Fitonematoides são agentes patogênicos que atacam o sistema radicular da cana-de-açúcar, reduzindo sua capacidade de absorção de água e nutrientes, que podem resultar em perdas significativas da produtividade. Lavouras infectadas por nematoides sofrem mais estresse hídrico, são mais vulneráveis a outras doenças (Colletotrichum falcatum), causam desperdícios de fertilizantes aplicados, sofrem mais com matocompetição, tornando-se incapazes de expressarem seu potencial genético pleno. Perdem, em média, 15,3% de produtividade nos canaviais do País, além de milhões de reais em fertilizantes não aproveitados e custos adicionais com herbicidas e tratos culturais.
As espécies mais importantes listadas, considerando-se frequência, populações e agressividade, são: Pratylenchus zeae; Meloidogyne jananica; M. incognita e P. brachiurus. O ataque ao sistema radicular das plantas se dá por juvenis II, a partir de um ciclo que se inicia por ovo, juvenil I (dentro do ovo), juvenil II (infectivo), juvenil III e IV nas raízes e adultos, passando por quatro ecdises, que, ao abandonarem as raízes deixam seus ovos no solo. Eles, conforme as condições presentes (umidade no solo e raízes jovens) iniciam novas infecções imediatamente, resultando em crescimento exponencial da população.
Exsudatos radiculares como compostos fenólicos e gás carbônico atuam na capa lipídica que protege o ovo, permitindo a eclosão dos juvenis II, portanto atacam preferencialmente raízes jovens. Condições desfavoráveis permitem que os ovos permaneçam em forma de resistência, no solo, por períodos extremamente longos. Os nematoides entram em latência conforme condições adversas prevalecentes no solo (baixas temperaturas, criobiose; altas temperaturas, termobiose; inundação, anoxobiose; fertilizantes, osmobiose; seca, anidrobiose).
Quando falta alimento, fêmeas se tornam machos, para terem a possibilidade de fecundar fêmeas alimentadas, assegurando a continuidade de seu patrimônio genético. Fatores que mais influenciam as populações de nematoides são: plantas hospedeiras; microrganismos antagonistas (fungos, bactérias, protozoários e nematoides parasitos e predadores); quantidade de matéria orgânica; pH, umidade, textura e temperatura do solo.
O recomendado para detectar presença, espécies e níveis de população de fitonematoides é a análise em laboratórios. Contudo há sintomas e algumas indicações de campo que permitem suspeitar da ocorrência desses agentes patogênicos, como presença de reboleiras com plantas de tamanhos desiguais; murchamento precoce de plantas em grandes reboleiras; redução de perfilhamento; baixa resposta à adubação; raízes com deformações típicas e redução na produtividade.
O sistema radicular da cana influencia as populações dos nematoides nas raízes e no solo. Os nematoides são seres aquáticos ativos no filme de água disponível entre as partículas sólidas do solo úmido. A cana, por ser uma planta de ciclo longo, está adaptada a suportar déficit hídrico no solo, mas paga um preço por isso. No período do final do outono/inverno/início da primavera, ocorre morte de grande parte das raízes superficiais, e não ocorre a formação de novas raízes.
Permanecem vivas raízes profundas, velhas, escuras, grossas e lignificadas. Nessas condições, os nematoides se mantêm na forma de resistência. Mesmo com eventuais chuvas repondo a água no solo, as menores temperaturas limitam o crescimento de novas raízes. Consequentemente, a população ativa de nematoides é muito baixa. Segundo Montasser (2002), as populações de P. zeae flutuam no solo e nas raízes durante toda a estação de crescimento, variando significativamente em relação ao tipo de solo (silte argiloso ou argiloso) e às oscilações de temperatura do solo. A retomada de novo sistema radicular muda de ano para ano, de região para região, de solo para solo e de variedade para variedade.
Uma consequência negativa dessa correlação entre umidade no solo, sistema radicular novo e população ativa de nematoides é uma precária precisão nas análises nematológicas a partir de coletas de amostras (solo e raízes) em cana-de-açúcar, feitas diretamente no campo. Uma forma prática e confiável de eliminar esse problema é remeter aos laboratórios amostras produzidas em sacos plásticos, a partir de amostras compostas de solo coletado na rizosfera da cultura, nos quais são plantadas gemas ou mudas de MPB.
O controle pode ser:
1. Varietal: variedades resistentes/tolerantes, método sem aplicabilidade prática porque não há fonte de resistência eficiente para ambos os gêneros de fitomatoides da cana.
2. Cultural: rotação de culturas com leguminosas. Há dados consistentes de diferentes pesquisadores mostrando que certas leguminosas reduzem populações de fitonematoides, refletindo positivamente na produtividade da cana-de-açúcar. Espécies mais utilizadas: Crotalaria spectabilis; C. ochroleuca e Arachis hypogaea.
3. Biológicos: fungos, bactérias, protozoários, vírus e extratos vegetais. Há bionematicidas com ingredientes ativos: Pochonia chlamydosporia, Paecilomyces lilacinus, P. hilarianus Pupuricillium lilacinus, Tricoderma spp., Bacillus amyloliquefaciens,
B. subtilis, B. licheniformis, B. firmis, registrados para hortaliças, lavouras de grãos e fibra, via tratamento de sementes. Quando aplicados sobre o solo, folhas ou em água de irrigação, necessitam duas ou mais aplicações no ciclo da cultura. Sendo um mercado muito promissor, explicam-se os altos investimentos financeiro e tecnológico de grandes multinacionais nessa alternativa de controle, tentando estender para a cana-de-açúcar os resultados alcançados até o momento em culturas de ciclo curto.
4. Químico: nematicidas; nematostáticos; antagonistas químicos fisiológicos e bioativadores.
O comportamento de moléculas químicas conforme os coeficientes KOW baixo e alto, ação sistêmica alta e baixa, respectivamente; KOC baixo e alto, mobilidade no solo alta e baixa, respectivamente; DL50 baixa e alta toxidez alta e baixa, respectivamente, explicam muito o modo de ação dos produtos sobre os nematoides e seus riscos para o ambiente e ao ser humano.
Entre outros parâmetros, eles são usados para definir a renovação de registros nos órgãos reguladores, dos atuais e futuros produtos a entrarem no mercado. Os primeiros nematicidas, baseados em moléculas do grupo dos organofosforados e carbamatos, são extremamente tóxicos. Por isso, Aldicarb, Terbuphos, Cadusafos e Carbofuran foram banidos do mercado. Atualmente, produtos com DL50 inferior a 50mg/kg de peso vivo de cobaias praticamente não têm chance de ter registro ou tê-lo renovado.
Novas moléculas surgem, gerando formulações de alta performance no controle dos nematoides, muito seguras ao ambiente e ao ser humano, como Benfuracarb, Fluensulfone e Fluopyram. Em se tratando de seres vivos, quando se analisa o potencial dos bionematicidas, tem que se considerar que a rizosfera é uma arena de batalha entre microrganismos antagonistas aos fitonematoides, como bactérias, fungos, protozoários, nematoides, anelídeos e artrópodes, componentes da flora e fauna naturais, abundantes na maioria dos solos.
O chamado “efeito tampão biológico” é outro fenômeno observado: muitos organismos de solo encontram-se em um estado de equilíbrio dinâmico, de forma que a adição de um determinado agente de biocontrole poderá ativá-los, resultando em uma rápida redução, ou até mesmo eliminação da população do agente introduzido.
Muitos fungos biocontroladores são saprófitas, por isso não necessariamente atacam os fitonematoides. Isso prejudica o parasitismo, conforme a quantidade de matéria orgânica no solo. Dificuldades adicionais observadas nos fungos e nas bactérias são a grande variabilidade na virulência do organismo; devido à variabilidade genética e à dependência de umidade no solo, necessitam várias aplicações no ciclo da cultura, pela menor persistência no campo, além do menor período de conservação das formulações: 2 a 24 meses, versus 2 a 4 anos para os químicos.
Seu uso específico em cana-de-açúcar tem um agravante que deve ser considerado, que é o tratamento das mudas com fungicidas, na maioria dos plantios. Os fungicidas com ingredientes ativos como captana; carbendazim; fluazinam e iprodione são extremamente tóxicos a Trichoderma spp. Em tratamento de sementes de soja, Carbendazim, Tiofanato metílico, Fluazinam e Carbendazim+Tiram inibiram os bionematicidas Pochonia chlamydosporia, Paecilomyces lilacinus, Tricoderma asperellume e Bacillus amyloliquefaciens (compatibilidade de microrganismos benéficos com fungicidas utilizados no tratamento de sementes de soja, de Oliveira et al. 2017).
Na prática, para cana-de-açúcar, os bionematicidas ainda apresentam limitações que não lhes permitem competir técnica e economicamente com os agentes químicos. Nos nematicidas químicos modernos, do ponto de vista técnico e econômico, repousa a maior segurança, inclusive ao homem e ao meio ambiente, no controle dos fitonematoides em cana-de-açúcar.