Primeiro Vice-presidente da CNI
Op-AA-04
País inovador e pioneiro na tecnologia e produção de combustíveis alternativos, o Brasil viveu altos e baixos nesse setor, desde que, após a primeira grande crise do petróleo, no início da década de 70, partiu em busca de novos horizontes no campo da energia, com a implantação do Programa Nacional do Álcool. Muito aprendemos desde então.
Hoje, a produção de fontes alternativas de energia não é mais vista como mera substituição de combustíveis escassos e caros, cuja produção é limitada no tempo, por não serem renováveis. Diante de nós, como atuais detentores da responsabilidade pelo futuro deste planeta e da exploração sustentada dos recursos naturais que ele nos oferece, conservando-os para as gerações futuras, coloca-se a inescapável procura de soluções tecnológicas e economicamente viáveis.
Fontes de energia mais limpa, o menos poluidoras possível, são ou deveriam ser ansiosa e persistentemente buscadas, não obstante os fortes interesses contrários daqueles que, de uma forma ou de outra, dependem da produção do petróleo. O Brasil é privilegiado, como sabemos, ao considerarmos que a “agricultura de energia” desponta e apresenta-se como ponderável parte daquelas possíveis soluções. A prevista escassez de combustíveis fósseis no decorrer das próximas décadas e o forçoso enfrentamento dos problemas ocasionados pela crescente emissão de gases causadores do efeito estufa, pela queima daqueles produtos, aponta para significativas mudanças na matriz energética mundial.
O consumo mundial do etanol, do qual Brasil e Estados Unidos são atualmente os maiores produtores, apresenta excelentes perspectivas para colocação deste produto em países como Japão, China e Tailândia, dentre outros que vêm se interessando por sua utilização até, ou sobretudo, em face dos compromissos assumidos no protocolo de Kyoto, em vigor desde 16 de fevereiro deste ano.
Isto surge como uma das principais motivações para o início da mudança das políticas energéticas nacionais de cada país signatário, na direção de uma matriz mais limpa e, de preferência, renovável. O que até pouco tempo era uma discussão acadêmica, ganha densidade estratégica, política e econômica, alicerçando a expansão do mercado internacional de álcool.
Adicionalmente, o nível atual dos preços do petróleo - na casa dos US$ 55,00/barril, é mais um forte incentivo à expansão do mercado do álcool, uma vez que sua produção torna-se competitiva com o preço do petróleo acima dos US $ 35,00/barril. No entanto, é necessário lembrar que a expansão do mercado depende, em grande medida, das decisões estratégicas e políticas de cada país potencialmente consumidor. Sob este aspecto é interessante anotar que os Estados Unidos já misturam 6,9 bilhões de litros de álcool à gasolina e ali o consumo cresce rapidamente, devido à política de incentivos e subsídios à produção.
Também que a União Européia adotou uma diretiva que promove o uso de biocombustíveis e assumiu duas metas, realizar 2% de mistura nos combustíveis em 2005 e 5,75% até 2010, sendo que tal diretiva pode gerar, em cada fase, uma demanda de 2,9 e 8,4 bilhões de litros de álcool. E também que o Japão possui legislação que permite a mistura de álcool à gasolina em até 3%, embora não seja compulsória e que o desenvolvimento do mercado japonês para biocombustíveis pode gerar uma demanda de até 11,5 bilhões de litro/ano de álcool para mistura na gasolina e no diesel. E ainda que a Coréia do Sul, a Austrália, a Índia e a Colômbia têm projetos para adição de álcool à sua base de combustíveis.
O amadurecimento setorial, a tecnologia nacional, a experiência de um forte mercado consumidor interno, aliada à capacidade de expansão, sem paralelo no mundo, torna o Brasil um forcedor confiável, consolidando-se como o mais competitivo produtor mundial de álcool. Os dados recentes comprovam a afirmação. Segundo o IBGE, a produtividade média das lavouras de cana-de-açúcar no Brasil atingiu, em 2003, o valor recorde de 73,7 toneladas por hectare.
Conforme o Balanço Energético Nacional (BEN), a produção de álcool anidro e hidratado em 2003, no montante de 14,5 milhões de metros cúbicos, superou em 15% a do ano anterior, repetindo assim os bons desempenhos de 2002 e 2001. O aumento da oferta nacional e a manutenção da demanda interna abriu espaço para o aumento da participação do Brasil no mercado internacional, com a exportação de 5,3% de sua produção.
Vale ressaltar, ainda, que a introdução da tecnologia flex-fuel no Brasil, em 2003, trouxe expectativas de significativas mudanças no cenário nacional do álcool, com estimativas da indústria automotiva de que, a partir de 2007, cerca de 60% dos veículos aqui vendidos serão dotados dessa tecnologia. Certamente, a geração desses novos produtos, ao lado dos quais se coloca o consumo interno do álcool pelos veículos tradicionais no setor de transporte rodoviário - cerca de 13,3% em 2004, colaborará decisivamente para o fortalecimento da cadeia sucroalcooleira e abrirá novas perspectivas de exportação sustentada. Termino, pois, afirmando que podemos ser marcadamente otimistas no que diz respeito à participação do Brasil no mercado global de combustíveis limpos e renováveis.