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William Lee Burnquist

Coordenador do Programa de Variedades do CTC

Op-AA-05

Melhoramento genético da cana-de-açúcar: o CTC preparado para o futuro

O melhoramento genético de cana-de-açúcar tem contribuído para colocar o Brasil na invejável posição de mais eficiente produtor de açúcar do mundo. No Centro–Sul, a despeito do significativo aumento da área plantada com cana, sugerindo que esta está ocupando áreas de menor fertilidade, tem se observado um aumento de 30% na produtividade de toneladas de cana por hectare, nos últimos 20 anos.

Atribuímos ao manejo apropriado de variedades geneticamente melhoradas, grande parcela deste aumento de produtividade. Além do aumento expressivo de produtividade, o melhoramento genético tem contribuído para diminuir a vulnerabilidade do cultivo de cana no país. Em 1984, 60% da área de cana do país era ocupada por apenas duas variedades (SP70-1143 e NA56-79).

Situação de grande risco, pois se uma nova doença afetasse uma destas duas variedades, provocaria prejuízos de grandes proporções. Isto de fato ocorreu em duas ocasiões com o aparecimento de uma epidemia de ferrugem e do vírus do amarelecimento. Houve necessidade de substituir variedades suscetíveis por resistentes.

Hoje, existe uma distribuição mais pulverizada de variedades. Para se alcançar 60% da área no país, há que somar a área das seis principais variedades, todas ocupando menos de 15% do total. Desta forma, o sistema de produção de cana está menos vulnerável. Estas contribuições só foram possíveis devido aos grandes investimentos feitos pela iniciativa privada e pelo governo, nos anos 70 e 80.

Os investimentos da iniciativa privada criaram a infra-estrutura do Centro de Tecnologia Copersucar (hoje, Centro de Tecnologia Canaviera, o CTC) e no governo, o Planalsucar (hoje Rede Interuniversitária de Desenvolvimento Sucroalcooleiro, a Ridesa). Estes dois programas desenvolveram as variedades SP e RB respectivamente, que ocupam hoje a totalidade da área de cana do país.

Adicional a estes dois programas de melhoramento, temos o programa do Instituto Agronômico de Campinas, o IAC, e a recém criada Canavialis. O programa do IAC, mantido pelo governo do Estado de São Paulo, desenvolve variedades de cana desde 1934 e agora, reestruturado, deve contribuir com novas variedades. A Canavialis foi criada, em 2002, pela iniciativa privada e está em fase de formação.

O programa de melhoramento genético do CTC segue uma metodologia consagrada internacionalmente pelo Hawaii, Austrália e pelo próprio CTC. O programa está baseado em um vasto banco de germoplasma que contém mais de 4000 variedades, incluindo 800 exemplares de espécies “nobres” e “selvagens” de cana-de-açúcar, como Saccharum officinarum, S. spontaneum, S.robustum, S. barberi, S sinensis e Erianthus sp.

Este banco de germoplasma é periodicamente complementado com importações de novas variedades dos mais importantes programas de melhoramento do exterior, através da quarentena mantida pelo CTC em Miracatu, estado de São Paulo. Estes materiais proporcionam ampla variabilidade genética, necessária para o desenvolvimento de variedades adaptadas para novas situações e cenários, que certamente aparecerão no futuro.

Assim sendo, para desenvolver variedades brasileiras adaptadas ao corte mecanizado, utilizam-se como progenitores variedades Australianas (Q), pois estas foram desenvolvidas em sistema de corte de cana mecanizado, cruzadas como variedades brasileiras elite, que já possuem adaptação aos edafoclimas brasileiros. Tendo em vista a baixa herdabilidade da maioria dos caracteres de importância agronômica, o CTC tem empregado o método de melhoramento denominado “seleção entre e dentro de famílias”, mais apropriado para tais situações.

O emprego deste método tem permitido ganhos de 2% ao ano, em termos de produção de açúcar, por unidade de área. O CTC complementa o seu projeto de melhoramento genético clássico com um programa de biotecnologia. Implementado em 1990, a partir da criação do Intenational Consortium for Sugarcane Biotechnology (ICSB). O programa de biotecnologia do CTC desenvolveu uma metodologia de transformação genética de cana-de-açúcar e produziu os primeiros transgênicos no país, em 1994.

Estes materiais foram testados experimentalmente em campo, com autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, em 1997. Desde então, o CTC tem avaliado em campo experimental transgênicos com resistência ao vírus do mosaico e do amarelecimento, tolerância à broca da cana, diminuição de florescimento, tolerância a herbicidas e outros.

O CTC financiou, juntamente com a Fapesp, o programa Genoma da Cana de 2000 a 2003. Este projeto mobilizou mais de 200 pesquisadores das mais renomadas instituições de pesquisa do Estado e permitiu a identificação de 30 mil genes de cana-de-açúcar. A função de alguns dos genes mais importantes é motivo do estudo do novo programa Genoma da Cana, denominado Genoma Funcional financiado pelo CTC, Central Álcool Lucélia e Fapesp, para o período 2004-2006.

Resultados preliminares deste projeto já possibilitaram a criação de variedades transgênicas de cana-de-açúcar com 15% a mais de açúcar do que a variedade de origem. O melhoramento genético clássico, complementado por um forte programa de biotecnologia, será importante para desenvolver variedades, que o setor utilizará no futuro. O CTC está preparado para este futuro.