Presidente da Canaoeste e da Orplana
Op-AA-36
O setor sucroalcooleiro é um dos setores com maiores taxas de crescimento e inovação tecnológica da área agrícola. Porém, nos últimos anos, perdeu muito em competitividade. O custo de produção cresce de forma acentuada, e a produtividade agrícola tem números abaixo do esperado. Com safras menores, deixamos de produzir açúcar, etanol e energia elétrica, o que traz déficits ao mercado financeiro do País. Além disso, a queda na rentabilidade reduz a oferta de empregos, causando impactos negativos na sociedade.
Fatores como doenças, pragas, seca, florescimento, idade avançada, compactação do solo assombram nossos canaviais, desestimulam os investimentos na atividade e aumentam o endividamento de alguns grupos produtivos. Paralelo a isso, as incertezas do mercado e a falta de planejamento estratégico vêm agravando cada vez mais essa situação. Vale ressaltar que o setor demanda, urgentemente, por investimentos, e a ausência de políticas públicas para o estabelecimento de um plano de ação, que incentive a construção de novos projetos greenfields, está induzindo à verticalização da produção.
Diante desse cenário e da expansão da lavoura sobre novas áreas de cultivo, existe a necessidade de viabilizar a produção de uma forma sólida e sustentável. Aspectos sociais, econômicos e ambientais devem estar alinhados na busca pela excelência. O desafio de produzir cada vez mais, aumentar a rentabilidade das lavouras e produzir produtos com responsabilidade requer investimentos em novas tecnologias.
Através do aperfeiçoamento de técnicas tradicionais e da introdução de novas tecnologias, podemos alcançar resultados favoráveis, que viabilizem o nosso negócio. O uso de tecnologias com o objetivo de redução de custos de produção e incrementos de produtividade é o caminho para a superação da crise e a sobrevivência do setor sucroenergético. Inovar é preciso.
Inovação tecnológica é o conjunto de processos e técnicas implantadas pelo setor produtivo, por meio de pesquisas e investimentos, que visa ao aumento da eficiência do processo produtivo ou ao aprimoramento do produto final. A cada dia, precisamos incorporar as exigências de sustentabilidade na cadeia produtiva. Produtos certificados e produzidos com alto padrão de qualidade são cada vez mais exigidos pelo mercado interno e externo. Não sobreviverá quem não se adequar à nova realidade.
Na área agrícola, precisamos produzir mais na mesma área. O setor precisa ser mais agressivo e dedicar-se a pesquisas mais avançadas nas áreas de melhoramento genético, biotecnologia, nutrição e adubação, manejo dos solos, planejamento de lavoura, plantas daninhas, tecnologia de fertilizantes, fitopatologia, entomologia e engenharia agrícola. Aperfeiçoamento e desenvolvimento de máquinas e implementos e de práticas como plantio e colheita mecanizada é extremamente necessário.
A mecanização da lavoura deve ser encarada de frente. Especificamente nesse assunto, o setor tem que avançar de forma madura e inteligente. As dificuldades de atendimento às exigências da NR 31, o aumento do custo e a escassez da mão de obra, a antecipação do fim da queima da palhada da cana para a colheita e a expansão do setor em novas áreas justificam essa necessidade.
O desenvolvimento de novas variedades pelos programas de melhoramento genético podem incorporar maiores produtividades às lavouras de cana-de-açúcar. Realizar um adequado manejo varietal, com materiais modernos, mais produtivos e adaptados às mais adversas situações de cultivo, contribui significativamente para o crescimento do setor. Para otimizar o manejo varietal, é fundamental identificar o potencial produtivo dos solos. A classificação e o enquadramento desses solos nos ambientes de produção permitem a realização de manejos mais específicos.
A biotecnologia contribui para o desenvolvimento de cultivares que atendam às exigências e às demandas do setor. Através da transgenia, a biotecnologia promove o desenvolvimento de plantas mais resistentes aos estresses bióticos e abióticos. Canas modificadas geneticamente podem, num futuro próximo, trazer benefícios associados ao aumento de lucros.
Podemos diminuir os gastos com defensivos agrícolas se tivermos, no mercado, a opção de cultivares resistentes a praga e a doenças. Temos o exemplo na soja, no milho, no algodão e em outros.
Com materiais genéticos mais produtivos e consequentemente mais responsivos a adubações, o mercado de fertilizantes deve aprimorar seus produtos. As pesquisas devem explorar mais os estudos em relação aos fertilizantes formulados com micronutrientes, principalmente boro, zinco, molibdênio e manganês. As respostas são duvidosas, e os produtores, carentes de informação.
Moléculas e ingredientes ativos modernos, seletivos e com baixa toxicidade para o homem e seguros para o meio ambiente são soluções práticas para uma agricultura produtiva e sustentável. O controle químico, através do manejo correto de defensivos agrícolas é uma ferramenta importante, que faz toda a diferença.
Manter a cultura no limpo, livre de mato e pragas, é essencial para o estabelecimento e a manutenção da lavoura. Tão importante quanto, o controle biológico é uma opção inteligente. Mais barato e menos impactante para o meio ambiente deve ser sempre considerado. O estudo de novos parasitoides pode resolver problemas de controle de algumas pragas, devido à resistência, por exemplo, a produtos químicos.
Atualmente, em função do aumento da produção de cana-de-açúcar e da necessidade mais frequente de antecipação das safras, torna-se cada vez mais comum, no setor sucroalcooleiro, a aplicação de maturadores e inibidores de florescimento. Esses produtos permitem disponibilizar para a indústria matéria-prima de boa qualidade, além de auxiliar na flexibilidade da colheita.
As empresas devem investir em pesquisas visando ao desenvolvimento de produtos seguros e seletivos. Antecipar, acelerar a maturação da cana e inibir florescimento sem reduzir produtividade e afetar a brotação das soqueiras é uma tecnologia moderna que auxilia o produtor e aumenta a rentabilidade da produção agrícola.
A prática da agricultura de precisão deve ser explorada rapidamente. Reduzir custos através da diminuição de perdas e de aumento da eficiência de insumos agrícolas é estratégico e sustentável para o setor. Máquinas e implementos com GPS e pilotos automáticos podem melhorar a qualidade de plantios, cultivos e colheitas, aumentando a longevidade do canavial. O sistema MPB (mudas pré-brotadas) para a instalação de viveiros sadios e multiplicação rápida de variedades, hoje, é uma realidade, e essa prática deve ser expandida.
A produção de mudas sadias, livres de doenças, produzidas em viveiros certificados, onde todos os cuidados fitossanitários são realizados, nos dá a segurança e o conforto para a multiplicação das variedades nos próximos plantios. Ambientes favoráveis a patógenos e falta de cuidado disseminam doenças e causam prejuízos para a produção.
Investir em pesquisas e tecnologias em biomassa é essencial para aumentarmos a produção de etanol. O etanol celulósico, chamado etanol de segunda geração, feito a partir da palha e bagaço da cana-de-açúcar, restos do processo atual, é visto atualmente como a principal alternativa de aumento da oferta do produto sem crescimentos significativos de área plantada. Também gerar energia elétrica sustentável através da utilização da palha da cana-de-açúcar, procedente da colheita mecanizada, tem grande importância econômica. As unidades industriais podem tornar-se autossuficientes e até mesmo lucrar com o excedente.
Gestão de pessoas voltada para uma administração moderna e transparente, envolvendo novas técnicas de comunicação e ensino, favorece a capacitação e o treinamento de pessoas e faz a diferença em empresas que buscam a competitividade. Final e extremamente importante, faz-se necessário o intercâmbio entre as unidades produtivas, os centros de pesquisa e as associações de produtores. A troca de experiências e a difusão da tecnologia são tão importantes quanto a própria geração de tecnologia. A integração e a união do setor é a chave para o sucesso.