Gerente de Melhoramento Genético da CanaVialis
Op-AA-24
Os canaviais ocupam mais de 8 milhões de hectares no Brasil e geram 500 milhões de toneladas de cana-de-açúcar todos os anos. O melhoramento genético convencional tem contribuído muito para que o País ocupe lugar de destaque na produção de açúcar e etanol. Para se ter ideia, nos últimos dez anos, foram lançadas no mercado nacional mais de 80 variedades de cana-de-açúcar, que podem parecer iguais para leigos, mas que são bastante diferentes, com comportamentos específicos, e colocam o programa de melhoramento genético de cana-de-açúcar brasileiro entre os melhores do mundo.
As pesquisas nacionais se intensificaram a partir da década de 1970, com uma série de investimentos públicos e com a criação do Planalsucar - Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar e da Copersucar - Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo. Hoje, a maioria das usinas usa variedades desenvolvidas por esses dois programas e, em menor quantidade, pelo IAC - Instituto Agronômico de Campinas, inaugurado o início do século XX.
Nas últimas décadas, a produtividade agrícola média aumentou 1% ao ano em toneladas de cana/ha e 0,3% ao ano no teor de açúcar, ou seja, quase 40% a mais de produção de açúcar na mesma área. Hoje, é necessário atender às necessidades das novas fronteiras agrícolas, especialmente no cerrado, em geral pastagens degradadas com solos de fertilidade média para baixa e menor quantidade de água disponível.
E, analisando-se o cenário atual de produção da cana-de-açúcar de forma integrada, conseguimos entender a enorme contribuição do melhoramento genético para o setor sucroalcooleiro: maior produtividade de açúcar por área, melhor adaptação a ambientes de produção mais restritivos e melhor adaptação aos sistemas mecanizados, que não usam a queima para a colheita.
Além disso, as variedades desenvolvidas apresentam resistência a uma série de doenças. Cabe colocar que, nos últimos 40 anos, pelo menos três doenças importantes atingiram os canaviais do Brasil. A última foi a ferrugem alaranjada, que apareceu no final do ano passado e tem passado despercebida por aqui, graças à grande diversidade genética das nossas variedades, enquanto causou grandes perdas na Austrália.
Das mais de 100 variedades atualmente em plantio comercial no país, apenas três delas foram suscetíveis a essa nova doença. Cada vez mais, as pesquisas deverão ser mais customizadas, ou seja, melhor adaptadas aos mais variados ambientes de produção. O programa de melhoramento da CanaVialis, empresa da Monsanto criada em 2003, desenvolve variedades específicas para cada ambiente de produção para explorar melhor a interação genótipo versus meio ambiente, atendendo, dessa forma, às necessidades específicas de cada uma das suas usinas clientes.
Por meio do Sistema de Gestão Varietal, a empresa não apenas seleciona os melhores materiais genéticos para cada demanda, mas também avalia o desempenho dos novos produtos na comparação com os já usados nos canaviais em um plano de avanço. Ano passado, a CanaVialis lançou sua primeira variedade para o mercado, a CV Pégaso, que tem ótimo aspecto visual, capacidade de brotação e demonstra alta resistência às principais doenças, inclusive à ferrugem alaranjada.
Destaca-se em ambientes intermediários, comparado aos padrões pela alta sanidade e produtividade. No futuro, o uso da biotecnologia vai adicionar às variedades do melhoramento convencional características complementares como tolerância a herbicidas, resistência a pragas, tolerância ao estresse hídrico, maior concentração de açúcar para consumo humano e para produção do etanol e a utilização do subproduto da cana.
Não bastasse isso tudo, para esta próxima década, teremos um novo tipo de cana-de-açúcar, que, neste nesse caso, melhor seria se a chamássemos de “cana-energia”: uma cana mais rústica e com altíssimo potencial de produção de biomassa, duas vezes maior que a cana convencional, para ser utilizada como fonte de matéria-prima para a produção de energia e também para a produção de etanol via hidrólise, como a enzimática. As novas variedades vão reduzir ainda mais a dependência de petróleo, proporcionando um desenvolvimento sustentável, já que se trata de uma fonte de energia renovável. E o Brasil será o responsável por exportar essa tecnologia graças ao desenvolvimento de processos modernos.