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Kléber Pereira Lanças

Professor do Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus da Unesp

Op-AA-24

Colheita: compactação de solo

As extensas áreas agrícolas do Brasil, com diferentes características de solo, relevo e clima e o significativo crescimento da mecanização agrícola, principalmente da colheita mecanizada que, em algumas situações, são praticadas de forma exaustiva e, muitas vezes, inadequadamente, não respeitando a capacidade de suporte de carga do solo (CSCS) e o  teor de água ideal para o tráfego de máquinas.

Essas condições têm sido responsáveis, em boa parte, pela deterioração e empobrecimento de alguns solos agrícolas brasileiros. O tráfego agrícola indiscriminado contribui para o surgimento de camadas compactadas dos solos agrícolas. Assim, estando o solo mais seco, maior será a sua capacidade de suporte de carga e menor a probabilidade de compactação.

Portanto solos mecanizados com teores de água inadequados (região de plasticidade) podem ter sua estrutura bastante comprometida. O princípio utilizado para movimentação dos veículos baseia-se na transformação da rotação e do torque do motor em movimento de translação do veículo, através das transmissões e do contato do rodado com o solo.

As principais funções do rodado são: assegurar equilíbrio estável e vão livre compatível com as condições de trabalho agrícola, possibilitar autopropulsão e direcionamento e desenvolver esforço tratório das máquinas. Dentro dessas perspectivas, dois tipos básicos de rodados foram desenvolvidos: rodados pneumáticos e rodados de esteiras, sendo que os tratores agrícolas de rodas pneumáticas continuam sendo, até hoje, os mais utilizados em todo o mundo.

Para as colhedoras de cana-de-açúcar, o rodado com esteiras metálicas tem apresentado melhor desempenho operacional, maior eficiência e, principalmente, maior estabilidade e facilidade de operação; porém os custos dessas máquinas são, normalmente, maiores do que as de pneus. A área de contato do rodado com o solo é um fator decisivo para o estudo da interação rodado/solo, além de possibilitar economias significativas em termos de menor compactação e maior conservação do solo.

Os rodados pneumáticos também têm sofrido grandes inovações e incorporações de novas e avançadas tecnologias de fabricação, além do uso em montagens com rodados duplos e até triplos, que aumentam significativamente a capacidade de tração e tornam as áreas de contato proporcionalmente maiores.

Nos últimos tempos, a evolução para pneus agrícolas de baixa pressão e alta flutuação (pneus com largura e diâmetro grandes), denominados pela abreviatura BPAF, tem permitido aos tratores de rodas competirem com os tratores de esteiras de igual para igual e, ainda, com um custo de aquisição, operação e manutenção relativamente menor.

Diversas pesquisas têm mostrado que o pneu radial apresenta um desempenho melhor (maior área trabalhada por unidade de tempo, com menor exigência de potência) e menor consumo de combustível, principalmente pelo efeito da rigidez da banda, que reduz a deflexão das garras e, por outro lado, maior deformação dos flancos do pneu, que aumenta a área de contato com o solo.

O aumento da área de contato com o solo reduz a patinagem do pneu e diminui a pressão no solo, produzindo menores níveis de compactação provocada pelo tráfego de tratores e máquinas agrícolas. Mais recentemente, os engenheiros das indústrias de pneus e de tratores, juntamente com os pesquisadores das universidades, têm verificado que os pneus radiais podem trabalhar ainda melhor quando calibrados com “a pressão mais baixa possível, selecionada em função do peso distribuído na roda”.

Dependendo do tipo de solo no qual o trator irá trabalhar, após a seleção do tipo e modelo do pneu, a sua lastragem é de extrema importância. Para solos não coesivos, constituídos de uma massa granular pulverulenta, tal como a areia, a força de tração na barra dependerá, principalmente, do peso do trator, sendo de grande relevância a localização do seu centro de gravidade (CG), a lastragem e a transferência de peso.

Sempre que o trator for exigido para gerar grandes esforços de tração, é recomendado que ele atue com sua lastragem máxima, e, em função da distribuição da carga em cada roda, deve-se selecionar o pneu que exija a menor pressão de inflação, o que forneceria a maior área de contato (maior tração em solos argilosos) e a menor compactação do solo. A carga e a pressão do pneu devem ser selecionadas, sempre, através das tabelas do fabricante do pneu e do trator.