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Murilo Naves Ferreira

Gerente de Excelência Operacional da CerradinhoBio

OpAA70

Um avanço no manejo passa pelo desenvolvimento das pessoas
Vivemos um momento de grandes contrastes. De um lado, temos importantes avanços tecnológicos, o desenvolvimento de novas soluções para problemas novos e antigos, o espantoso crescimento do empreendedorismo, com a multiplicação de startups, especialmente as agrotechs e fintechs, o surgimento de grandes hubs de inovação e o apetite de grandes investidores neste novo modelo de negócio. Por outro lado, temos a variação e o risco climático, cenários políticos e econômicos instáveis, pandemias, agendas e pactos ambientais que figuram entre os principais fatores que, direta ou indiretamente, exercem pressão sobre o preço de insumos e commodities, impactando os custos de produção do setor.
 
Embora o cenário seja desafiador, as boas e já consagradas práticas permanecem indispensáveis e relevantes em todos os processos e aspectos do manejo sucroenergético; podemos enumerar: projetos de sistematização de áreas de plantio com o máximo aproveitamento da área de produção; eficiência operacional e conservação de solos; sondagem e mapeamento da fertilidade dos solos, com amostragem e recomendação de correção adequados, aplicados à taxa variável com uso de equipamentos de precisão; determinação dos ambientes de produção e zonas de manejos para correta alocação varietal; plantio sem falhas, com tratamento de toletes e adubação no sulco; canteirização, com determinação das zonas de tráfego e compactação, reduzindo pisoteio de soqueiras nas operações de CT; adubação suplementar com corretivos e composto; domínio da curva de maturação, com planejamento de colheita e manejo de maturadores; rotação de culturas entre os ciclos de produção; monitoramento e controle de pragas aéreas e de solo; monitoramento e controle de plantas invasoras; controle sistemático da qualidade de todos os processos, com indicadores e metas claramente definidos; investigação de causas e efeitos e definição de plano de ação sobre desvios. Essas e outras práticas têm garantido resultados surpreendentes, mas estão longe de ser a última fronteira, há espaço para oportunidades, como veremos em seguida.
 
A tecnologia é, sem dúvida, a nossa maior aliada no enfrentamento desses novos desafios, permitindo a otimização de recursos cada vez mais escassos e caros. A maior disponibilidade, a custos acessíveis, de imagens de sensores remotos em média e altas resoluções, o acesso aos sensores embarcados em RPAS (drones) e os recentes avanços nas tecnologias de processamento, algoritmos de inteligência artificial e aprendizagem de máquina aplicados às milhares de variáveis tão dinâmicas dos processos agrícolas têm sido os responsáveis pelo surgimento de inúmeras plataformas tecnológicas que fazem mais que monitorar, fornecem, em tempo quase real, diagnósticos precisos da saúde de nossas lavouras, dando celeridade à tomada de decisão e possibilitando a intervenção no problema. 
 
Tais ferramentas nos auxiliam no monitoramento de processos erosivos, controle sobre passivos ambientais, como desmatamento irregular, e quantificação do impacto de eventos climáticos adversos, como geadas e secas. Em relação ao risco climático, há ferramentas importantes que também vale ressaltar: estações meteorológicas inteligentes e conectadas, que nos permitem refinar o entendimento do microclima regional, monitorando temperatura, umidade e velocidade dos ventos, garantindo o melhor momento da aplicação aérea, entrada de pulverizadores terrestres, da adubação, fornecendo ainda insumo para os sistemas preditores de incidência de pragas, permitindo efetividade na alocação dos recursos disponíveis, nos locais e momentos certos.
 
Ainda sobre o controle de pragas, não poderíamos deixar de citar as armadilhas inteligentes, que não só nos permitem mapear e mensurar a distribuição de pragas, como também o seu estágio de desenvolvimento, com grande velocidade e confiabilidade; os sensores NIR portáteis, que nos propiciam o mapeamento da distribuição do ATR, dando maior velocidade na amostragem e clareza sobre a curva de maturação do canavial, otimizando a colheita.

Uma outra frente tecnológica que tem avançado significativamente e impactado nosso manejo está relacionada ao desenvolvimento de variedades de cana resistentes à seca, o desenvolvimento de novos produtos bioestimulantes, biofertilizantes e defensivos biológicos, que estão na vanguarda em relação às transformações que vêm ocorrendo no mundo, principalmente no que tange ao aumento das restrições no uso de fertilizantes nitrogenados e defensivos.
 
Não importa quão boa seja uma ferramenta ou quão avançada a tecnologia, se não houver alguém preparado para extrair o máximo potencial do valor que elas vêm proporcionar. É por isso que acreditamos que um avanço consistente no manejo e na gestão dos processos sucroenergéticos passa, necessariamente, pelo desenvolvimento das pessoas. Investimos na capacitação e estimulamos o olhar crítico e analítico, o senso de urgência, a melhoria contínua, por meio da formação em metodologias Lean Six Sigma e programas como o Alta Produtividade Agroindustrial, que permitem o compartilhamento intersetorial de projetos e ações de melhoria, focados essencialmente em produtividade, eficiência, redução de custo, mitigação de riscos, saúde, segurança, meio ambiente, diversidade e inclusão social.
 
Ainda na linha de desenvolvimento interno, formamos comitês com agendas importantes, coordenados pela área de Excelência Operacional, que estimula iniciativas e acompanha os indicadores e entregas de projetos relacionados à implementação de novas tecnologias, benchmarking, agenda ESG, gestão da rotina e melhoria contínua, fomentando a coparticipação entre áreas, uma visão integradora entre os processos de gestão e a disseminação da cultura de inovação.
 
A agenda ESG – ambiental, social e governança corporativa  –, que busca, dentre outras coisas, neutralidade de CO2 nos processos agrícolas e industriais, respeito à diversidade, representatividade e colaboração social e transparência na governança corporativa, é também uma das norteadoras de projetos e iniciativas de energia renovável, como a produção de biogás a partir de resíduos industriais, resíduos esses comumente utilizados na compostagem e fertirrigação. 

Esse biogás surge como potencial substituidor de combustíveis fósseis, como o diesel. Somos renováveis desde o berço, produzimos energia de baixo carbono, mas há espaço para a reavaliação de processos e produtos, bem como a adoção de critérios cada vez mais restritivos na seleção dos nossos parceiros em toda a nossa cadeia de suprimentos, buscando atender a mercados cada vez mais exigentes.
 
Portanto o novo manejo, ou o manejo que nos alça a novos patamares, é aquele que concilia os fundamentos e boas práticas aos novos recursos tecnológicos, pessoas capacitadas e comprometidas com a melhoria contínua,  modelos de gestão aplicados a uma visão integrada de processos, além de uma visão compartilhada dos objetivos e metas, sem se descolar da realidade econômica, social e ambiental presente.