Ex-Ministro da Agricultura, das Minas e Energia e da Indústria e Comércio
Op-AA-25
O consumo de alimentos, fibras vegetais e matérias-primas agrícolas deve dobrar até 2050, de acordo com estimativas da FAO. No século passado, os processos de crescimento econômico eram sempre comandados pelo mercado norte-americano, europeu e japonês. Desde o final do século XX, a geografia comercial do mundo mudou e hoje os polos dinâmicos de crescimento econômico deslocaram-se para os países emergentes, com a China liderando o processo em todas as áreas.
Na área de alimentos, celulose e, sobretudo, proteínas animal e vegetal, a nova liderança cabe ao Brasil, que também tem presença expressiva e crescente no algodão. A expectativa é que a produção agropecuária brasileira duplique e, em alguns setores, triplique nos próximos 40 anos.
Nos vários estudos realizados sobre o comportamento da demanda mundial dos produtos agropecuários, verifica-se que o maior crescimento do consumo será no açúcar, álcool, oleaginosas, carnes, lácteos e ovos. O Brasil utiliza apenas 5,4% dos seus 851 milhões de hectares para produzir 145 milhões de toneladas em culturas anuais de grãos e, dos 220 milhões de hectares de pastagens naturais e cultivadas, a pecuária só utiliza 170 milhões de hectares, e esse número tende a cair na medida em que cresce a produtividade da criação bovina.
A tendência é o aumento de integração lavoura/pecuária e o uso dos semiconfinamentos para a terminação dos animais para abate. Dispomos, hoje, de 90 milhões de hectares para novas lavouras, o dobro do que plantamos na atual safra. A agropecuária brasileira tem pela frente uma oportunidade para um novo salto de produtividade e eficiência, como assistimos na primeira década deste século. Não tenho dúvida de que esses novos mercados, que crescem mais pelo aumento de renda, nos países emergentes, do que pela demografia, vão precisar do Brasil para supri-los.
Para atender a essa nova demanda, há dois problemas que devemos superar: logística e marketing. Logística, tanto no plano interno como internacional. No plano interno, o problema não se limita apenas ao volume de recursos necessários, mas também à tradicional lentidão das obras públicas, hoje retardadas também pelo tratamento burocrático das questões ambientais.
No marketing, há que se definir a ação institucional que é tarefa do setor público, e a ação comercial, que envolve mais o setor privado, mas onde a ação do governo também é importante, na medida em que prosperam os protecionismos tarifário, sanitário e ambiental. A tarefa do setor público é abrir novos mercados e preservar os já existentes quando ameaçados por ações protecionistas nos três formatos referidos anteriormente.
Outra prioridade essencial é a necessidade de estimularmos a internacionalização das nossas empresas, de forma a levar suas operações até os mercados consumidores. Em outras palavras, é preciso aumentar a produtividade da distribuição, como fizemos com a produtividade de produção. Na produção, começando com a ampliação das áreas de “plantio na palha” e os bem--sucedidos investimentos na área de genética animal e vegetal, atingimos níveis de produtividade dos mais elevados do mundo.
Mas o que se obtém na produção é perdido na logística. Convém lembrar que o Brasil é um país “longe” dos principais mercados e, sobretudo, dos que mais crescem no Sudeste Asiático. Além disso, as nossas principais áreas de produção estão distantes dos portos. O desafio logístico, hoje, é mais complexo, o que demandará mais tempo e recurso, mas é também o que definirá a viabilidade do aumento de produção agropecuária.
Outro tema importante é o aumento do valor agregado da produção. Apesar de muitos pretenderem que o Brasil seja exportador de matérias-primas, o nosso avanço em alguns setores, como as carnes, é extraordinário. Isso implica, entretanto, a ampliação das ações de marketing, tanto institucional como comercial. As cadeias da agropecuária precisam operar em maior sintonia. Governo e setor privado precisam atuar juntos para viabilizar o aumento de agregação de valor da produção primária.
É claro que o Brasil será sempre exportador de commodities também, mas, com os atuais custos de logística e a moeda sobrevalorizada em pelo menos 20%, vamos gradualmente perder competitividade. No ponto que atingimos é essencial aumentar a exportação de proteína animal, que vale de dez a vinte vezes a proteína vegetal que lhe dá origem e, portanto, suporta custos mais elevados de logística.
Esta fase pré-eleitoral, quando se discutem temas estratégicos para o futuro da nação é um bom momento para definir os rumos do agronegócio. Queremos seguir o modelo proposto pelos concorrentes? Eles pretendem que o Brasil limite sua produção à demanda interna e se transforme numa grande floresta da Amazônia ao Chuí. É isso que queremos?