Chefe de Pesquisas de Alimentos e Agronegócios do Rabobank Internacional
Op-AA-25
Impulsionado por perspectivas promissoras para açúcar e etanol, em combinação com financiamento barato no período 2005 a 2008, o setor de cana-de-açúcar brasileiro cresceu rapidamente em anos recentes. Com base nas expectativas atuais para a safra 2010/11, o volume de cana processado na região Centro-Sul do Brasil terá aumentado em 73% nos últimos cinco anos – uma taxa anual de crescimento de 12%.
Entretanto, essa fase de instalação de novas capacidades está chegando ao fim. Em 2008/09, 30 novas usinas entraram em operação; a estimativa para a safra 2010/11 é de 10 novas usinas e de apenas 5 usinas em 2011/12. Baixos preços de açúcar no mercado internacional, além da valoração da taxa de câmbio em 2007 e em boa parte de 2008, em combinação com o impacto da crise financeira geral ao final de 2008, traduziram-se em deterioração considerável da situação financeira em geral do setor até 2009, não obstante o setor tenha rapidamente aumentado a sua produção.
Após a turbulência dos últimos anos, muitos participantes do setor interessam-se atualmente muito mais em aumentar a eficiência de operações existentes do que em buscar nova expansão. Por outro lado, apesar da atual desaceleração em investimentos e na ampliação da capacidade, haverá muito mais crescimento na próxima década.
De acordo com projeções da Unica, até 2020, o setor brasileiro de açúcar e etanol deverá processar aproximadamente um bilhão de toneladas de cana por ano. Isso sugere que, entre agora e o ano de 2020, cerca de 350 milhões de toneladas em nova capacidade de produção terá de ser implantada.
Supondo um custo de investimento aproximado de US$ 90/tm de capacidade (US$ 75/tm em equipamentos fabris e mais US$ 15/tm em investimentos em campo), projeta-se um investimento necessário de aproximadamente US$ 30 bilhões nos próximos 10 anos. De onde virão os recursos e quem terá melhor acesso a eles? Após o ciclo de expansão/recessão dos últimos anos, financiadores e investidores continuam cautelosos. Fatores como:
1. presença e experiência no mercado,
2. elevados níveis de governança corporativa e transparência,
3. balanços financeiros sólidos e fluxo de caixa,
4. garantias sólidas (ativos fixos, contratos de exportação), e
5. mais visibilidade e previsibilidade de fluxos de receitas e de margens (por exemplo, vendas de energia elétrica à rede), provavelmente, serão importantes fatores de influência na disponibilidade de financiamento e no custo.
Nessas circunstâncias, os grandes e bem estabelecidos participantes que contam com sofisticada gestão financeira poderão desfrutar de maior vantagem em financiamentos, proporcionando-lhes mais espaço para buscar expandir a produção e a participação de mercado por meio de crescimento orgânico e aquisições.
Participantes pequenos e médios poderão enfrentar dificuldades em manter o passo, e poderá ser estimulada uma maior concentração no setor. Essa tendência poderá ser reforçada através da crescente participação do setor de petróleo brasileiro na indústria da cana. A decidida entrada, há pouco tempo, de duas gigantes do petróleo (Shell na Cosan e Petrobras na Açúcar Guarani e na São Martinho) parece sinalizar que agora as empresas de petróleo estão prontas a investir recursos próprios, em montante muito elevado para os padrões do setor da cana, nas atividades envolvendo biocombustíveis.
E quanto ao futuro ambiente de negócios? Até onde é possível prever, a demanda por açúcar e etanol guiará o setor – embora, no mais longo prazo, certamente haverá um potencial de novos mercados para desenvolver produtos à base da cana, como biocombustíveis, biorresinas e bioplásticos. Os mercados de açúcar e etanol são tipicamente mercados de commodities e serão, provavelmente, tão voláteis e cíclicos no futuro como foram no passado.
Entretanto, a tendência de longo prazo dos preços internacionais de açúcar deverá refletir o custo marginal de produção. Isso, por sua vez, deverá refletir o custo de produção de açúcar em uma usina brasileira nova, porque muito do açúcar adicional que precisará ser produzido para atender à crescente demanda global será produzido no Brasil.
Nesse ambiente de negócios, a sustentabilidade e a lucratividade de longo prazo significarão não apenas a sobrevivência diante da tendência de longo prazo do preço, mas também a sobrevivência confortável diante da inevitável volatilidade e dos períodos recessivos cíclicos do mercado. Entre os principais fatores de sucesso necessário para tanto, incluem-se:
1. a liderança em termos de custo, mediante o uso de economias de escala; polos industriais, etc.;
2. a competente gestão de risco, e
3. uma certa diversificação de receitas para mercados que não os de commodities, a exemplo de vendas de energia elétrica.