexão com o ERP da Agrícola, podemos informar rendimentos médios obtidos, consumo de insumos recomendado e obtido, informações climáticas ideais e atuais.
 
Evidentemente, estamos falando aqui do controle efetivo e do acompanhamento operacional e da frota, dos custos agrícolas, da produtividade do canavial e de nossos ativos, mas estamos, acima de tudo, controlando e informando, em tempo real, os fatos onde eles ocorrem e retribuindo minimamente a quem de fato está fazendo acontecer.
 
Qualquer coisa diferente disso é controlar a temperatura e a pressão de um cadáver, é post mortem. Agora, imaginem isso tudo em um banco de dados relacional (homem/máquina/processo/clima/local), com dados históricos de todas as operações, em todas as áreas e chegamos à aplicação da Inteligência Artificial, com a gestão na “ponta do eletrodo”, onde as coisas de fato acontecem, disponibilizando informações e programações, monitorando em tempo real “o que está acontecendo”, interagindo com “quem está de fato realizando”. 
 
Programações e projetos sofrerão um impulso na assertividade, nas negociações antecipadas, na previsibilidade aumentada. Mão de obra será capacitada por demanda, treinamentos serão reaplicados por desempenho, padrões serão criados individualmente para cada operação, em cada local, especializações serão identificadas por individuo, por processo e por equipamento.
 
Frotas serão gerenciadas por nível de utilização, não por mais tempo de uso, programações de peças e serviços serão realizadas e ajustadas por demanda, logística será aplicada em sua plenitude, em tempo real, com antecipação de ações. Centrais de controle terão efetivamente o controle dos ativos, físicos, mecânicos e humanos, e não mais demonstrações de “pirotecnologia”. 
 
A que distância e tempo estamos entre essa “história” e a realidade? Muito menos que imaginamos. Toda essa tecnologia já está disponível, porém fragmentada em nossos escritórios, congelada em discos ou nas nuvens de informação. Nossos softwares são finitos e de visão curta, não conversam entre si. Nossos hardwares construídos, olhando-se para o passado ou, quando muito, para o presente, não têm capacidade de processamento e com baixíssima interação com o usuário.
 
Precisamos convergir; programadores, desenvolvedores, fornecedores de tecnologia e equipamentos, com uma rede ampliada de usuários comuns para que todos, numa mesma direção, possamos construir um caminho para o sonho virar realidade.