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Carlos Eduardo de Siqueira Cavalcanti

Chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES

Op-AA-25

Desafios para um crescimento sustentável

O recente período de crise que se abateu sobre o setor sucroenergético deixou um conjunto de lições tanto para o empresariado como para seus principais agentes financiadores. Embora algumas dificuldades ainda remanesçam, inclusive no que diz respeito à retomada do nível de crédito pré-crise, já é possível observar um volume de consultas relativas a novos projetos superior ao do primeiro semestre de 2009.

Particularmente, neste primeiro momento, nota-se uma predominância de novos investimentos em capacidade de cogeração de energia. Esta, certamente, é uma das derivadas imediatas da crise, uma vez que a maior estabilidade e previsibilidade dos fluxos de caixa associados à venda de energia se contrapõem às flutuações de preços tão inerentes aos mercados de açúcar e de etanol.

Boa parte do ano de 2009 foi dedicada à gestão da crise, resultando em um inédito trabalho coordenado entre BNDES e os principais bancos atuantes no setor. Pode-se dizer que esse trabalho encontra-se hoje praticamente concluído, e de forma bem sucedida. Não obstante, o BNDES manteve, em 2009, praticamente o mesmo volume de desembolsos registrados no ano anterior, na faixa de R$ 6,5 bilhões.

Dessa forma, fechou o triênio 2007-09 com um volume global de desembolsos próximo a R$ 17 bilhões para novos projetos ou expansão de capacidade produtiva, o que evidencia um dos maiores apoios setoriais na recente história do Banco. Algumas dimensões norteiam e continuarão norteando a atuação do BNDES junto ao setor sucroenergético. Elas são compostas, principalmente, pelas definições das estratégias empresariais de crescimento, pelos padrões de gestão – sobretudo financeira – e de governança e pelas boas práticas sociais e ambientais.

Ademais, o Banco tem procurado atuar de forma proativa junto ao setor no que concerne à introdução de práticas e processos inovadores, que busquem agregar valor ao produto das empresas. Uma última variável sensível para o Banco, de caráter mais  exógeno, porém estratégico para o país, diz respeito à consolidação do etanol como solução alternativa para as matrizes energéticas dos demais países e como este aspecto poderá influenciar o processo de internacionalização das empresas brasileiras.

No que diz respeito às estratégias empresariais e aos novos padrões de competitividade decorrentes do processo de consolidação, o BNDES vem acompanhando de perto os principais movimentos do setor, procurando apoiá-lo, sempre que possível,  por meio de seus instrumentos tradicionais de dívida ou de equity.

Não se tem a percepção de um modelo de consolidação vencedor, haja vista o alto grau de pulverização que ainda permeia o setor. Na mais recente onda, cabem alguns destaques para as grandes tradings agrícolas, para as empresas petroleiras e também para a Copersucar, que tem empreendido, com sucesso, um modelo de consolidação da porteira para fora.

Para o Banco, à medida que o setor cresce em competitividade e se profissionaliza, capacidade de gestão e  governança serão cada vez mais fatores-chave para o sucesso das empresas. No caso dos novos entrantes, ainda que a disciplina financeira e o maior acesso a capital signifiquem um diferencial não desprezível, as empresas terão que demonstrar competência na gestão agrícola, que se torna crítica com o aumento da escala. Esse desafio pode significar uma oportunidade de parcerias ou associações com empresas tradicionais do setor.

A política social e ambiental das empresas é outro tema caro ao BNDES. Dentro do Banco, a responsabilidade por essa agenda cabe hoje à área de Meio Ambiente, criada em 2008. Uma das metas dessa nova unidade é introduzir o uso dos chamados Guias socioambientais para os principais setores apoiados pelo Banco.

No caso do setor sucroenergético, esse guia encontra-se em fase final de validação interna e externa, devendo ser lançado no início do próximo ano. As iniciativas orientadas para a inovação podem contar com apoio do BNDES com linhas específicas reembolsáveis ou não – estas últimas no âmbito do Fundo Tecnológico - Funtec.

Além disso, o Banco está trabalhando, de forma coordenada, com outras instituições de governo, no sentido de criar mecanismos de apoio associados à pesquisa e desenvolvimento de novas rotas tecnológicas de conversão a partir da biomassa da cana. Não se descarta, neste caso, o esforço para atrair para o país centros de pesquisa avançada ou laboratórios de empresas que já elegeram a cana como a biomassa mais competitiva para a obtenção de biocombustíveis avançados, como o diesel de cana, o etanol lignocelulósico e o biobutanol.

Por fim, e ademais de todo o foco do Banco no apoio ao investimento de longo prazo, cujo maior objetivo é garantir a oferta de etanol à crescente demanda dos mercados interno e externo, vale mencionar que o BNDES relançou, em 2010, o Programa de Apoio ao Setor Sucroalcooleiro - PASS, com dotação de até R$ 2,4 bilhões, e o pressuposto de assegurar a manutenção de estoques de etanol nas safras deste e do próximo ano, colaborando para a não volatilidade de preços do produto. Acreditamos que este seja, juntamente com outros mecanismos, mais um importante instrumento que auxilie o processo de consolidação do etanol como commodity global no decorrer dos próximos anos.