O clima tem sido um fator bastante desafiador para a agricultura brasileira. Em algumas regiões, como Sudeste, Centro-Oeste e Matopiba, temos visto chuvas abundantes, onde o excesso de água chega a comprometer a produção. Ao mesmo tempo, outras localidades, como a região Sul, enfrentam a maior estiagem de sua história recente. Além do desafio climático, também estamos tendo que lidar com o retorno da inflação, a volatilidade do câmbio e a crise dos fertilizantes, que tem preocupado os produtores rurais de norte a sul do País.
Em meio a tantas incertezas, acredito que precisamos focar em soluções que permitam impulsionar a inovação, potencializando novas oportunidades de crescimento e melhoria do agronegócio nacional. Pensando no setor sucroenergético e em estratégias que podem nos ajudar a projetar esse novo desenho da produção da cana-de-açúcar no Brasil, pretendo elencar aqui um conjunto de ações que têm contribuído para que a Raízen e seus parceiros produzam mais e melhor. Tenho certeza de que essas iniciativas podem servir de exemplo e contribuir para o desenvolvimento da agroindústria como um todo.
Em primeiro lugar, considero que uma das práticas que têm feito muita diferença para nós, principalmente nos últimos anos, é o investimento no segmento de biológicos. As bactérias, utilizadas nos tratos culturais e no plantio da cana, têm potencial de substituir alguns defensivos agrícolas e colaboram, dessa maneira, para a economia de insumos e a ampliação da produtividade. Isso acontece tanto em toneladas de cana por hectare (TCH) quanto açúcar total recuperável (ATR) – medidas de produtividade e de qualidade da cana e sua capacidade na geração de subprodutos, respectivamente, além de levar mais sustentabilidade para os canaviais.
Significa dizer que o uso de ferramentas biológicas de manejo tem nos proporcionado um controle mais efetivo dos canaviais, com interferências químicas em menores proporções e, ainda assim, com mais eficiência no combate às pragas. A criação do CIA – Centro de Inteligência Agrícola – que acompanha os processos produtivos do plantio, o preparo de solo e colheita, o transporte de pessoas, o abastecimento de combustível dos equipamentos no campo e a manutenção automotiva – também se mostrou fundamental para uma gestão agrícola de excelência. Inicialmente, nós focávamos os trabalhos da central no corte, carregamento e transporte de cana (CCT), com a programação automática de caminhões da frota e o rastreamento, em tempo real, dos equipamentos.
Com o passar do tempo, identificamos a necessidade de padronizar operações e apoiar o campo nas operações de plantio, preparo de solo, manutenção e monitoramento das ocorrências de incêndios nos canaviais. Na última safra, passamos a atuar em conjunto com a CCO – Central de Controle Operacional, responsável por receber dados de telemetria e informações de sensores de fadiga, fortalecendo o pilar de segurança da companhia. Essa atuação possibilitou aplicar ações corretivas, preventivas e preditivas da frota, como excesso de velocidade, controle de fadiga, entre outros. Com isso, desenvolvemos uma comunicação ativa entre as frentes de campo, pátio, balança, manutenção e transporte, garantindo maior eficiência e produtividade no gerenciamento das operações.
Outra frente que tem ganhado destaque, tanto no mercado quanto na companhia, é a economia circular. Nos últimos anos, a Raízen tem investido fortemente na produção de energia por meio de fontes limpas e renováveis, como o bagaço de cana e outros resíduos da produção. Como é o caso do etanol de segunda geração (E2G), do biogás e da biomassa.
Vale destacar ainda que o subproduto do processo produtivo da cana, a vinhaça, é utilizada como fertilizante em nossas áreas plantadas. Esse tipo de adubação orgânica é excelente, pois permite o reaproveitamento dos nossos resíduos e ainda garante a melhor adubação para o nosso canavial.
Um caminho que também temos seguido é o de redobrar os cuidados com a nossa operação. Então, estamos aprimorando continuamente o controle de tráfego de equipamentos, para não sofrermos com questões relacionadas a pisoteio no canavial, a fim de que ele tenha longevidade e não tenhamos que reformá-lo com uma frequência muito alta. Nesse sentido, o uso de GPS e a automação têm sido fundamentais. Importante mencionar ainda que, atualmente, mais de 700 mil hectares da Raízen contam com tecnologia de sensoriamento remoto, com drones que fazem o mapeamento do solo e auxiliam no manejo mais assertivo dos canaviais. Os equipamentos são responsáveis por fazer o mapeamento topográfico e o levantamento de falhas na brotação dos canaviais, ou seja, identificam quais acidentes no relevo impactam a produtividade, além de indicar as áreas que necessitam de mais cuidados, principalmente no que diz respeito ao controle de plantas daninhas.
Mais uma das apostas da Raízen, principalmente em regiões de alto déficit hídrico, tem sido a adoção de sistemas de irrigação. O primeiro projeto foi implantado em 2013, na unidade Gasa, localizada em Andradina, noroeste do estado de São Paulo. Devido às severas estiagens que assolam a região, os canaviais desse munícipio geralmente permitem colheitas apenas até o quinto ano. Após esse período, a baixa produtividade torna inviável o prolongamento dos cortes. No entanto, a lavoura escolhida para testes da tecnologia de gotejo segue produtiva até os dias de hoje – estando atualmente em seu oitavo corte. Inclusive, esse canavial vem entregando 30 a 40 toneladas a mais do que as áreas de sequeiro vizinhas. Outra vantagem dessa ferramenta é a possibilidade de aplicar insumos também via sistema de gotejo. Atualmente, fertilizantes, insumos e vinhaça são aplicados utilizando a mesma estrutura da irrigação, acarretando redução nos custos dos tratos culturais.
Por fim, vale mencionar uma outra iniciativa que foi desenvolvida para garantir otimização energética e aprimoramento operacional. Com o auxílio do projeto Controle Avançado, que é uma ferramenta de inteligência artificial, conseguimos aumentar a eficiência industrial em diversas variáveis de entrada e saída do processo produtivo de cada uma das unidades.
A solução permite prever e agir na melhoria e na estabilidade da operação, considerando aspectos técnicos e balanço de massa e energia. Dessa forma, a ferramenta contribui para ganho potencial de açúcar e biomassa e aprimoramento do controle das caldeiras e dos turbogeradores. O software ainda simula o comportamento da planta para prever e agir na otimização da operação, considerando aspectos econômicos, técnicos, limitações de equipamentos, segurança e qualidade.