Presidente da Paraíso Bioenergia
Op-AA-27
Quando se pensa pela primeira vez em estado da arte, vem às nossas cabeças a imagem de uma fábrica com tecnologia de vanguarda e na qual todas as peças funcionam perfeitamente. É o objetivo maior de todo responsável pelas operações de uma usina. Mas tenho que emitir minha opinião a respeito desse tema e, para alguns, ela não vai com a correnteza. O almejado estado da arte é efêmero nos dias de hoje e só existe com pessoas certas.
Na história do setor sucroalcooleiro, a primeira grande descoberta “tecnológica”, há alguns séculos, foi o uso do bagaço esmagado de cana-de-açúcar para queimar nos fornos no lugar da madeira derrubada das florestas. Pode parecer estranho, mas todo ovo de Colombo parece óbvio depois de estar em pé. Naquela época, foi uma descoberta e tanto.
Esse fato histórico serve para ilustrar o que estamos fazendo hoje: o óbvio. Nosso setor é predominantemente avesso às mudanças. Todo novo desenvolvimento demora a levantar voo, sem contar as inúmeras vezes em que uma excelente ideia cai na decolagem. Isso faz com que novas tecnologias tenham velocidade de implantação muito baixa.
A tecnologia existe e está disponível, basta ter capital para adquirir o novo equipamento ou sistema e eles estarão na sua usina. Há usinas com a última palavra em sistema de gestão de empresas (ERP) ou com o melhor equipamento para produção, mas a diretoria tem aquela sensação de que o investimento não “funciona” direito.
Após a instalação, sempre vem aquela necessidade de adaptar o sistema ou tecnologia para buscar os resultados esperados. Voltamos, assim, ao início do ciclo do estado da arte onde reside toda a diferença: gente. Estamos vivendo hoje o apagão de mão de obra no setor sucroalcooleiro, que só será sanado a médio prazo, com muito investimento em treinamento.
Isso faz com que cheguemos à conclusão de que temos a capacidade de comprar qualquer tecnologia de ponta, mas dificilmente ela chegará à sua plenitude. Quando nosso pessoal estiver treinado e pronto, a tecnologia será outra. Começamos, então, um novo ciclo. Na Usina Paraíso Bioenergia, temos o treinamento de nosso pessoal como um dos principais pilares do nosso desenvolvimento.
Para avançar no mercado, sabemos que o melhor diferencial é a capacitação da mão de obra. Isso permitiu à Paraíso entrar no grupo seleto de usinas que já está construindo o futuro do setor. Outro ponto que não podemos deixar de considerar é o movimento da indústria para o uso do caldo de cana. Tenho claro que teremos, nos próximos anos, usinas produzindo energia elétrica, três ou quatro novos produtos derivados do caldo de cana e, como residual, açúcar e etanol.
Isso mesmo, os produtos originais da cana, que fizeram a história do setor, não serão necessariamente os atores principais do futuro desenvolvimento. A crise de 1999 levou muitas usinas a diversificarem do etanol para o açúcar. A crise de 2008 forçou todos a melhorarem seus níveis de endividamento. Estamos, há alguns anos, no momento da cogeração, que, sem dúvida, é o melhor investimento a ser feito dentro de uma usina hoje em dia.
Com esse objetivo, a Paraíso recentemente selou uma parceria com a Rhodia, um dos maiores grupos químicos do mundo. O acordo permite explorarmos a cogeração num sentido ainda mais amplo, integrando eficiência energética e melhoria de processos. Consideramos que isso é só o início.
Estamos por passar uma real revolução no setor, na qual, comparando com o setor aeronáutico, ainda estamos tentando ficar mais de sete minutos no ar, como Santos Dumont, ou, se preferirem, estamos ainda usando o computador XT. Refiro-me às novas moléculas como alternativa para melhorar o valor agregado por tonelada de cana. Tenho como opinião que estamos ainda no começo.
Essa revolução está chegando e envolverá desde o desenvolvimento genético da cana no campo até a levedura modificada na fermentação de produtos com alto valor agregado. Passaremos por planejamento de longo prazo com usinas produzindo energia e produtos 11 meses no ano, para não dizer 12 meses. Sinto ceticismo nos ouvintes toda vez que comento essa possibilidade em nosso setor.
Venho da indústria química, onde os produtos são muito mais corrosivos e complicados logisticamente e rodam 365 dias, 24 horas. Nesse sentido, tenho apoio de meus futuros parceiros, que pensam da mesma maneira. A Paraíso está finalizando três novas parcerias rumo ao futuro, que farão com que minhas palavras sejam confirmadas.
Esse passo acelerado fará com que toda a usina sempre esteja desatualizada. Alcançar o estado da arte vai ser um objetivo móvel, que sempre estará dois passos à nossa frente. Consolidando esses dois pensamentos – tecnologias novas brotando mês após mês e o treinamento de nosso pessoal para conseguir o uso pleno desta tecnologia –, entraremos numa espiral ascendente, onde nunca alcançaremos o objetivo, mas sempre estaremos melhorando. Dia após dia.