Vice-Presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen
Op-AA-32
Nos últimos anos, temos visto a demanda por etanol crescendo significativamente em todo o mundo. No entanto a oferta aumentou de forma tímida se comparada à crescente demanda. Para se ter uma ideia, a produção mundial de etanol subiu 45% nos últimos cinco anos.
Os grandes responsáveis por esse crescimento foram o Brasil, com o etanol proveniente da cana-de-açúcar, e os Estados Unidos, com o etanol de milho. Os dois países juntos respondem por 80% do biocombustível produzido no planeta atualmente.
Já a demanda aumenta substancialmente a cada ano, sobretudo no Brasil. Projeções da Unica - União da Indústria de Cana-de-açúcar indicam que, em 2020, para abastecer 45% da frota de veículos leves que estarão em circulação no País, serão necessários 50 bilhões de litros do combustível. Para atender a 60%, a produção terá de subir para 70 bilhões de litros de etanol por ano.
Atualmente, a demanda pelo etanol gira em torno de 25 bilhões de litros no Centro-Sul do País. A falta de terra não é uma barreira para elevar a produção no Brasil e, assim, aumentar a produção de etanol, já que a cana-de-açúcar ocupa apenas 2% das terras agricultáveis no País. O principal problema são as condições desfavoráveis que não incentivam os investimentos no setor.
As recentes políticas públicas divulgadas pelo Governo Federal surgem como um importante incentivo, mas não são suficientes. Com o anúncio de uma nova linha de crédito do Bndes para o setor sucroalcooleiro, batizada de Prorenova, o setor terá à disposição um orçamento de R$ 4 bilhões até 31 de dezembro de 2012 para a renovação e a implantação de novos canaviais.
Todas essas iniciativas do poder público são louváveis e necessárias. Entretanto, o setor não pode esperar que o governo acabe sozinho com todos os gargalos. É necessário que as empresas façam a sua parte, investindo fortemente em tecnologia, por exemplo. Só assim o etanol poderá atender às necessidades de um mundo globalizado, sem perder a alta eficiência que é esperada dos melhores combustíveis.
Para se ter uma ideia da importância da pesquisa para a indústria sucroalcooleira, não houve, nos últimos dez anos, aumento de produtividade na cultura da cana. Pelo contrário. Em razão das condições climáticas desfavoráveis das últimas safras, a produtividade de 90 toneladas por hectare de cana caiu para 70, chegando a 50 toneladas por hectare em algumas regiões.
Daí a importância de as companhias investirem em pesquisas para desenvolver novas variedades de cana, como também em projetos para incrementar a produtividade atual, na linha do produzir mais com a mesma área plantada. Tomando-se como base o orçamento anual do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, estima-se que o País invista somente R$ 0,10 em pesquisa por tonelada de cana-de-açúcar.
É uma quantia irrisória se comparada com os países europeus, onde fazendas de beterraba, por exemplo, conseguem ser mais competitivas que o setor sucroenergético brasileiro. Ajustes no processo industrial também são primordiais: hoje, ocorre uma perda de cerca de 10% no processo de fermentação.
Há um grande potencial para aumentar a produtividade da cana-de-açúcar e do etanol. Além de investir em transgenia, existe um vasto campo para pesquisas na área de etanol de segunda geração, aproveitando a biomassa – folha e bagaço – da cana para a produção de biocombustível.
Essa nova tecnologia permitirá dobrar a quantidade de etanol produzido por unidade, sem a necessidade de expandir a área cultivada. O CTC já conduz pesquisas na área e espera-se que os resultados possam ser conhecidos em cinco anos.
Com mais investimentos, é possível encurtar, e muito, esse prazo. Uma alternativa de elevar a produtividade do etanol e que vem ganhando espaço desde a última safra é o plantio do sorgo sacarino. O sorgo sacarino é um grão, que tem capacidade de gerar açúcar fermentável para a produção de etanol e de biomassa para energia elétrica.
Utilizado como complemento à cana-de-açúcar, durante o período de entressafra, ou como a segunda cultura em áreas de soja, o sorgo pode ser de grande valia para incrementar a produção brasileira de etanol. E o melhor: sem a necessidade de ampliar a área de plantio. A expectativa é de que, já nesta safra, a produtividade atinja 50 toneladas de sorgo por hectare.
Embora seja a metade da produtividade da cana, que faz 100 toneladas por hectare, o prazo entre plantio e colheita é muito menor: enquanto o sorgo está pronto para ser processado em 110 dias, a cana demora, no mínimo, 12 meses. Outra vantagem em relação à cana-de-açúcar é que o sorgo sacarino utiliza menos água e fertilizante, além de ser mais tolerante aos períodos de seca.
É certo que o investimento em tecnologia não trará resultados em curtíssimo prazo. No entanto será com uma injeção de recursos em inovação e desenvolvimento tecnológico que o setor conseguirá elevar sua produtividade em médio e longo prazos. Quando conseguirmos desenvolver a transgenia em níveis satisfatórios e o etanol de segunda geração, teremos uma cana-de-açúcar muito mais rica em energia.
Já o sorgo sacarino pode incrementar a produção brasileira nos períodos de entressafra. E é exatamente isso de que o setor necessita: produzir mais com menos custos e, assim, contribuir para fazer do etanol uma commodity internacional.